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João Gilberto grava novas canções
Artista ofereceu música inédita e interpretações diferentes de "Louco" e "Insensatez" para filme de Paulo César Saraceni
Cantor é admirador de Carlos
Drummond, autor da obra
inspiradora de "O Gerente",
longa que aguarda apenas a
finalização das músicas
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O recluso João Gilberto, 78,
começa a gravar ainda neste
mês três canções para "O Gerente", filme de Paulo César Saraceni recém-finalizado. Serão
novas interpretações para
"Louco" (Wilson Batista/Henrique de Almeida) e "Insensatez" (Tom Jobim/Vinícius de
Moraes) e um tema inédito, de
autoria do cantor, um compositor bem eventual.
Essa música já começou a ser
esboçada pelo artista no apartamento em que vive no Leblon, na zona sul carioca. A canção será instrumental, possivelmente cantarolada. Apenas
ele e o violão, como nos registros de algumas de suas poucas
músicas autorais.
São ao menos 12 as canções
compostas por João Gilberto
gravadas ao longo de uma carreira que já dura 61 anos. Ele
começou em 1949, na Rádio Sociedade da Bahia. Baiano de
Juazeiro, na margem direita do
rio São Francisco, veio trabalhar no Rio no ano seguinte.
João e Saraceni, 76, são amigos desde os anos 80, quando o
cineasta filmou, em parceria
com Leon Hirszman (1937-1987), o documentário "Bahia
de Todos os Sambas".
Realizadas em 1983 em Roma, as filmagens mostram espetáculos ao ar livre em que se
apresentaram artistas da Bahia. Estiveram lá João Gilberto,
Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Zé, Moraes Moreira
e Gilberto Gil, entre outros. O
material filmado gerou o documentário, lançado em 1996, em
VHS e, depois, em DVD. Já foi
exibido pelo Canal Brasil na TV
paga, mas é artigo raro. No filme, João Gilberto canta quatro
músicas: "Estate" (Martino/
Brighetti), "Wave" (Tom Jobim), "Insensatez" e "Louco".
Surpresa
O reencontro de João e Saraceni aconteceu no ano passado.
Mesmo cético, o cineasta telefonou para o cantor e pediu autorização para usar as gravações romanas de "Insensatez" e
"Louco" em "O Gerente". Essas
interpretações jamais constaram de CDs.
"Eu queria muito o "Louco"
na interpretação do João. Combina bem com o filme", disse
Saraceni à Folha.
Na conversa telefônica, João
surpreendeu, ao propor que
fossem feitas novas gravações,
em estúdio, sem as imperfeições do ao vivo e da orquestra
que o acompanhava no concerto das termas de Caracalla.
A surpresa foi ainda maior
quando João disse que faria
uma música nova para o filme.
Saraceni não esperava -e está
esperando até hoje, porque o
filme ficou pronto, falta apenas
a inserção das três canções.
Para que João as grave, Cláudia Faissol, mãe de Luísa, filha
caçula de João, monta um estúdio em seu apartamento na zona sul, com alguns equipamentos trazidos dos EUA. Segundo
ela, ainda neste mês as gravações serão iniciadas.
"João teve simpatia pela
ideia [de gravar para o filme]. E
também quer gravar outras
coisas para ele. Até junho estará tudo pronto", previu Cláudia, diretora de um documentário sobre João Gilberto,
"Bossa Brasil", ainda inédito.
A admiração de João Gilberto pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
pode ter contribuído para que
ele decidisse participar do projeto de Saraceni. "O Gerente" é
baseado em um conto do poeta.
Foi o primeiro roteiro de Saraceni, pronto desde 1952 -logo,
inédito por 58 anos.
Em "Chega de Saudade, a
História e as Histórias da Bossa
Nova" (editora Companhia das
Letras), o autor Ruy Castro
narra o episódio em que João,
ainda um desconhecido, ao
avistar Drummond no centro
do Rio, abordou-o, chamou-o
de mestre e pediu um autógrafo, firmado em um envelope
pardo, perdido tempos depois.
Para o elenco do longa-metragem Saraceni chamou artistas com quem já trabalhara, como sua mulher, Anna Maria
Nascimento e Silva, e Ney Latorroca (em "Anchieta, José do
Brasil", de 1978).
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