São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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Bob Dylan é discreto e sublime no palco

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Um evento badalado como o show dos Stones atrai gente que nem é tão íntima assim do rock'n'roll. Esses sujeitos não entenderam nada quando aquela figura meio gordinha subiu no palco, ou melhor, na pequena parcela de palco que sobrou, já que o resto estava coberto para não estragar o impacto visual dos Stones.
Aí o gordinho de terno preto e guitarra olhou para os outros caras da banda, e eles começaram a tocar. Meio paradões, do jeito que tocaram todas as 11 canções da noite. Mas será que foram 11? É difícil saber, todas se parecem.
Ao lado desse espectador bastante desnorteado, um outro tipo estava presente. E estava extasiado, quase em transe.
Afinal, ali no palco cantava o maior poeta da música pop. O primeiro homem a dizer coisas "sérias" para o público rock'n'roll. O compositor que influenciou os Beatles e os Rolling Stones, para citar só os mais famosos. O músico que praticamente teve a palavra "gênio" agregada ao prenome.
E para esse fã, que já ficaria contente apenas em ver Bob Dylan de perto, o melhor foi constatar que o cantor está em forma. Parece que o susto de quase morrer com problemas cardíacos no ano passado reviveu a criatividade de Dylan.
Depois do ótimo CD lançado a poucos meses, ele mostrou no palco canções de várias fases da carreira, em versões modificadas.
Da abertura, "To Be Alone With You", ao encerramento, "Forever Young", foi um desfile de folk, rock e blues, num coquetel belíssimo. Show enxuto, mas sublime.
Jam session
Para compensar o fato de ter tocado sem aparato visual nenhum, Dylan teve seu momento de glória do supertelão dos Stones. Como prometido, entrou no palco e cantou "Like a Rolling Stone" com os próprios. Dividiu os versos com Jagger e nem se preocupou com a guitarra, já que Richards e Wood estavam lá, feito escudeiros.
Com o público todo cantando junto, a troca cúmplice de sorrisos de Dylan com Jagger escancarada no telão resumiu boa parte da história do rock. Quem perdeu, azar.



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