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VÍDEO - LANÇAMENTOS
É ruim, mas é bom
Fãs de filmes B já podem encher de lixo o videocassete com duas fitas que chegam às locadoras em março: "A Noiva de Chucky", nova sequência de "Brinquedo Assassino'; e "O Preço da Fama", longa inédito do diretor John Waters.
JOHN WATERS
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada
Se o "brazilian way of life" anda
muito besta, esfolado por blecaute,
corrupções, violência e crise econômica, o jeito é tentar achar graça
do modo de vida dos outros, o
americano, por exemplo.
Quem conta a piada da vez sobre
os yankees é nosso velho conhecido John Waters, diretor norte-americano dado à filmografia
trash, da qual é considerado uma
espécie de papa.
Outras alcunhas empregadas a
Waters, como "barão do mau gosto" ou "príncipe do vômito", nasceram graças a obras "B" como
"Pink Flamingos" (1972), "Polyester" (1981) e "Hairspray" (1987).
John Waters sempre usou o bizarro como pretexto para azucrinar a chamada sociedade americana careta. E, no caso de "Pink Flamingos" e "Hairspray", fez isso
com seu fiel escudeiro, o histórico
travesti Divine. Depois da morte
de Divine, em 88, John Waters pegou mais leve e deixou de escandalizar com seus filmes-porqueira.
Em "Mamãe É de Morte" (1994),
a caricatura da sociedade-mãe do
politicamente correto estava lá,
mas o filme já mostrava um Waters contido, lidando com uma
produção de milhões de dólares
(US$ 13 mi), em grande estúdio.
Agora John Waters chega com
"Pecker", seu mais recente libelo
contra o politicamente correto,
lançado em vídeo no Brasil com o
nome de "O Preço da Fama". O filme vai direto às locadoras.
Estão em "O Preço da Fama" o
furacão teen Christina Ricci e Edward Furlong (de garoto de "O Exterminador do Futuro"). Ricci já
era motivo para botar o filme nas
telas grandes. O Pecker do título
original é o nome do personagem
de Furlong, rapaz que encontra entre as velharias do brechó da mãe
uma máquina fotográfica. E sai fotografando todas as pessoas que
encontra pela frente.
A trama se desenrola em Baltimore, cidade natal de John Waters.
Desnecessário dizer que Waters
não deixará pedra sobre pedra da
tradição provinciana de Baltimore,
seus costumes e tal.
As fotos de Pecker caem na mão
de uma marchand nova-iorquina,
que, com seus contatos, coloca
Pecker em exposições próprias em
galerias de Manhattan, nas capas
das revistas de arte e na MTV.
A fama e o dinheiro de Pecker,
sob a batuta de Waters, vão acabar
trazendo problemas para a vida do
garoto e das pessoas que o cercam,
incluindo sua namorada, Ricci,
que trabalha em uma lavanderia.
Um desfile de situações engraçadas, outras não, críticas ácidas aos
críticos de arte. Gozações espertas
para cima da interiorana Baltimore e da cosmopolita Nova York,
outras não. Personagens cômicos
em interpretações exageradas, que
às vezes funcionam, outras não.
É exagero dizer que John Waters
aderiu à cultura "mainstream". O
problema é que o "mainstream"
não se incomoda mais com os escrachos de Waters. Mas nem por
isso o filme deveria ter sido desprezado pelos cinemas. Um John Waters é, afinal, um John Waters.
Filme: O Preço da Fama
Título original: Pecker
Produção: EUA, 1998, 87 min
Direção: John Waters
Com: Edward Furlong e Christina Ricci
CHUCKY
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
Filmes de terror de sucesso costumam gerar continuações que
vão progressivamente perdendo
qualidade. Quando o original já é
um exemplar acabado de "trash
movie", como "Brinquedo Assassino" (1988), o quarto filme da série não inspira confiança. É aí que
"A Noiva de Chucky" surpreende.
Ninguém pode dizer que o filme
é bom. Afinal, um boneco possuído pela alma de um serial killer
executado não pode gerar uma
obra de arte. Mas, com o apelo de
sua total falta de pretensão, a série
é uma das mais divertidas do cinema norte-americano recente.
O primeiro filme, dirigido pelo
especialista Tom Holland (do ótimo "A Hora do Espanto"), tentava
ser mais assustador do que engraçado e escondia Chucky do espectador em boa parte das cenas, provocando sustos.
"Brinquedo Assassino 2" (1990)
não assustou nem divertiu. Quase
enterrou a série. Mas "Brinquedo
Assassino 3" (1991) acertou em
cheio. O roteiro deixou o boneco
mais alucinado do que nunca e
ambientou mortes cruéis numa escola militar, com ótimas piadas.
"A Noiva de Chucky", quarto
episódio da série, consegue evoluir
a fórmula. Parece um filme escrito
pela turma de "South Park" e dirigido por Beavis e Butt-Head. As
mortes são cruéis, grosseiras, algumas de embrulhar o estômago, e a
história é uma bobagem atroz.
Tiffany, a namorada de Chucky
(o serial killer) faz um ritual para
ressuscitar Chucky (o boneco). A
cena é hilariante. Parece até que a
moça comprou um kit demoníaco
pelo telefone 1406. Mas a coisa dá
certo, e o boneco fica de pé e já sai
matando.
Na sangueira habitual, sobra até
para Tiffany. A alma da coitada é
colocada numa libidinosa boneca
loira, de vestidinho de noiva e jaqueta de couro. Os dois caem na
estrada, numa trama que parece
uma mistura de "Bonnie e Clyde"
com "Thunderbirds", série de marionetes eletrônicas dos anos 60.
Talvez a principal qualidade do
filme seja o ritmo frenético. Cenas
rudes em sequências curtas funcionam como um videoclipe de
horror -comparação que fica inevitável por causa da trilha sonora,
pilotada pelo roqueiro demoníaco
Rob Zombie, de voz cavernosa e
guitarras nervosas.
E a fórmula do filme é mesmo sexo, drogas e rock and roll, já que,
além da trilha sonora pesada, o espectador encontra duas cenas bizarras: Chucky fumando maconha
e, barbaridade, o casal de bonecos
transando. É ver para crer.
"A Noiva de Chucky" é indicado
para fãs de cinema lixo, roqueiros,
tietes de "Beavis & Butt-Head" e,
principalmente, gente que leva na
esportiva um filme de um casal de
bonequinhos sanguinários.
Como diz um clichê de críticas
cinematográficas, "A Noiva de
Chucky" é, sem dúvida, um filme
para públicos especiais.
Filme: A Noiva de Chucky
Título original: Bride of Chucky
Produção: EUA, 1998, 90 min
Direção: Ronny Yu
Com: Jennifer Tilly, Brad Dourif
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