São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Livros

Literatura japonesa tem nova onda

Sobrinha de Junichiro Tanizaki lidera geração de tradutores que provocaram boom de novas edições de nipônicos

Traduções de autores como Haruki Murakami e Yasunari Kawabata ganharam espaço depois do sucesso do épico "Musashi"

17.out.68/France Presse
Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de 1968, um dos mais traduzidos no Brasil

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento simultâneo de "Kafka à Beira-Mar" (de Haruki Murakami) e de "Contos da Palma da Mão" (do Prêmio Nobel Yasunari Kawabata) é uma prova de que a literatura japonesa passa por um momento ímpar no mercado editorial brasileiro. Nunca tantos livros foram traduzidos diretamente do japonês.
A literatura japonesa já tinha tido ondas no Brasil, mas foi o lançamento em 1999 do épico "Musashi", pela Estação Liberdade, que detonou o atual boom da literatura japonesa e provocou a formação de uma geração de tradutores que vertem diretamente do original os novos e os clássicos, algo que nunca havia acontecido antes (as traduções em geral eram feitas do inglês ou francês).
A principal responsável pelo fenômeno é Leiko Gotoda, filha de japoneses e sobrinha de Junichiro Tanizaki, autor de "Diário de um Velho Louco" e um dos grandes escritores japoneses do século 20.
Ela se dedicou nos anos 90 a traduzir para os próprios filhos o livro de Eiji Yoshikawa que apresentava em pequenas narrativas a saga de um samurai que viveu nos séculos 16 e 17. A Estação Liberdade topou o desafio, e "Musashi", lançado em dois volumes, já vendeu 120 mil exemplares, marca que pouquíssimos autores conseguem no Brasil. "Até hoje vendemos de 500 a 800 exemplares por mês", diz Angel Bojadsen, diretor da editora -que dedica metade dos seus lançamentos à literatura japonesa.

Interesse pessoal
Para Gotoda, foi um interesse puramente pessoal. "Estava com os meus filhos na fase adolescente. Achei esse livro interessante para meninos, uma história de samurai, um jeito de explicar a minha cultura", diz.
No final, o "Musashi" brasileiro tornou-se a única edição do mundo com o texto integral. A tradução americana eliminou elementos simbólicos e de inspiração filosófica para privilegiar a ação. "Além disso, no americano, foram inseridos trechos explicativos, interferindo no original", explica com horror Gotoda. Ela diz que não sabe avaliar se os autores japoneses vendem mais atualmente, "mas o número de traduções aumentou espetacularmente".
Hoje, além de Gotoda, tradutores como Jefferson José Teixeira, Meiko Shimon, Neide Hissae Nagae e Dirce Miyamura são responsáveis por boa parte da bibliografia de Kawabata e do também Prêmio Nobel Kenzaburo Oe, de Tanizaki, de Yukio Mishima, dos contemporâneos Ryu Murakami e Haruki Murakami (apesar do sobrenome, não são parentes) e de novíssimos como Genichiro Takahashi e a escritora Hitomi Kanehara. Autores inéditos no Brasil, como Natsume Soseki, chegam em breve às livrarias. É um fenômeno em ascensão e não está ligado necessariamente às comemorações do centenário da imigração japonesa.
Mesmo com a onda, faltam muitos nomes da prolífica literatura japonesa contemporânea, traduzida sobretudo na França e nos EUA. Jo Takahashi, diretor de cultura da Fundação Japão, recomenda Nagai Kafu ("retrata o mundo das gueixas de forma soberba"), que será lançado em breve.
Jefferson José Teixeira, que tem ascendência portuguesa, mas morou 11 anos no Japão, cita nomes como Yoko Ogawa e Sawako Ariyoshi. Já Gotoda destaca Edogawa Ranpo (introdutor do conto policial no Japão, cujo nome imita a pronúncia de Edgar Allan Poe).


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