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Crítica
"Dançando no Escuro" sonda o que ainda há a ver
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que existe ainda para ver?
Essa é a pergunta que se faz
Björk em "Dançando no Escuro" (TC Cult, 17h30), talvez
a obra-prima de Lars von Trier.
Porque é de um mundo onde
já se viu tudo que a personagem fala, onde o novo se tornou
cada vez mais raro, e o falso novo, cada vez mais freqüente.
Será que a visão é mesmo tão
urgente? Mas ela deseja que o
filho veja. É a ele que quer
transmitir a visão, como se fosse preciso não desesperar do
mundo. Desse mundo de melodrama, que é o evocado aqui.
Björk faz uma heroína recém-chegada dos filmes de
D.W. Griffith, de pureza incomparável. Mas o mundo de
Griffith ainda comportava heroínas nesses moldes. A de
"Dançando..." é um deslocamento, uma aberração.
Von Trier também fez com a
cantora aquilo que, há uns 80
anos, Carl Theodor Dreyer, outro nórdico, fez com Falconetti
em "A Paixão de Joana D'Arc":
torturou-a, quase. Björk não
quer mais ouvir falar de cinema. Mas sua interpretação é
inesquecível.
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