São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2005

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SEMINÁRIO

Temática de evento internacional, que vai de hoje ao dia 17 no Sesc Vila Mariana, se espalha em celebrações pelo país

Ruptura e união da humanidade motivam debate

LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO

"No meio do caminho tinha uma pedra." A professora de filosofia política da USP Olgária Matos cita Carlos Drummond de Andrade para explicar a origem do seminário internacional "Gemas da Terra: Imaginação, Estética e Hospitalidade", realizado de hoje ao dia 17, no Sesc Vila Mariana, em parceria com a Unesco.
O evento, organizado por Matos e pela artista Denise Milan, nasceu de reflexões sobre a utilização artística da pedra azul, que se formou há 750 milhões de anos, antes da cisão dos continentes. E que hoje é encontrada no Brasil (Bahia) e na África (Zâmbia).
"A pedra azul carrega em sua memória a união e a separação", diz Milan, que trabalha há dez anos com esculturas do mineral. Por isso a pedra instigou a idealização deste encontro sobre convivência e tolerância e da arte como intérprete dessa necessidade.
"A arte não tem fronteiras. É instrumento de aproximação e possibilidade desse feito", avalia Milan. A artista aponta ainda a capacidade que a arte tem de unir diferenças. Caso deste evento. Especialistas de várias áreas -literatura, história, antropologia etc.- são palestrantes, como o ensaísta Jean Galard, Patrícia A. Johnson, diretora do Museu da Diáspora Africana (Chicago), Massimo Canevacci, da Universidade La Sapienza, em Roma, e Miguel Abensour, da Universidade Denis Diderot, de Paris.
"Assim como os continentes se separam, eles vão se reencontrar. Refletimos sobre o reencontro dos homens", diz Matos. "O tempo geológico e o tempo humano são simultâneos, e as identidades são múltiplas. Ninguém sempre foi do lugar onde está", destaca.
Exemplo desse tipo de reencontro, segundo Matos, é o caso de Kim Phuc, retratada pelo fotógrafo da Associated Press Nick Ut aos sete anos correndo nua e após ter sua casa destruída por napalm na Guerra do Vietnã. "Três décadas depois, ela foi a Washington e perdoou o responsável pelo ato."
Invocando esse ideal de união, hoje, às 12h, os índios gaviões, de Rondônia, celebrarão o mito de origem. Nesse mesmo momento, em São Paulo, no Pátio do Colégio (centro) e na igreja São Luís (av. Paulista), soarão sinos pela paz. Assim como em igrejas jesuítas de Santa Catarina, Piauí e Pernambuco, entre outros Estados.
Em Salvador, além do toque dos sinos da Catedral Basílica e das igrejas do Pelourinho, haverá uma caminhada da catedral até o Museu Abelardo Rodrigues, acompanhada por grupos de percussão. Em Belo Horizonte, o Tambolelê tocará seus tambores.
Ainda hoje, no Sesc, Milan inaugura a obra "Entes", composta por basalto e pedra azul.


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