|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cia. Fraternal lê um jovem Domingos Oliveira
"A História de Muitos Amores", escrita do início da década de 60, é levada aos palcos de São Paulo sob a direção de Ednaldo Freire
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A máquina do tempo foi inventada. Fiquei assustadíssimo
-não dormi à noite." Não, Domingos Oliveira não conheceu
uma inaudita tecnologia tampouco leu um livro de ficção
científica. O seu espanto se deve à encenação do seu texto de
juventude "A História de Muitos Amores", em cartaz neste
fim de semana em São Paulo
com a Fraternal Companhia de
Artes e Malas-Artes.
A peça foi escrita por um jovem Oliveira de 25 anos, em
1962, e encenada uma única
vez, sob sua direção, em 1964,
às vésperas da ditadura militar,
no Rio de Janeiro. "Foi um fracasso, perdi dinheiro pra caramba", lembra o autor.
Passaram-se então 45 anos e
Oliveira nunca mais tinha lido
ou muito menos visto a peça.
Ao assistir à pré-estreia para
imprensa e convidados na segunda-feira, foi como "ver a si
mesmo jovem". E o que mudou
nesse jovem? Oliveira responde na lata: "Nada".
"Minha ligação com a transcendência, o amor e a amizade
apareceram juntos, isso sou eu
ainda", afirma.
Circo do Amor
Um decadente circo é o cenário da peça, ou seu "espaço poético", como prefere Ednaldo
Freire, o diretor. A trama se desenvolve ao redor da chegada
de Ângela (Mirtes Nogueira) ao
picadeiro e da corrente de ciúmes e amores que ela provoca.
"É uma corda bamba entre a
farsa, a nostalgia e a tragédia",
resume Freire. A combinação
desses gêneros é que afinal
atraiu a Cia. Fraternal, "por trabalhar uma estética de cultura
popular que a gente já vinha desenvolvendo há algum tempo".
Desde 1993, o grupo trabalha
o projeto Comédia Popular
Brasileira centrado na dramaturgia de Luís Alberto de
Abreu. Ao se lançar o desafio de
encenar um texto pronto, de
um outro dramaturgo, a Fraternal não só expandiu seu repertório e "aprofundou sua
pesquisa cênica", como diz
Freire, mas também "devolveu
a juventude a Domingos Oliveira". Mas não que este de fato a
tenha perdido. "A cabeça do artista é a mesma, sou um jovem
de 72 anos", diz Oliveira.
A HISTÓRIA DE MUITOS
AMORES
Quando: de quinta a sábado, às 20h,
domingo, às 19h; até 29/11
Onde: teatro do Sesi (av. Paulista,
1313, tel. 0/xx/11/3284-9787)
Quanto: gratuito (quinta e sexta);
R$10 (sábado e domingo)
Classificação: 14 anos
Texto Anterior: Crítica/"As Pontes de Madison": Adaptação encontra seu próprio caminho Próximo Texto: Crítica/erudito: Experimentalismo é trunfo de Almeida Prado em obra Índice
|