São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Competição em Gramado começa com problemas

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

A competição de longas-metragens estrangeiros do 35º Festival de Gramado começou na noite de anteontem com a exibição de cópia em DVD não-autorizada para sessões públicas da produção argentina "Cocalero", de Alejandro Landes.
A advertência "FOR PRIVATE SCREENING ONLY" (exclusivamente para sessões privadas), grafada em letras maiúsculas, ocupava o canto direito da tela. Ao centro, legendas dos diálogos, em inglês. DVDs com essas características costumam ser feitos para divulgar títulos para a imprensa, distribuidores internacionais, festivais. O aviso constante na tela, que perturba a visão do filme, é tentativa de evitar a produção de cópias piratas.
Imediatamente antes da sessão, que não contou com a presença de nenhum representante do filme, a mestre de cerimônias Andrea Buzato se limitou a dizer: "A cópia [em película de 35mm, o formato da competição] não chegou. A exibição será em DVD".
Na apresentação do segundo filme da noite, o concorrente da disputa brasileira "Olho de Boi", de Hermano Penna, também houve transtornos. Minutos depois de iniciada, a projeção foi suspensa, e as luzes do Palácio dos Festivais, acesas. Andando pelo corredor, o cineasta gritou: "Mandei parar, porque a "janela" [que demarca as margens da imagem na tela] estava errada. É impossível fazer cinema no Brasil! Isso é um desrespeito com profissionais que se esforçam tanto. Vamos recomeçar o filme com a janela certa". A platéia o aplaudiu, e a sessão recomeçou do início.
Procurada pela Folha, a organização do festival decidiu comentar os problemas apenas em "nota oficial" de oito linhas. Diz que o motivo da exibição de "Cocalero" em DVD foi "um atraso no vôo do Rio de Janeiro a Porto Alegre" e que "um erro técnico prejudicou o início da exibição de "Olho de Boi'". O documentário "Cocalero" é sobre a campanha que elegeu o líder cocalero Evo Morales o primeiro presidente indígena da Bolívia. Segue Morales e outros líderes do partido MAS (Movimento ao Socialismo), desde 60 dias antes do pleito até o dia seguinte à eleição.
É um filme simpático a Morales, mas não deixa de revelar que o MAS coage, multa, prende e eventualmente tortura com o "palo santo" [submissão a picadas de formigas] os seus membros "problemáticos". O diretor Landes nasceu no Brasil, foi criado no Equador e hoje vive em Buenos Aires. "Olho de Boi" transpõe para o sertão mineiro a tragédia "Édipo Rei", de Sófocles, que aborda conflitos do desejo, da identidade e da paternidade.


A jornalista SILVANA ARANTES viaja a convite da organização do festival


Texto Anterior: João Pereira Coutinho
Próximo Texto: Poesia concreta ganha site e mostra histórica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.