São Paulo, Segunda-feira, 15 de Março de 1999
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VÍDEO - LANÇAMENTOS
É ruim, mas é bom

Fãs de filmes B já podem encher de lixo o videocassete com duas fitas que chegam às locadoras em março: "A Noiva de Chucky", nova sequência de "Brinquedo Assassino'; e "O Preço da Fama", longa inédito do diretor John Waters.

JOHN WATERS
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Se o "brazilian way of life" anda muito besta, esfolado por blecaute, corrupções, violência e crise econômica, o jeito é tentar achar graça do modo de vida dos outros, o americano, por exemplo.
Quem conta a piada da vez sobre os yankees é nosso velho conhecido John Waters, diretor norte-americano dado à filmografia trash, da qual é considerado uma espécie de papa.
Outras alcunhas empregadas a Waters, como "barão do mau gosto" ou "príncipe do vômito", nasceram graças a obras "B" como "Pink Flamingos" (1972), "Polyester" (1981) e "Hairspray" (1987).
John Waters sempre usou o bizarro como pretexto para azucrinar a chamada sociedade americana careta. E, no caso de "Pink Flamingos" e "Hairspray", fez isso com seu fiel escudeiro, o histórico travesti Divine. Depois da morte de Divine, em 88, John Waters pegou mais leve e deixou de escandalizar com seus filmes-porqueira.
Em "Mamãe É de Morte" (1994), a caricatura da sociedade-mãe do politicamente correto estava lá, mas o filme já mostrava um Waters contido, lidando com uma produção de milhões de dólares (US$ 13 mi), em grande estúdio.
Agora John Waters chega com "Pecker", seu mais recente libelo contra o politicamente correto, lançado em vídeo no Brasil com o nome de "O Preço da Fama". O filme vai direto às locadoras.
Estão em "O Preço da Fama" o furacão teen Christina Ricci e Edward Furlong (de garoto de "O Exterminador do Futuro"). Ricci já era motivo para botar o filme nas telas grandes. O Pecker do título original é o nome do personagem de Furlong, rapaz que encontra entre as velharias do brechó da mãe uma máquina fotográfica. E sai fotografando todas as pessoas que encontra pela frente.
A trama se desenrola em Baltimore, cidade natal de John Waters. Desnecessário dizer que Waters não deixará pedra sobre pedra da tradição provinciana de Baltimore, seus costumes e tal.
As fotos de Pecker caem na mão de uma marchand nova-iorquina, que, com seus contatos, coloca Pecker em exposições próprias em galerias de Manhattan, nas capas das revistas de arte e na MTV.
A fama e o dinheiro de Pecker, sob a batuta de Waters, vão acabar trazendo problemas para a vida do garoto e das pessoas que o cercam, incluindo sua namorada, Ricci, que trabalha em uma lavanderia.
Um desfile de situações engraçadas, outras não, críticas ácidas aos críticos de arte. Gozações espertas para cima da interiorana Baltimore e da cosmopolita Nova York, outras não. Personagens cômicos em interpretações exageradas, que às vezes funcionam, outras não.
É exagero dizer que John Waters aderiu à cultura "mainstream". O problema é que o "mainstream" não se incomoda mais com os escrachos de Waters. Mas nem por isso o filme deveria ter sido desprezado pelos cinemas. Um John Waters é, afinal, um John Waters.

Filme: O Preço da Fama
Título original: Pecker
Produção: EUA, 1998, 87 min
Direção: John Waters
Com: Edward Furlong e Christina Ricci


CHUCKY

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Filmes de terror de sucesso costumam gerar continuações que vão progressivamente perdendo qualidade. Quando o original já é um exemplar acabado de "trash movie", como "Brinquedo Assassino" (1988), o quarto filme da série não inspira confiança. É aí que "A Noiva de Chucky" surpreende.
Ninguém pode dizer que o filme é bom. Afinal, um boneco possuído pela alma de um serial killer executado não pode gerar uma obra de arte. Mas, com o apelo de sua total falta de pretensão, a série é uma das mais divertidas do cinema norte-americano recente.
O primeiro filme, dirigido pelo especialista Tom Holland (do ótimo "A Hora do Espanto"), tentava ser mais assustador do que engraçado e escondia Chucky do espectador em boa parte das cenas, provocando sustos.
"Brinquedo Assassino 2" (1990) não assustou nem divertiu. Quase enterrou a série. Mas "Brinquedo Assassino 3" (1991) acertou em cheio. O roteiro deixou o boneco mais alucinado do que nunca e ambientou mortes cruéis numa escola militar, com ótimas piadas.
"A Noiva de Chucky", quarto episódio da série, consegue evoluir a fórmula. Parece um filme escrito pela turma de "South Park" e dirigido por Beavis e Butt-Head. As mortes são cruéis, grosseiras, algumas de embrulhar o estômago, e a história é uma bobagem atroz.
Tiffany, a namorada de Chucky (o serial killer) faz um ritual para ressuscitar Chucky (o boneco). A cena é hilariante. Parece até que a moça comprou um kit demoníaco pelo telefone 1406. Mas a coisa dá certo, e o boneco fica de pé e já sai matando.
Na sangueira habitual, sobra até para Tiffany. A alma da coitada é colocada numa libidinosa boneca loira, de vestidinho de noiva e jaqueta de couro. Os dois caem na estrada, numa trama que parece uma mistura de "Bonnie e Clyde" com "Thunderbirds", série de marionetes eletrônicas dos anos 60.
Talvez a principal qualidade do filme seja o ritmo frenético. Cenas rudes em sequências curtas funcionam como um videoclipe de horror -comparação que fica inevitável por causa da trilha sonora, pilotada pelo roqueiro demoníaco Rob Zombie, de voz cavernosa e guitarras nervosas.
E a fórmula do filme é mesmo sexo, drogas e rock and roll, já que, além da trilha sonora pesada, o espectador encontra duas cenas bizarras: Chucky fumando maconha e, barbaridade, o casal de bonecos transando. É ver para crer.
"A Noiva de Chucky" é indicado para fãs de cinema lixo, roqueiros, tietes de "Beavis & Butt-Head" e, principalmente, gente que leva na esportiva um filme de um casal de bonequinhos sanguinários.
Como diz um clichê de críticas cinematográficas, "A Noiva de Chucky" é, sem dúvida, um filme para públicos especiais.

Filme: A Noiva de Chucky
Título original: Bride of Chucky
Produção: EUA, 1998, 90 min
Direção: Ronny Yu
Com: Jennifer Tilly, Brad Dourif


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