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Comida
Japão quente
Pratos japoneses à base de macarrão, como o nabeyaki udon, ou de arroz, como ochazuke, são opções para o inverno
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não dá mais para contar nos
dedos quantas são as casas que
servem sushi e sashimi em São
Paulo. Por serem hors-concours na preferência dos brasileiros, até quilos e churrascarias tiram proveito de sua fama.
Tanta popularidade pode até
causar a (falsa) impressão de
que a cozinha japonesa se limita a sushis e sashimis.
Uma olhada mais atenta nos
cardápios mostra quão amplo é
o repertório. E ele inclui macarrões ensopados como o nabeyaki udon e o tempura soba,
além do dobin mushi e do ochazuke, sopas que em relação ao
sabor e aos ingredientes vão
bem além do universo do missoshiro. E já que no Brasil sopa
é sinônimo de frio...
"Alguns tipos de sopa são servidos até no café da manhã do
japonês, porque ele acredita
que a primeira refeição é a mais
importante. Aqui, não temos o
costume de tomar muita sopa e
só a consumimos no inverno",
diz Marcio Seiji Maehana, 22,
professor de cozinha asiática
do Centro Universitário Senac.
"Como são mais suaves, é difícil de a pessoa entender. Você
leva um caldo delicado e vê o
cliente colocando shoyo", comenta o chef Tsuyoshi Murakami, 37, do Kinoshita, onde
esses pratos estão longe de ser
coadjuvantes. A oferta é farta e
a escolha, difícil.
A massa
A primeira decisão diz respeito ao tipo de macarrão: soba,
somen, udon ou lamen?
O soba (pronuncia-se sobá) é
cortado como o linguini e feito
com farinha de trigo-sarraceno, o que lhe confere uma coloração castanha. Industrializado e importado, é encontrado
seco, assim como o somen -de
espessura bem fina, fabricado
com farinha de trigo.
Com formato mais grosso e
consistente que os demais, o
udon é uma massa branca, bem
clarinha, feita com farinha de
trigo. É vendido seco ou pré-cozido. Os restaurantes, em geral,
usam a massa pré-cozida.
Não é o caso do Udon Nakamura, onde ela é preparada artesanalmente por Nelson Kobayashi, 53, que segue os ensinamentos do tio, Uichi. Foi ele
quem abriu o restaurante, em
1954, próximo ao Mercado Municipal. Hoje instalado na Liberdade e tocado por Kobayashi e pela mulher dele, Fátima,
46, o Nakamura mantém a tradição. "O macarrão e o caldo
são segredos de família. Qualquer outro prato eu posso fazer,
menos o udon", diz Fátima.
De origem chinesa e adaptado ao gosto japonês, outro macarrão usado nas sopas é o lamen (lê-se lámen). Tem espessura intermediária entre o
udon e o somen e é amarelado
(leva ovos). Quando o assunto é
lamen, vale ir ao Aska, outro
restaurante da Liberdade onde
o macarrão é de fabricação própria. Contrária à divulgação (a
justificativa é a fila de espera), a
casa especializada em lamen
prepara substanciosas tigelas,
diante dos olhos dos clientes,
com caldo de frango ou de porco. Há uma infinidade de tipos,
de acordo com as combinações
de ingredientes, e ainda é possível fazer um upgrade acrescentando itens pagos à parte, como
cebolinha, carne, ovo e kamaboko (veja glossário abaixo).
Os caldos e os ingredientes
Todas as massas são servidas
com o dashi, um caldo básico da
culinária japonesa. De restaurante para restaurante, o modo
de preparo varia. No Kinoshita,
por exemplo, Murakami serve
o udon e o soba com um caldo
feito com kombu, sardinha e
shiitake secos. No Udon Nakamura, o dashi do udon é feito
com ossos, hondashi e shoyo. O
chef Adriano Kanashiro, 32, do
Kinu, usa katsuobushi, shoyo e
água. No Ásia, o chef Angelo Jodai acrescenta saquê à mistura.
Decidida qual será a massa, o
próximo passo é saber qual prato tem os ingredientes que mais
lhe agradam -os nomes variam
de acordo com a casa. No caso
do udon, os tipos mais freqüentes são o tempura (com camarão e legumes empanados) e o
nabeyaki, que pode levar kamaboko, tikua, shiitake, shimeji,
frango, lombo de porco, ovo e
cebolinha. Menos incrementado, o soba costuma vir com
tempura, ou só com cebolinha e
kombu, ou em variações com
aguê, tikua e broto de feijão.
Arroz e chá verde
Muito tradicional entre os
orientais, e menos freqüente
nos cardápios, é o ochazuke (ou
otyazuke), uma sopa na qual
um caldo à base de chá verde é
vertido sobre uma tigela de gohan. Pode ser servido com
atum fatiado, salmão grelhado
ou umeboshi. Outra sopa típica
é o dobin mushi, um caldo de
alga com pedacinhos de camarão, peixe ou frango, que é servido num bule de cerâmica. "O
ochazuke sempre se toma no final das refeições. Já o dobin
mushi é uma entrada", diz Rosa
Kohashi, 55, do Miyabi, onde as
duas sopas fazem parte do cardápio noturno. No Kinoshita,
elas podem ser pedidas ao chef.
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