São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros CRÍTICA DRAMA Filme não ajuda a esclarecer a relação entre amor e ódio INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Para João Jardim, o visível faz problema, como demonstra seu documentário "Janela da Alma" (2001), em que as relações entre cegueira e visibilidade estavam no centro (o filme, na verdade, é codirigido por Walter Carvalho). Jardim volta a questionar o visível em "Amor?", filme que consiste na dramatização, por atores, de depoimentos colhidos sobre casos amorosos que, na maior parte das vezes, terminam em pancadaria. Pelo menos em algum momento das histórias a violência intervém. "Amor?", com a interrogação no título, sugere outra interrogação no gênero: documentário? Docudrama? O certo é que nunca vemos aquilo que os personagens narram. Por vezes alguma imagem surge, como que para permitir um respiro. Assim, há um momento em "Amor?" (há mais de um momento assim, mas fiquemos com este, apenas) em que um casal faz sexo. Só vemos projetadas imagens abstratas, que mal se deixam adivinhar como fragmentos de corpos em movimento. O som, mais explícito, é que nos informa de que se trata de um ato sexual. À parte esse momento, assistimos (ouvimos?) aos depoimentos de personagens. Eles se explicam ou procuram se explicar por um desfile de psicologismos. Não importa: nosso impulso voyeurístico é barrado. Temos diante de nós narrativas de caráter confessional, mas não podemos ter contato com elas senão por meio dos atores, especialistas em incorporar emoções alheias. Se o caráter confessional se restringe a palavra e gestos de intérpretes, nem por isso o relato das experiências desses amantes depõem a favor de nossa humanidade. A incompreensão deles dos próprios atos demonstra a incapacidade de passar do confessional ao conceitual, de organizar a relação amor/ ódio. Talvez seja uma tarefa difícil para qualquer um de nós -e o filme, com sua sintomática indagação no título, não nos ajuda muito. AMOR? DIREÇÃO João Jardim PRODUÇÃO Brasil, 2011 COM Julia Lemmertz, Eduardo Moscovis ONDE Espaço Unibanco Augusta, Frei Caneca Unibanco e circuito CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO ruim Texto Anterior: Cinema: Atores encenam depoimentos em "Amor?" Próximo Texto: Cannes terá Almodóvar e Lars Von Trier Índice | Comunicar Erros

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