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Montagem busca arquétipos do pai em Franz Kafka
Antônio Januzelli dirige a partir de hoje, em teatro em Pinheiros (SP), "Querido Pai", livre adaptação de texto autobiográfico do escritor tcheco
Samantha Ardito/Divulgação
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Henrique Schafer (centro), Frederico Foroni e Patrícia Ermel constroem cenas com improvisos |
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu não consegui me salvar
da sua influência", escreve Kafka a seu pai, frase que a maioria
dos filhos endossaria sem pestanejar.
Franz Kafka (1883-1924) não
finge suas angústias e alegrias
em "Carta ao Pai", páginas autobiográficas que escreveu aos
36 anos e jamais foram lidas pelo comerciante tido como autoritário que o trouxe ao mundo.
Os altos e baixos da relação
pai-filho são levados ao pé da
letra no "pensamento corporal" desequilibrado (conforme
a preparadora Patrícia Noronha) do quarteto de atores que
encena "Querido Pai", livre
adaptação da obra do autor
tcheco que entra em cartaz hoje no Viga Espaço Cênico.
"Carta ao Pai" chega com a
assinatura de Antônio Januzelli à frente daquele que vai se
alicerçando como grupo, o Arquipélago, união das "ilhas" pelas quais o professor da USP e
diretor transita em sua pesquisa contínua sobre a expressão
dramática do ator.
Não espere as convenções do
olhar psicológico sobre culpas e
ressentimentos. "Estamos falando de um filho que escreveu
para o pai no início do século 19
[mas nunca lhe mostrou a carta]. Não dá para supor como era
a relação, ficar analisando aos
olhos de hoje; isso empobreceria o texto", afirma o ator Henrique Schafer, 39, do elogiado
solo "O Porco" (2004), dirigido
por Januzelli.
"Trazemos "Carta ao Pai" pelo
valor que ela tem em si, pela
contundência dessa relação à
flor da pele", diz Schafer. A partir dessa condição humana, o
desejo é abrir as portas para um
pai mítico, um pai opressor, um
pai dos pobres; por fim desfilam os arquétipos na galeria.
Schafer, Frederico Foroni,
Eduardo Ruiz e Patrícia Ermel
constroem narrativa em que
ora aludem a depoimentos pessoais nascidos de jogos de improviso ora dão voz a Kafka, ao
pai e a outros membros da família judia (mãe e duas irmãs),
sem consolidá-los como personagens, como diz Foroni, 29,
idealizador do projeto.
À livre adaptação do livro traduzido por Modesto Carone,
Ruiz imprimiu o processo de
dramaturgização (em que o
texto ganha corpo na ação dos
atores). Inclusive, há citações a
outras obras de Kafka.
(VALMIR SANTOS)
QUERIDO PAI
Quando: ter. e qua., às 21h; até 11/10
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote
Valente, 1.323, Pinheiros, SP, tel. 0/
xx/11/3801-1843)
Quanto: R$ 20
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