São Paulo, sábado, 15 de agosto de 2009

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Crítica/"As Pontes de Madison"

Adaptação encontra seu próprio caminho

Apesar de desfecho conhecido do best-seller, versão teatral consegue emocionar

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro e o cinema disputaram no século 20 a primazia de produzir ficções dramáticas verossímeis.
O espetáculo "As Pontes de Madison" enfrenta o desafio de contar de novo uma história já consagrada no cinema. Mais do que isso, o inicialmente romance de Robert James Waller tornou-se, com o sucesso do filme de Clint Eastwood, um dos maiores best-sellers de todos os tempos.
Alexandre Tenório, tradutor e adaptador do livro para essa versão teatral, tinha não só que alcançar a mesma ilusão propiciada pelo cinema, como partia de uma história já bem conhecida. A seu favor, o fato de a arte do dramaturgo depender muito mais da forma da trama do que da originalidade do material tecido, o que se comprova nesta adaptação que, a despeito dos antecedentes, consegue encontrar seu próprio caminho.
O caso de amor do fotógrafo errante e da dona de casa interiorana se apresenta de forma clara e compassada. Os quatro atores transitam por vários ambientes cenográficos com a calma de quem não tem pressa em conquistar a cumplicidade do público. Dois tempos distintos -um, em que os filhos descobrem o namoro secreto da mãe depois de morta, e o outro, em que transcorre a ação do idílio amoroso- convivem simultaneamente desde o início, e logo essa convenção é assimilada.
A encenadora Regina Galdino revela domínio do jogo naturalista, ao mesmo tempo em que engendra soluções interessantes para fazer a narrativa fluir sem sobressaltos. Assim, por exemplo, um dos ambientes criados pelo cenário é quase uma tela ampliada, que tanto funciona como realce de fundo às cenas de interior pelas cores oscilantes, como opera enquanto transparência e revela ações externas. Nada parece gratuito, ainda que o roteiro de cenas demande ações em muitos lugares distintos, inclusive nas famosas pontes de Madison, e que nem sempre as alternativas de contextualização espacial sejam convincentes.

Missa
Em tais circunstâncias, a pressuposta suspensão da descrença dos espectadores, imprescindível no naturalismo, depende fortemente do desempenho dos atores. Serão eles que garantirão ou não o mergulho da assistência na história pela identificação com os personagens. Marcos Caruso, como o fotógrafo Robert, e Jussara Freire, como a dona de casa Francesca, confirmam-se como atores tarimbados e capazes de construir uma interpretação delicada, com variados matizes, para dar conta da rápida evolução dos sentimentos nos quatro dias em que se dá seu encontro. Luciene Adami e Paulo Coronato, como os filhos, não chegam a destoar do conjunto, mas ficam aquém dos protagonistas.
"As Pontes de Madison", no teatro, se assemelha a uma missa em que os presentes já conhecem o desfecho, mas não deixam de se emocionar.


AS PONTES DE MADISON
Quando: sex. às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 13/9
Onde: teatro Renaissance (al. Santos, 2.233, tel.: 0/xx/11/2122-4241)
Quanto: de R$ 70 a R$ 80
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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