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Pausa para o grito
Volume de comerciais chega a aumentar 4 vezes em relação à programação, contrariando lei; Ministério Público apura irregularidades
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
O escritor e jornalista Ale
Rocha, 33, já fez um livro sobre seu hábito de assistir a televisão. No entanto, foi apenas devido ao filho, João Vitor, 4, que percebeu como os
intervalos comerciais são
mais barulhentos do que a
programação normal.
"Meu filho [quando tinha
um ano de idade] dormia no
meu colo quando eu via TV e
sempre resmungava na hora
dos comerciais. Agora uso fone de ouvido para não incomodá-lo mais."
A variação de volume entre a programação da emissora e os intervalos comerciais
é contra a lei federal 10.222 de
maio de 2001.
De acordo com ela, "os serviços de radiodifusão sonora
e de sons e imagens padronizarão seus sinais de áudio,
de modo a que não haja, no
momento da recepção, elevação injustificável de volume
nos intervalos comerciais".
A punição prevista aos canais infratores é a suspensão
das transmissões pelo prazo
de 30 dias -90 dias em caso
de reincidência.
Como a percepção sonora
varia de pessoa para pessoa,
a Folha pediu ao perito judicial José Gonzalez que medisse a variação de volume em
26 canais para verificar se há
diferenças entre o volume
das atrações e o das propagandas veiculadas.
Os dados coletados pelo
perito (leia na pág. E4) demonstram que quase todos
os canais variam. Alguns em
até 6dB, um aumento de quase quatro vezes no volume.
Pela medição de Gonzalez,
as TVs pagas apresentam a
maior variação, principalmente nos canais infantis. Na
TV Rá Tim Bum e no Cartoon
Network, há variação de 5dB.
LIMITES
Entre as TVs abertas a variação é a menor: apenas
1dB. A única que não apresenta essa diferença, segundo o perito, é a Rede TV!
De acordo com o engenheiro Mitsuo Yoshimoto, do
laboratório de conforto ambiental do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas), a
variação de 1dB é tecnicamente pequena.
No entanto, 1dB pode ser o
limiar entre o bom e o mau
humor, principalmente em
São Paulo, em que o barulho
do trânsito ultrapassa os
55dB, limite de ruído definido pela lei do Psiu durante a
noite em áreas mistas (comercial e residencial).
Para poder ouvir seu programa favorito sem essa interferência, em geral o telespectador aumenta o volume
da TV alguns decibéis acima
do ruído do tráfego.
Some-se a isso mais 1dB do
comercial e lá estará o pequeno João Vitor resmungando
enquanto o pai perde o retorno do programa, pois tira o
fone e não percebe que o comercial acabou.
Já o economista Caio César
Falconi Pires, 29, mora na av.
Brigadeiro Luís Antônio (região central de SP) e diz que
esse aumento de volume é
até engraçado.
"De repente, a sala parece
um mercado de peixe. Um
grita da cozinha, outro responde da sala. Quando alguém nota, pergunta: "Quem
deixou a TV nesse volume?'"
Formada em marketing, a
blogueira Bianca Muller, 25,
diz que já pegou raiva de certas marcas pelo abuso. "Se o
comercial é interessante, você presta atenção independentemente do volume."
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