São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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CRÍTICA

"Dois Perdidos" dilui tensão de Plínio Marcos

DO ENVIADO A GRAMADO

O longa-metragem brasileiro exibido anteontem à noite no Festival de Gramado, "Dois Perdidos numa Noite Suja", é uma tentativa original -e parcialmente frustrada- de atualização da peça homônima de Plínio Marcos.
O diretor José Joffily ("Quem Matou Pixote?") optou acertadamente por ser infiel à letra do texto do dramaturgo para tentar ser fiel ao seu espírito. A questão é saber se conseguiu isso.
No texto original, dois pobres-diabos, vivendo no limite frágil entre o subemprego e o crime, digladiam-se num quarto de cortiço numa grande cidade brasileira.
Duas foram as grandes mudanças introduzidas no filme: a ação se passa em Nova York e um dos dois perdidos agora é uma mulher, embora atenda pelo nome de Paco (Débora Falabella) e faça as vezes de menino para enganar homossexuais incautos, dos quais cobra para fazer sexo oral.
O outro "outsider" é Tonho (Roberto Bontempo), um mineiro de Governador Valadares que vive de ocupações temporárias -como a de faxineiro de banheiro de restaurante- até conhecer Paco e participar, meio a contragosto, de seus esquemas.
Eles vivem numa espécie de caverna urbana, um desvão num prédio aparentemente abandonado. A tensão claustrofóbica da peça se dilui aqui em sucessivos flashbacks que retraçam as relações ambíguas entre os dois, e dos dois com a hostil e impermeável sociedade americana.
A intenção é excelente: acrescentar ao universo de Plínio Marcos os temas atuais da desterritorialização e da globalização.
Tudo soa artificial nesse jogo, da sexualidade andrógina de Paco à ingenuidade de Tonho, incompatível com uma experiência de cinco anos passados na sarjeta ou na cadeia. Mas talvez nessa artificialidade, nessas incongruências, se possa encontrar uma estranha e áspera poesia. (JGC)


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