São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Edição reproduz 75 telas produzidas pelo pintor entre 1989 e 1997 e conjuga ensaios de vários críticos
Livro delineia trajetória de Paulo Pasta

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Há dez anos, o jovem artista formado na própria década de 80 pela Universidade de São Paulo ganhava uma bolsa de estudos (bolsa Emile Eddé).
Em 89, apresentava uma exposição individual (MAC-SP) que a crítica apontou como o primeiro sinal da maturidade de um pintor.
Paulo Pasta merece agora dessa mesma crítica uma nova avaliação, com o lançamento do livro que leva seu nome.
A obra reúne apresentações de seu trabalho por alguns dos melhores exegetas brasileiros de artes plásticas contemporâneas -Alberto Tassinari, Lorenzo Mammì e Rodrigo Naves.
Há também a análise do artista Nuno Ramos e uma entrevista com Paulo Pasta, conduzida por Naves e Ramos.
A edição integra a coleção "Artistas da USP", da Edusp, e reproduz em cores 75 obras do pintor realizadas nesses últimos nove anos.
Volumes sobre (ou por) artistas brasileiros atuantes são raridade no mercado editorial, apesar da festejada quantidade de excelentes nomes.
Ao lado da nova Cosac & Naify, que tem vários títulos no prelo, a Edusp é uma das poucas editoras do país a arriscar, neste momento, produção dispendiosa para um artista vivo.
A estrutura de "Paulo Pasta" é simples: as análises do décimo título da coleção da Edusp aproximam o leitor do processo criativo do artista, tornando-o testemunha, quase interlocutor, de um questionamento pictórico descrito como sutil e ao mesmo tempo requintado, que se escora nos fundamentos da tradição, mas jamais abdica da positividade de uma luz intensa e de uma vibração que parecem lançar-se a novas frentes.
A delicada posição intermediária entre tradição (passado) e vanguarda (futuro) é esboçada pelo próprio Pasta no livro: "O que eu quero dizer é que o passado me acompanha. E eu tenho impressão de que, na minha pintura, crio um presente dilatado".
O crítico Rodrigo Naves utiliza a expressão "espessura do presente" (título de seu ensaio) para identificar tal qualidade.
Em seu conjunto, os textos do volume traçam o arco de uma trajetória que encerra alguns pontos de inflexão, mas sobretudo se delineia com transparência (ou ética) incomum.
O pintor é mostrado como o artífice obsessivo de uma iconografia cuja coerência é tamanha que parece alimentar a si mesma. Pasta chega a se angustiar com os excessos de "soberania" de sua obra, alheia a contingências:
"Isso me preocupa muito (...): o que faço interessa, tem importância? Eu me pergunto pela potência no meu trabalho. Parece que não dou um tiro para a frente, que dou um tiro para trás, mas parece que um tiro para trás também é muito importante".
Por suas características de "suspensão" -entre passado e presente, explícito e oculto, fragmentação e unidade-, a obra de Pasta é, com frequência, chamada de "metafísica" pelos colaboradores do livro.
Neste caso, a atribuição é diversa da pintura "metafísica" construída por alegorias nas imagens de De Chirico, e mesmo Morandi. Este último é uma das grandes influências do artista paulista (nascido em Ariranha), especialmente as obras em que o italiano tratou de questões internas à própria pintura, ou seja, de uma verdadeira "metafísica da pintura".
Pasta inaugura exposição em Recife, na Fundação Joaquim Nabuco, no próximo dia 23, e, ainda este ano, também mostra trabalhos em Curitiba (agosto) e Vitória (novembro). Vernissage em São Paulo, apenas em 99. Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que significa o livro para você?
Paulo Pasta -
Para mim é importante, porque não havia um catálogo com registro mais completo e consistente de meu trabalho. Os textos abordam diferentes fases: Mammì fala dos quadros da bolsa Eddé, Tassinari das telas que deram origem à exposição da Bienal de 94 e Rodrigo sobre a Bienal, mas já se referindo aos quadros atuais, que poderiam se chamar "as colunas", ou "espaços entre colunas", apesar de eu não gostar de nomes para eles. Finalmente, há o texto de Nuno sobre minha última exposição individual.
Folha - Você ensina pintura na Faculdade Santa Marcelina e desenho no Mackenzie. É uma escolha?
Pasta -
Não exatamente, mas tenho aptidão e vontade para isso. Gosto de saber do processo criativo do outro, que obriga a repensar meu próprio trabalho.
Mas não tenho didática sistematizada, como tinham De Chirico ou Iberê Camargo. Sou um interlocutor das experiências e surpresas de meus alunos, o que é muito cansativo!
Folha - Sua relação com a crítica sempre foi privilegiada...
Pasta -
As pessoas têm uma idéia estereotipada do crítico como aquele que apenas "critica". Na verdade, ele "lê" e situa uma obra, gerando diálogo tão rico como o que se tem com um colega artista plástico.
O crítico não é o predador ou o "direcionador" do trabalho, mas fornece leituras importantes para um meio em que tudo parece ainda um pouco por se fazer.


Livro: Paulo Pasta Editora: Edusp Quanto: R$ 35 (208 págs.) Lançamento: hoje, a partir das 19h, na livraria Duas Cidades (r. Bento Freitas, 158, tel. 011/220-5134, São Paulo)


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