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Crítica/"As Pontes de Madison"
Adaptação encontra seu próprio caminho
Apesar de desfecho conhecido do best-seller, versão teatral consegue emocionar
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro e o cinema disputaram no século 20 a
primazia de produzir
ficções dramáticas verossímeis.
O espetáculo "As Pontes de
Madison" enfrenta o desafio de
contar de novo uma história já
consagrada no cinema. Mais do
que isso, o inicialmente romance de Robert James Waller tornou-se, com o sucesso do filme
de Clint Eastwood, um dos
maiores best-sellers de todos
os tempos.
Alexandre Tenório, tradutor
e adaptador do livro para essa
versão teatral, tinha não só que
alcançar a mesma ilusão propiciada pelo cinema, como partia
de uma história já bem conhecida. A seu favor, o fato de a arte
do dramaturgo depender muito mais da forma da trama do
que da originalidade do material tecido, o que se comprova
nesta adaptação que, a despeito
dos antecedentes, consegue encontrar seu próprio caminho.
O caso de amor do fotógrafo
errante e da dona de casa interiorana se apresenta de forma
clara e compassada. Os quatro
atores transitam por vários ambientes cenográficos com a calma de quem não tem pressa em
conquistar a cumplicidade do
público. Dois tempos distintos
-um, em que os filhos descobrem o namoro secreto da mãe
depois de morta, e o outro, em
que transcorre a ação do idílio
amoroso- convivem simultaneamente desde o início, e logo
essa convenção é assimilada.
A encenadora Regina Galdino revela domínio do jogo naturalista, ao mesmo tempo em
que engendra soluções interessantes para fazer a narrativa
fluir sem sobressaltos. Assim,
por exemplo, um dos ambientes criados pelo cenário é quase
uma tela ampliada, que tanto
funciona como realce de fundo
às cenas de interior pelas cores
oscilantes, como opera enquanto transparência e revela
ações externas. Nada parece
gratuito, ainda que o roteiro de
cenas demande ações em muitos lugares distintos, inclusive
nas famosas pontes de Madison, e que nem sempre as alternativas de contextualização espacial sejam convincentes.
Missa
Em tais circunstâncias, a
pressuposta suspensão da descrença dos espectadores, imprescindível no naturalismo,
depende fortemente do desempenho dos atores. Serão eles
que garantirão ou não o mergulho da assistência na história
pela identificação com os personagens. Marcos Caruso, como o fotógrafo Robert, e Jussara Freire, como a dona de casa
Francesca, confirmam-se como atores tarimbados e capazes de construir uma interpretação delicada, com variados
matizes, para dar conta da rápida evolução dos sentimentos
nos quatro dias em que se dá
seu encontro. Luciene Adami e
Paulo Coronato, como os filhos, não chegam a destoar do
conjunto, mas ficam aquém dos
protagonistas.
"As Pontes de Madison", no
teatro, se assemelha a uma missa em que os presentes já conhecem o desfecho, mas não
deixam de se emocionar.
AS PONTES DE MADISON
Quando: sex. às 21h30, sáb., às 21h,
dom., às 19h; até 13/9
Onde: teatro Renaissance (al. Santos,
2.233, tel.: 0/xx/11/2122-4241)
Quanto: de R$ 70 a R$ 80
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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