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ARTES PLÁSTICAS
Edição reproduz 75 telas produzidas pelo pintor entre 1989 e 1997 e conjuga ensaios de vários críticos
Livro delineia trajetória de Paulo Pasta
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
Há dez anos, o jovem artista formado na própria década de 80 pela
Universidade de São Paulo ganhava uma bolsa de estudos (bolsa
Emile Eddé).
Em 89, apresentava uma exposição individual (MAC-SP) que a
crítica apontou como o primeiro
sinal da maturidade de um pintor.
Paulo Pasta merece agora dessa
mesma crítica uma nova avaliação, com o lançamento do livro
que leva seu nome.
A obra reúne apresentações de
seu trabalho por alguns dos melhores exegetas brasileiros de artes
plásticas contemporâneas -Alberto Tassinari, Lorenzo Mammì e
Rodrigo Naves.
Há também a análise do artista
Nuno Ramos e uma entrevista
com Paulo Pasta, conduzida por
Naves e Ramos.
A edição integra a coleção "Artistas da USP", da Edusp, e reproduz em cores 75 obras do pintor
realizadas nesses últimos nove
anos.
Volumes sobre (ou por) artistas
brasileiros atuantes são raridade
no mercado editorial, apesar da
festejada quantidade de excelentes
nomes.
Ao lado da nova Cosac & Naify,
que tem vários títulos no prelo, a
Edusp é uma das poucas editoras
do país a arriscar, neste momento,
produção dispendiosa para um artista vivo.
A estrutura de "Paulo Pasta" é
simples: as análises do décimo título da coleção da Edusp aproximam o leitor do processo criativo
do artista, tornando-o testemunha, quase interlocutor, de um
questionamento pictórico descrito
como sutil e ao mesmo tempo requintado, que se escora nos fundamentos da tradição, mas jamais
abdica da positividade de uma luz
intensa e de uma vibração que parecem lançar-se a novas frentes.
A delicada posição intermediária
entre tradição (passado) e vanguarda (futuro) é esboçada pelo
próprio Pasta no livro: "O que eu
quero dizer é que o passado me
acompanha. E eu tenho impressão
de que, na minha pintura, crio um
presente dilatado".
O crítico Rodrigo Naves utiliza a
expressão "espessura do presente"
(título de seu ensaio) para identificar tal qualidade.
Em seu conjunto, os textos do
volume traçam o arco de uma trajetória que encerra alguns pontos
de inflexão, mas sobretudo se delineia com transparência (ou ética)
incomum.
O pintor é mostrado como o artífice obsessivo de uma iconografia cuja coerência é tamanha que
parece alimentar a si mesma. Pasta
chega a se angustiar com os excessos de "soberania" de sua obra,
alheia a contingências:
"Isso me preocupa muito (...): o
que faço interessa, tem importância? Eu me pergunto pela potência
no meu trabalho. Parece que não
dou um tiro para a frente, que dou
um tiro para trás, mas parece que
um tiro para trás também é muito
importante".
Por suas características de "suspensão" -entre passado e presente, explícito e oculto, fragmentação e unidade-, a obra de Pasta
é, com frequência, chamada de
"metafísica" pelos colaboradores
do livro.
Neste caso, a atribuição é diversa
da pintura "metafísica" construída por alegorias nas imagens de
De Chirico, e mesmo Morandi. Este último é uma das grandes influências do artista paulista (nascido em Ariranha), especialmente
as obras em que o italiano tratou
de questões internas à própria pintura, ou seja, de uma verdadeira
"metafísica da pintura".
Pasta inaugura exposição em
Recife, na Fundação Joaquim Nabuco, no próximo dia 23, e, ainda
este ano, também mostra trabalhos em Curitiba (agosto) e Vitória
(novembro). Vernissage em São
Paulo, apenas em 99. Leia a seguir
trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O que significa o livro para você?
Paulo Pasta - Para mim é importante, porque não havia um catálogo com registro mais completo
e consistente de meu trabalho. Os
textos abordam diferentes fases:
Mammì fala dos quadros da bolsa
Eddé, Tassinari das telas que deram origem à exposição da Bienal
de 94 e Rodrigo sobre a Bienal, mas
já se referindo aos quadros atuais,
que poderiam se chamar "as colunas", ou "espaços entre colunas",
apesar de eu não gostar de nomes
para eles. Finalmente, há o texto de
Nuno sobre minha última exposição individual.
Folha - Você ensina pintura na
Faculdade Santa Marcelina e desenho no Mackenzie. É uma escolha?
Pasta - Não exatamente, mas
tenho aptidão e vontade para isso.
Gosto de saber do processo criativo do outro, que obriga a repensar
meu próprio trabalho.
Mas não tenho didática sistematizada, como tinham De Chirico
ou Iberê Camargo. Sou um interlocutor das experiências e surpresas de meus alunos, o que é muito
cansativo!
Folha - Sua relação com a crítica
sempre foi privilegiada...
Pasta - As pessoas têm uma
idéia estereotipada do crítico como aquele que apenas "critica".
Na verdade, ele "lê" e situa uma
obra, gerando diálogo tão rico como o que se tem com um colega
artista plástico.
O crítico não é o predador ou o
"direcionador" do trabalho, mas
fornece leituras importantes para
um meio em que tudo parece ainda um pouco por se fazer.
Livro: Paulo Pasta
Editora: Edusp
Quanto: R$ 35 (208 págs.)
Lançamento: hoje, a partir das 19h, na
livraria Duas Cidades (r. Bento Freitas, 158,
tel. 011/220-5134, São Paulo)
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