São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

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Lázaro Ramos se olha no "Espelho"

Silvia Costanti/Folha Imagem
O ator Lázaro Ramos apresentará "Espelho", no Canal Brasil


Ator estréia hoje no Canal Brasil direção de programa em torno da questão racial; "É a discussão da nossa identidade", diz

Como Foguinho, sensação da novela das 7, ele se confirma como estrela, atrai beijo de fã "macho" na rua e diz que "carinho não dá para rejeitar"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Na hora de escolher sua profissão, Lázaro Ramos não teve dúvidas de que queria ser ator. Mas temeu ser o homem certo no país errado. Afinal, "o mercado de trabalho no Brasil é restrito para a quantidade de talentos que temos. Mais restrito ainda para um ator negro".
Era 1992, e Ramos decidiu então agir como intérprete de si mesmo. "Fingi que queria fazer o curso de técnico em patologia." E fez, num colégio da capital baiana, onde nasceu, que oferecia curso livre de teatro aos alunos da formação técnica.
Na semana passada, no Rio, distante 14 anos e 1.649 quilômetros daquela decisão tomada em Salvador, Ramos protagonizou a cena que o confirma, mais do que como ator, como uma grande estrela na constelação do país. "Um cara, homem, macho, forte, chegou para mim e disse: "Tira uma foto comigo?" Na hora de tirar a foto, ele me abraçou bem forte e começou a me dar uns beijos no rosto, dizendo: "Pô, cara, eu gosto de você". Fiquei até constrangido, mas é uma reação que o personagem provoca e não dá para rejeitar, porque carinho é sempre bom."

Carente
O personagem que estendeu à audiência da TV um sucesso que Ramos já havia consolidado no teatro ("A Máquina") e no cinema (com mais de uma dezena de filmes) é Foguinho, herói à Macunaíma, para quem o ator inventou um bigode loiro, como "símbolo visual" da principal característica emocional do personagem: "Ele é carente e precisa de atenção".
Daí para as abordagens efusivas de fãs na rua foi só um passo. "Fico muito feliz por, em cada momento, ser confundido com o personagem, que é o sonho de todo ator. Em "Madame Satã", muita gente achava que eu era gay; em "O Homem que Copiava" me acharam tímido; no "Cidade Baixa" me acharam um homem viril; e, com o Foguinho, as pessoas me tratam como se eu fosse um filho que querem pôr no colo", afirma.
A partir de hoje, Ramos quer ser visto também como diretor, do programa "Espelho", em seis episódios que o Canal Brasil leva ao ar, abordando aspectos da raça negra no país.
Debates
"O diretor tem essa possibilidade a mais que o ator, de propor debates", diz Ramos. Mas o debate de "Espelhos", afirma, não diz respeito só ao seu diretor. "Esta discussão tem de ser de todo cidadão brasileiro. Negro, branco, índio, japonês. É a discussão da nossa identidade, da nossa busca pela cidadania".
Em cada programa, Ramos entremeia entrevistas com esquetes feitos pelos atores do Bando de Teatro Olodum, grupo que ele integra desde 1994. "Não me deslumbro com a minha profissão. Meu objetivo não é ser celebridade. É me comunicar com as pessoas. Se quisesse, estaria milionário, fazendo coisas que não me dissessem nada. Mas busco me manter fiel ao que o Bando de Teatro Olodum me ensinou."
Ator do Bando, Ramos foi alcançado pelo cinema na Bahia. Depois de uma ponta em "Jenipapo" (1995), de Monique Gardenberg -com quem voltou a trabalhar neste ano, no inédito "Opaió"-, ganhou um papel e um bom cachê em "Cinderela Baiana" (sim, o de Carla Perez). "Foi o que me possibilitou abandonar meu emprego, para seguir somente a carreira de ator." Veio então a montagem de "A Máquina" (João Falcão), em que Ramos dividia o palco com Wagner Moura, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão. "Vários diretores de cinema começaram a assistir a peça e a chamar a gente para testes. E a gente começou a passar nos testes", lembra. Decidido a dirigir um longa, Ramos inverterá os papéis e testará atores para um filme seu. Mas sem pressa. "Estou indo no meu tempo. Este filme virá no tempo que tiver que vir. Quando eu estiver pronto, eu o farei", diz.


ESPELHO Quando: hoje, às 20h
Onde: Canal Brasil



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