São Paulo, sexta-feira, 15 de março de 2002

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"SOLOS, DUOS E TRIOS"

Ciclo traz vigor das obras de câmara

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Iniciando a temporada de dança 2002 do Centro Cultural São Paulo, o ciclo "Solos, Duos e Trios" apresentou, nas últimas duas semanas, trabalhos de Gícia Amorim e Jorge Garcia; traz à cena, agora, Erica Bearlz e Karime Nivoloni, e Claudia de Souza e Paulo Vinícius.
Um solo: discípula de Merce Cunningham, Amorim trabalha sistemática e consistentemente com os elementos dessa linguagem. Faz gestos precisos, que cortam o espaço, e mudanças de foco indicando outras linhas de fuga. Nem por isso, deixa de acrescentar certa manemolência brasileira aos gestos do mestre.
Em "Fios de Marionete", o peso do corpo é desafiado por suas possibilidades de leveza. A luz é sua grande parceira em cena: zonas de claro e escuro ocultam e desnudam o corpo. Intérprete muito segura, Amorim escapa da mera importação, ao criar esses acentos originais para a dança.
Um trio: "Cantinho de Nóis", de Jorge Garcia, inspira-se em contos populares nordestinos e poesia sonora. A partir dos motivos "folclóricos", os bailarinos exploram um vocabulário novo, que enriquece a dança contemporânea com gestos da capoeira e das danças de rua. Seus movimentos ganham impulsos generosos, sem perder a "rudeza" das formas, sublinhada pela música.
Um duo: "3º Movimento", de Erica Bearlz e Karime Nivoloni, ótimo estudo dos gestos corporais e suas possibilidades de inter-relação. Duas mulheres em cena, um corpo sobre o outro, mal dando sobra para alterar sua relação com o espaço. Mas a gravidade é driblada pelos apoios. Há também solos, que vão ocorrendo simultaneamente no palco, criando novas linhas de contraponto.
Mais um duo: abordando um tema castigado, mas nem por isso menos relevante, a relação de um casal. Cláudia de Souza e Paulo Vinícius trabalham próximos à trilha sonora, composta por grandes sucessos populares. Mas talvez a movimentação ainda esteja presa demais à forma; e os intérpretes não encontraram seu gesto mais individual.
Uma das características da nova dança tem sido a exploração de obras de câmara, como essas. Em parte por motivos estéticos, em parte pelas contingências de produção. E, assim como no início do século 20 coube à música de câmara explorar "novos planetas" para a composição, é de se prever que a dança também possa viajar para outras terras pelas vias do pequeno. Nesse contexto, o ciclo do CCSP é uma excelente amostragem do que já se tem, e do que ainda está por vir.



Solos, Duos e Trios    
De: Gícia Amorim, Erica Bearlz e outros Quando: de quarta a sábado, às 21h, e domingos, às 20h; até 24 de março Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611) Quanto: R$ 2,50 e R$ 5


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