São Paulo, sábado, 15 de agosto de 2009

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Cia. Fraternal lê um jovem Domingos Oliveira

"A História de Muitos Amores", escrita do início da década de 60, é levada aos palcos de São Paulo sob a direção de Ednaldo Freire

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"A máquina do tempo foi inventada. Fiquei assustadíssimo -não dormi à noite." Não, Domingos Oliveira não conheceu uma inaudita tecnologia tampouco leu um livro de ficção científica. O seu espanto se deve à encenação do seu texto de juventude "A História de Muitos Amores", em cartaz neste fim de semana em São Paulo com a Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes.
A peça foi escrita por um jovem Oliveira de 25 anos, em 1962, e encenada uma única vez, sob sua direção, em 1964, às vésperas da ditadura militar, no Rio de Janeiro. "Foi um fracasso, perdi dinheiro pra caramba", lembra o autor. Passaram-se então 45 anos e Oliveira nunca mais tinha lido ou muito menos visto a peça.
Ao assistir à pré-estreia para imprensa e convidados na segunda-feira, foi como "ver a si mesmo jovem". E o que mudou nesse jovem? Oliveira responde na lata: "Nada". "Minha ligação com a transcendência, o amor e a amizade apareceram juntos, isso sou eu ainda", afirma.

Circo do Amor
Um decadente circo é o cenário da peça, ou seu "espaço poético", como prefere Ednaldo Freire, o diretor. A trama se desenvolve ao redor da chegada de Ângela (Mirtes Nogueira) ao picadeiro e da corrente de ciúmes e amores que ela provoca.
"É uma corda bamba entre a farsa, a nostalgia e a tragédia", resume Freire. A combinação desses gêneros é que afinal atraiu a Cia. Fraternal, "por trabalhar uma estética de cultura popular que a gente já vinha desenvolvendo há algum tempo".
Desde 1993, o grupo trabalha o projeto Comédia Popular Brasileira centrado na dramaturgia de Luís Alberto de Abreu. Ao se lançar o desafio de encenar um texto pronto, de um outro dramaturgo, a Fraternal não só expandiu seu repertório e "aprofundou sua pesquisa cênica", como diz Freire, mas também "devolveu a juventude a Domingos Oliveira". Mas não que este de fato a tenha perdido. "A cabeça do artista é a mesma, sou um jovem de 72 anos", diz Oliveira.


A HISTÓRIA DE MUITOS AMORES
Quando: de quinta a sábado, às 20h, domingo, às 19h; até 29/11
Onde: teatro do Sesi (av. Paulista, 1313, tel. 0/xx/11/3284-9787)
Quanto: gratuito (quinta e sexta); R$10 (sábado e domingo)
Classificação: 14 anos




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