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CRÍTICA
"Dois Perdidos" dilui tensão de Plínio Marcos
DO ENVIADO A GRAMADO
O longa-metragem brasileiro exibido anteontem à
noite no Festival de Gramado,
"Dois Perdidos numa Noite Suja", é uma tentativa original -e
parcialmente frustrada- de
atualização da peça homônima de
Plínio Marcos.
O diretor José Joffily ("Quem
Matou Pixote?") optou acertadamente por ser infiel à letra do texto do dramaturgo para tentar ser
fiel ao seu espírito. A questão é saber se conseguiu isso.
No texto original, dois pobres-diabos, vivendo no limite frágil
entre o subemprego e o crime, digladiam-se num quarto de cortiço
numa grande cidade brasileira.
Duas foram as grandes mudanças introduzidas no filme: a ação
se passa em Nova York e um dos
dois perdidos agora é uma mulher, embora atenda pelo nome de
Paco (Débora Falabella) e faça as
vezes de menino para enganar
homossexuais incautos, dos quais
cobra para fazer sexo oral.
O outro "outsider" é Tonho
(Roberto Bontempo), um mineiro de Governador Valadares que
vive de ocupações temporárias
-como a de faxineiro de banheiro de restaurante- até conhecer
Paco e participar, meio a contragosto, de seus esquemas.
Eles vivem numa espécie de caverna urbana, um desvão num
prédio aparentemente abandonado. A tensão claustrofóbica da peça se dilui aqui em sucessivos
flashbacks que retraçam as relações ambíguas entre os dois, e dos
dois com a hostil e impermeável
sociedade americana.
A intenção é excelente: acrescentar ao universo de Plínio Marcos os temas atuais da desterritorialização e da globalização.
Tudo soa artificial nesse jogo, da
sexualidade andrógina de Paco à
ingenuidade de Tonho, incompatível com uma experiência de cinco anos passados na sarjeta ou na
cadeia. Mas talvez nessa artificialidade, nessas incongruências, se
possa encontrar uma estranha e
áspera poesia.
(JGC)
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