São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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Tributo incluirá obras eruditas e raridades

DA REPORTAGEM LOCAL

De história já longa no underground paulistano (o mesmo que viu nascer a tropicália), os músicos Loop B, 47, e Anvil FX, 35, pretendem fazer de "Experiências Tropicais - Duprat Revisitado" uma homenagem irreverente ao maestro.
"Vamos pegar a obra e brincar com ela, nem vamos tratar com o respeito que poderia ser tratada, até por termos conhecido pessoalmente o Duprat. Sentir a pessoa que ele é nos dá mais liberdade de brincar com seu trabalho", diz Loop B.
"E de tirar um sarro", emenda Anvil FX, provocativo. "Para mim Duprat, sinceramente, é uma pessoa muito importante na música brasileira. Não é como um deus, mas para mim é muito bonito o trabalho que fez, como também os que Boulez e Stockhausen fizeram. Mas ele tem um fator especial, porque é brasileiro", continua, diante de um Duprat constrangido.
"Vamos lá ver", limita-se a reagir Duprat. "Se eu não ouvir, não aplaudo."
Sob liderança de Loop B e Anvil FX, "Experiências Tropicais" reunirá no palco ainda o músico (e sobrinho de Rogério) Ruriá Duprat, a cantora pop/eletrônica baiana Rebeca Matta, o cantor Moisés Santana, os DJs Silvestre e DJ Tudo e um trio de metais.
Interferências e releituras devem se desdobrar por um repertório que inclui obras eruditas de Duprat (como "Organismo" e a sinfonia dos eletrodomésticos, aqui batizada de "Quem Tem Medo dos Eletrodomésticos?") e o relicário popular.
Desse último, devem entrar peças tropicalistas como "Panis et Circensis" (de Caetano e Gil, gravada em 68 pelos Mutantes) e "Acrilírico" (do disco de 69 de Caetano), a pós-tropicália de "Épico" (Caetano, 73) e "Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?" (Arnaldo Baptista, 74).
Arnaldo fará uma participação especial na apresentação e será o único tropicalista original a subir no palco do tributo, apesar de convites feitos também a Tom Zé e a Rita Lee.
No setor "antitropicália", a "Construção" de Chico Buarque receberá também seu ataque, assim como o tema gaúcho "Boi Barroso", gravado por Elis Regina sob orientação de Duprat.

Discografia
Em contato com Duprat e seu sobrinho Ruriá para organizar o tributo, os dois músicos conheceram parte de uma vasta discografia concebida pelo maestro e nunca mais reeditada. Versátil, Duprat fez antes da tropicália discos orquestrais de bossa nova ("Clássicos em Bossa Nova") e até um inusitado LP para a Varig, chamado "Ritmos no Ar".
A peça mais obscura do pacote, no entanto, chama-se "Nhô Look" e foi gravada em 1970. Baseada num evento que hoje se chamaria "fashion", patrocinado pela Rhodia, tinha o subtítulo "As Mais Belas Canções Sertanejas" e, no repertório, temas como "Vida Marvada", "Moda da Mula Preta" e "Beijinho Doce". Nas vozes em coro, é facilmente distinguível a de Rita Lee, então ainda uma mutante prestes a iniciar carreira solo. Era da Philips (hoje Universal) e se mantém inédita em CD, como tudo o mais. (PAS)



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