São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Poesia concreta ganha site e mostra histórica

Com vídeos, áudios e documentos, evento rememora o movimento dos anos 50

Exposição, que é inaugurada hoje, traz panorama em cinco salas do Tomie Ohtake e terá programação de debates

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas. Dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural."
Assim começa o documento redigido por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos (1929-2003) que viria oficializar, em 1958, o movimento conhecido como poesia concreta -experiências poético-visuais que já vinham sendo desenvolvidas desde o começo da década.
Hoje, às vésperas dos 50 anos da publicação deste "Plano-Piloto", o Instituto Tomie Ohtake inaugura a mostra "Poesia Concreta - O Projeto Verbivocovisual", que reúne uma série de obras, documentos históricos, gravações e vídeos relativos à atuação dos dos três signatários do manifesto e também dos cariocas Ronaldo Azeredo (1937-2006) e José Lino Grünewald (1931-1999).
A proposta é reunir a história do movimento e realçar as influências que veio a exercer não apenas na poesia, mas em outras áreas. "Tentamos levantar aspectos da poesia concreta que não estão muito colocados, como a visualidade do poema fora do espaço do livro e a difusão internacional", diz João Bandeira, um dos curadores, ao lado de Cid Campos, Walter Silveira e Lenora de Barros.
As relações da palavra com a música e as artes visuais é uma das facetas exploradas pela exposição -algo que "já vinha desde o dadaísmo, mas que nos anos 50 se tornou evidente", diz Walter Silveira. Nesse capítulo, há uma curiosa e pouco conhecida conversa, gravada em Nova York, nos anos 70, entre Haroldo de Campos e o artista Hélio Oiticica (1937-1980). Nela, além de tratar de diversos "ismos", Haroldo faz uma revisão do movimento, de cujas propostas, em sentido estrito, já se manifesta distante.

Ambientes
Na mostra, ao longo de cinco ambientes, o público poderá passear por audiovisuais com traduções de autores eleitos pelo movimento, como James Joyce e Mallarmé, documentários, depoimentos e poemas -que podem ser vistos, ouvidos e tocados. Os arquivos sonoros foram na maior parte cedidos por Cid Campos, filho de Augusto, que é músico e dono de um estudio de gravação.
"Os poetas e vários artistas ligados ao movimento passaram por lá", conta.
Além das projeções e áudios, no saguão do instituto, alguns poemas experimentais são exibidos em grande escala, em formato tridimensional. "É importante frisar que eles já foram concebidos assim, como objetos. O que estamos fazendo aqui é às vezes agigantar sua escala e ajustá-los à nova tecnologia. Não se trata uma "releitura", no sentido ruim da palavra", explica Bandeira.
Se a exposição termina no dia 16/9 (segue para Belo Horizonte em outubro), o projeto gera ainda frutos de duração mais longa. A partir de hoje entra no ar um site de referência (www.poesiaconcreta.com.br) para pesquisadores e demais interessados, reunindo documentação, material em áudio e textos para consulta. De 12 a 15/9, um ciclo de debates com 16 participantes acontece no próprio instituto.


POESIA CONCRETA - O PROJETO VERBIVOCOVISUAL
Quando:
abertura hoje, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 16/9
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, tel. 0/xx/11/2245-1900)
Quanto: entrada franca


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