São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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crítica

Filme não capta angústia de Saramago

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Ensaio sobre a Cegueira", o filme, não consegue estabelecer o tom angustiante do extraordinário romance distópico de José Saramago, embora o roteiro mantenha fidelidade ao original. A regra se reafirma: grande literatura raramente é traduzida em grande cinema.
Há reverência demais. Quase coincidem as escaletas de seqüências do filme e do romance. Transformado o texto em ação, procura-se recuperar o essencial em alguns diálogos e na equivocada narração em off do ator Danny Glover. Entre a descrição reiterativa e a reflexão algo forçada, o comentário consome o filme.
Ao contrário de Saramago com o leitor, Meirelles não consegue transpor com o espectador o distanciamento frente à estranheza da trama: a inexplicável epidemia de uma cegueira que atira ao desespero uma cidade.
O toque mais pessoal da adaptação foi sediar a trama numa megalópole imaginária (rodada parcialmente em São Paulo) e tornar multiétnicos seus personagens, amplificando a essência universal da alegoria de Saramago. O diretor parece ter temperado seu "Ensaio..." com elementos do projeto abortado "Intolerância 2", sobre a globalização vista a partir de cinco pontos do planeta. Essa Babel sob ataque é outra boa idéia que dramaticamente não rende o esperado.

Avaliação: regular


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