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CINEMA
Estréia de Marilia Rocha venceu o É Tudo Verdade
Festival de Recife ouve o canto dos vaqueiros em documentário "Aboio"
TEREZA NOVAES
ENVIADA ESPECIAL A RECIFE
Um canto melancólico ecoava
pelo sertão do país em tempos
passados. Entoada pelos vaqueiros para "conversar" com o rebanho, a melodia é tema do documentário "Aboio", de Marilia Rocha, uma das atrações de hoje do
Cine-PE, festival que acontece em
Recife até terça-feira.
Melhor documentário brasileiro do É Tudo Verdade, encerrado
em São Paulo no último sábado,
"Aboio" é o primeiro longa da diretora de 27 anos. "Já havia sido
um prêmio ser selecionada para o
festival, ganhar foi um susto. Custei a acreditar", diz Rocha.
"Há cinco anos, descobri o
aboio e fiquei muito atraída pela
imagem do vaqueiro cantando
para o gado. Sabia que existia,
mas que não era muito fácil de
achar", conta a mineira.
O aboio lembra um lamento e é
um "instrumento" para acalmar o
rebanho, conduzir o gado até as
pastagens e orientar outros vaqueiros.
Com a domesticação total dos
animais e a modernização das técnicas de criação, o canto perdeu
sua utilidade e se tornou uma prática em extinção. Segundo Marilia, apenas os mais antigos sabem
"aboiar" e nenhum continua a
usá-lo no trato com os animais.
Apesar de ter perdido sua função original, o filme mostra como
o aboio foi absorvido pela cultura
popular. "Há uma coisa nostálgica, uma saudade. Mas o aboio se
transformou e, de alguma forma,
continua presente, sendo incorporado pela música de Naná Vasconcelos e do Cordel do Fogo Encantado", relata.
Como os vaqueiros de Guimarães Rosa, cuja sabedoria vai muito além da boiada, os entrevistados do documentário trazem a
poesia em suas falas.
"Eles têm um conhecimento e
uma sensibilidade tremenda, um
jeito especial de lidar e mostrar as
coisas. É o aprendizado através da
experiência", conta a diretora.
Dois vaqueiros, ambos baianos,
chamaram a atenção da diretora:
Ioiô Pituba, que demonstra como
identifica o que as vacas estão fazendo pelo barulho de seus chocalhos amarrados ao pescoço, e
Lêro, que é analfabeto, mas faz
versos sobre um boi fugitivo que
nunca é pego. "É o olhar do boi
pelo vaqueiro, um ponto de vista
totalmente diferente."
Além dos depoimentos, o filme,
captado em vídeo e super-8, tem
belas seqüências do sertão e muitas imagens fechadas dos animais.
"De maneira plástica, o resultado
dá a idéia da mistura de homem e
boi. Não se sabe quem é o homem
e quem é o bicho."
Para rodar o filme, a equipe viajou de carro pelo norte de Minas,
pela Bahia e por Pernambuco durante um mês, percorrendo 10 mil
km, sem pesquisa de campo prévia. "A pesquisa era o filme, uma
pessoa ia levando a outra."
Abertura
Na noite de abertura do festival,
anteontem, os 2.600 lugares do cine-teatro Guararapes estavam
ocupados por um público majoritariamente jovem. A principal
atração era "Casa de Areia", de
Andrucha Waddington.
Apresentado antes do longa, o
documentário "A Música Armorial", de Ana Paula Campos, dividiu a platéia em aplausos e vaias,
após os depoimentos de Ariano
Suassuna e de Silvério.
Menos polêmico, o documentário "Fuloresta do Samba", de
Marcelo Pinheiro, sobre a banda
que reúne músicos tradicionais
de maracatu e Siba (jovem que integra também a banda Mestre
Ambrósio), foi muito aplaudido.
A sala fica no Centro de Convenções, onde acontece, a partir
de hoje até domingo, o 13º Abril
Pro Rock. É a primeira vez que a
data dos dois eventos coincide.
A jornalista Tereza Novaes viaja a convite do Cine-PE
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