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crítica
Filme não capta angústia de Saramago
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
"Ensaio sobre a Cegueira", o filme,
não consegue estabelecer o tom angustiante
do extraordinário romance
distópico de José Saramago,
embora o roteiro mantenha
fidelidade ao original. A regra se reafirma: grande literatura raramente é traduzida
em grande cinema.
Há reverência demais.
Quase coincidem as escaletas de seqüências do filme e
do romance. Transformado
o texto em ação, procura-se
recuperar o essencial em alguns diálogos e na equivocada narração em off do ator
Danny Glover. Entre a descrição reiterativa e a reflexão
algo forçada, o comentário
consome o filme.
Ao contrário de Saramago
com o leitor, Meirelles não
consegue transpor com o espectador o distanciamento
frente à estranheza da trama:
a inexplicável epidemia de
uma cegueira que atira ao desespero uma cidade.
O toque mais pessoal da
adaptação foi sediar a trama
numa megalópole imaginária (rodada parcialmente em
São Paulo) e tornar multiétnicos seus personagens, amplificando a essência universal da alegoria de Saramago.
O diretor parece ter temperado seu "Ensaio..." com elementos do projeto abortado
"Intolerância 2", sobre a globalização vista a partir de
cinco pontos do planeta. Essa Babel sob ataque é outra
boa idéia que dramaticamente não rende o esperado.
Avaliação: regular
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