São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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La Fura dels Baus revoluciona "A Flauta Mágica"

MOZART no videogame

Javier del Real/Teatro Real
Cena de "A Flauta Mágica", ópera de Mozart que foi adaptada pela companhia La Fura dels Baus no Teatro Real de Madri


DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRID

Um dos maiores clássicos da música erudita ganha versão contemporânea graças ao talento criador de La Fura dels Baus, uma das companhias teatrais mais inovadoras e polêmicas das últimas décadas. Até o próximo dia 18, a companhia de origem catalã apresenta no Teatro Real de Madri sua adaptação de "A Flauta Mágica", ópera de Mozart (1756-1791) divida em dois atos que mostra as aventuras enfrentadas pelo príncipe Tamino para salvar sua amada Pamina.
A montagem foi proposta ao grupo por Gerard Mortier, ex-diretor do Festival de Salzburg, evento que celebra no próximo ano o aniversário de 250 anos do nascimento de Mozart.
Apresentada pela primeira vez em 1791, último ano de vida do compositor, a obra recebe do grupo um tratamento cênico que funde diferentes linguagens. Para amparar a música de Mozart, o La Fura une a atuação acrobática, o figurino de cores minimalistas, o vídeo, a poesia, a cenografia mutante que inclui elementos como uma piscina de bolinhas e está estruturada em 12 grandes colchões infláveis, que incham e murcham e são manipulados por 30 atores coristas trajados de cientistas. Tudo isso para transportar a ação teatral para um espaço mental, lúdico e onírico.
"A ópera trata da busca pela liberdade. Escolhemos representá-la no cérebro, o lugar mais selvagem do corpo", argumenta o artista plástico barcelonês Jaume Plensa, 50, responsável pela parte visual do espetáculo.
A encenação também faz referência direta aos videogames. A roupa dos protagonistas, inteiramente brancas e acompanhadas por um colete protetor amarelo, foi desenhada para lhes dar aparência de personagens de um jogo eletrônico. Além disso, o trio de jovens que acompanha e dá dicas ao herói é representado por três adolescentes munidos de joysticks que movem três atores pendurados no ar. "O videogame é o que mais se parece hoje em dia com a flauta da ópera", diz o diretor do grupo, Carlos Padrissa, 46, referindo-se ao instrumento que dá poderes mágicos ao príncipe.
O grupo adiciona um importante contraponto a essa ópera recheada de valores do Iluminismo e da maçonaria, sociedade da qual faziam parte Mozart e o autor do libreto, Emanuel Schikaneder.
Os diálogos em alemão foram substituídos por textos alusivos do escritor espanhol Rafael Argullol. Já as projeções em vídeo, além de ampliarem o impacto de algumas cenas, fazem menção à segunda parte de "A Flauta Mágica", escrita por Goethe. "Mostramos imagens que são o espectro do que vai acontecer com os personagens nessa continuação insólita, em que eles não são felizes. Creio que como em "Fausto", obra que já montamos várias vezes, as pessoas devem buscar conhecer também o seu próprio lado escuro", explica Padrissa.
Mas a "Flauta" do La Fura não é um espetáculo só de aparências. A condução do jovem elenco é tarefa de uma das grandes estrelas da direção de orquestra, o francês Marc Minkowski. "A música vai à frente. Nos momentos possíveis, incluímos interferências, que são manejadas respeitando a estrutura", comenta Padrissa.
Apesar de completar quase dez anos de sua primeira incursão operística com "Atlântida", do espanhol Manuel de Falla, o grupo teve de enfrentar a desaprovação do público quando apresentou o espetáculo no início do ano na Ópera Nacional de Paris, co-produtora de "A Flauta Mágica". Padrissa acredita que a polêmica se deve, em parte, à amplitude de significados da obra e seu conseqüente efeito distinto sobre cada espectador. A montagem, porém, tem boa recepção em Madri.
A diferença de opiniões não parece ser um problema, mas o próprio objetivo do grupo. "Queremos mostrar que não existem roteiros certos. Cada um tem o próprio caminho de iniciação a percorrer", analisa Padrissa.


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