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"SOLOS, DUOS E TRIOS"
Ciclo traz vigor das obras de câmara
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Iniciando a temporada de
dança 2002 do Centro Cultural
São Paulo, o ciclo "Solos, Duos e
Trios" apresentou, nas últimas
duas semanas, trabalhos de Gícia
Amorim e Jorge Garcia; traz à cena, agora, Erica Bearlz e Karime
Nivoloni, e Claudia de Souza e
Paulo Vinícius.
Um solo: discípula de Merce
Cunningham, Amorim trabalha
sistemática e consistentemente
com os elementos dessa linguagem. Faz gestos precisos, que cortam o espaço, e mudanças de foco
indicando outras linhas de fuga.
Nem por isso, deixa de acrescentar certa manemolência brasileira
aos gestos do mestre.
Em "Fios de Marionete", o peso
do corpo é desafiado por suas
possibilidades de leveza. A luz é
sua grande parceira em cena: zonas de claro e escuro ocultam e
desnudam o corpo. Intérprete
muito segura, Amorim escapa da
mera importação, ao criar esses
acentos originais para a dança.
Um trio: "Cantinho de Nóis", de
Jorge Garcia, inspira-se em contos populares nordestinos e poesia sonora. A partir dos motivos
"folclóricos", os bailarinos exploram um vocabulário novo, que
enriquece a dança contemporânea com gestos da capoeira e das
danças de rua. Seus movimentos
ganham impulsos generosos, sem
perder a "rudeza" das formas, sublinhada pela música.
Um duo: "3º Movimento", de
Erica Bearlz e Karime Nivoloni,
ótimo estudo dos gestos corporais e suas possibilidades de inter-relação. Duas mulheres em cena,
um corpo sobre o outro, mal dando sobra para alterar sua relação
com o espaço. Mas a gravidade é
driblada pelos apoios. Há também solos, que vão ocorrendo simultaneamente no palco, criando
novas linhas de contraponto.
Mais um duo: abordando um
tema castigado, mas nem por isso
menos relevante, a relação de um
casal. Cláudia de Souza e Paulo
Vinícius trabalham próximos à
trilha sonora, composta por grandes sucessos populares. Mas talvez a movimentação ainda esteja
presa demais à forma; e os intérpretes não encontraram seu gesto
mais individual.
Uma das características da nova
dança tem sido a exploração de
obras de câmara, como essas. Em
parte por motivos estéticos, em
parte pelas contingências de produção. E, assim como no início do
século 20 coube à música de câmara explorar "novos planetas"
para a composição, é de se prever
que a dança também possa viajar
para outras terras pelas vias do
pequeno. Nesse contexto, o ciclo
do CCSP é uma excelente amostragem do que já se tem, e do que
ainda está por vir.
Solos, Duos e Trios
De: Gícia Amorim, Erica Bearlz e outros
Quando: de quarta a sábado, às 21h, e
domingos, às 20h; até 24 de março
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611)
Quanto: R$ 2,50 e R$ 5
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