São Paulo, sábado, 15 de abril de 2000


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DEBATE
Personalidades compareceram à exibição de "Notícias de uma Guerra Particular" na Sala Cinemateca
João Salles é centro de ato político

Márcio Fernandes/Folha Imagem
Fernando Gabeira (à esq.) e João Moreira Salles durante debate


especial para a Folha

Foi transformado em ato político de apoio ao cineasta carioca João Moreira Salles o debate que a Sala Cinemateca, em São Paulo, promoveu anteontem à noite após a exibição do documentário "Notícias de uma Guerra Particular" (99), dirigido por Salles em parceria com Katia Lund, sobre a ação antidroga da polícia carioca nos morros em 97.
O tema predominante do debate foi o indiciamento do cineasta Salles, na semana passada, pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio, sob a acusação de favorecer o traficante Márcio Oliveira, o Marcinho VP (foragido), com bolsa mensal em dinheiro. Salles pretendia que VP escrevesse um livro contando sua experiência com o tráfico. "Foi um gesto individual, tentando afastar alguém do crime", afirmou.
Além dos debatedores -os deputados federais Aloizio Mercadante e Fernando Gabeira, o sociólogo José de Souza Martins e o próprio cineasta-, estiveram presentes dois irmãos do diretor, Pedro e Fernando Moreira Salles. Entre o público de mais de 300 pessoas, participaram dezenas de personalidades da vida política e cultural brasileira.
Mercadante apresentou a mesa e avaliou a situação: "Os incidentes recentes, com a demissão de Luís Eduardo Soares, que denunciou a "banda podre" da polícia, acabaram conduzindo a um processo político de criminalização da atitude ingênua de Salles; não podemos aceitar um processo dessa natureza e uma campanha de difamação pública". E acrescentou: "Esta noite constitui ato politico, de desagravo contra a injustiça e a discriminação".
Muito aplaudido, João Salles declarou: ""Guerra Particular" foi tentativa minha, de Katia Lund e de Walter Salles de entender o que se passava no Rio em 97. E a situação desde lá só piorou. Naquele época, o secretário da Segurança, general Cerqueira, acreditava numa solução militar: abafar o morro, atirar e matar. Agora temos mais uma vez essa visão militaresca, e meu filme constatou que já existe o cansaço dessa guerra e que o único proveito da violência é para quem faz contrabando de armas, que movimenta muito mais dinheiro que a droga".
José de Souza Martins disse que o documentário presta serviço à sociedade e às instituições, na medida em que mostra suas amplas contradições, e nos lembra que às vezes é necessário estabelecer relação de confiança com pessoas que nos ajudem a refletir e criticar sobre problema social grave, "como foi o caso de Salles e Márcio". Gabeira sustentou que a violência no Brasil é menos problema econômico que cultural, provocado pelo desejo de inserção dos excluídos na cultura dominante. "Quanto mais rica e opulenta a sociedade, mais mergulhada na droga se encontra."
(ALVARO MACHADO)


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