São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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Palco remonta a Griffith

ROGÉRIO SGANZERLA
especial para a Folha

Fabuloso "decor"... Bonito e funcional, aberto ou fechado.
Um show de exuberância e terrível competência. Sobretudo a disposição móvel do proscênio monumental que imediatamente consegue o máximo de efeitos com recursos concentrados e definidos.
As colunas e o conjunto da estrutura remonta à famosa sequência do festim de Baltazar em "Intolerância" -certamente o maior filme do criador da linguagem cinematográfica, D.W. Griffith.
O efeito esmagador das colunas banhadas de luz vinda do alto é acentuado pela grande sacada do cenógrafo: a tela redonda.
Câmeras e editores também dão seu "show". Tudo feito no ato. Utilizando com moderação os "flous" e outros efeitos estetizantes, garantindo o ritmo com uma edição ágil, os ingleses mostram gestos em cortes em movimento, capaz de transformar o videoclipe em sétima arte.
Suas câmeras digitais circulares rolam em total liberdade. Ali há, sem dúvida, uma nova técnica e quase uma estética que o público procurará em vão nos "clipes" convencionais.
O segredo chama-se atenção e cuidado com redundância; nesse sentido, os Stones foram servidos pelo que há de melhor em termos de produção, planejamento e execução de idéias mirabolantes, transformadas em informação pura desde os primeiros instantes, quando explodem o telão e o fogo invade a cena. Esmagador.
Afinal, há que se perguntar: por que o cinema tem tela retangular? O círculo é a figura mais perfeita, permite inclinações, aumenta a definição, densifica o contínuo temporal e é capaz de provocar delírios coletivos, devido a agressiva novidade.
Afinal, não vemos tudo em círculos? A tela quadrada foi uma convenção francesa imposta pela dupla Lumière. Ainda uma vez o cinema influência tudo, sobretudo o cenógrafo e o fabuloso iluminador. Bravo!
Um detalhe: a voz brasileira é lamentável. Tudo desafinado e completamente péssimo. Chose de loque!


Rogério Sganzerla é cineasta, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha", "A Mulher de Todos", entre outros.



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