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MÚSICA
Compositor mineiro lança seu novo disco em apresentações, hoje e amanhã, no Centro Cultural São Paulo
Zé Geraldo volta com "um pé no mato"
SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada
A voz rouca e suja se eleva e, com
um envolvimento simplório e sincero, revela os versos engajados e
crus que somente ele tem, hoje em
dia, na MPB, o despudor de revelar: "elite estúpida e senil que empresta amparo legal para todo o
mal do Brasil". E por aí vai...
Este é Zé Geraldo, o músico mineiro que não toca nas rádios, gravou mais de dez discos sem divulgação na mídia, fez carreira cantando e viajando de violão em punho pelos interiores do Brasil.
Parece romântico? E é. Sua trajetória marginal dentro da música
popular brasileira se revela na temática de seu repertório, que
questiona a sociedade moderna e
seus vícios, o amor enfrentando
diferenças de classes e a beleza da
vida bucólica contra os malefícios
da urbanidade.
No seu 12º disco, que lança hoje
e amanhã no Centro Cultural São
Paulo, Zé Geraldo reafirma seus
princípios. "Perdi a vergonha,
hoje falo tudo cada vez mais claro,
esse trabalho é a celebração da minha liberdade", disse o cantor,
em entrevista à Folha.
Liberdade que ele expressa depois de superar o incômodo de
não ser notado pela mídia. "Até
pouco tempo atrás, me angustiava
com o desinteresse de rádios e gravadoras pelo meu trabalho."
Hoje, ele acredita estar mais
tranquilo nesse ponto. "Sei que
tenho um público fiel, que vai e lota meus shows, mas tive de andar e
lutar muito para conquistá-lo."
"No Meio da Área" abre com
um elogio à vagabundagem. "Zé e
José" conta a história de dois amigos que crescem felizes e ingênuos
até terem de começar a trabalhar.
Um deles, José, ambicioso, progride e vira um político corrupto
que "se perdeu na escuridão". O
outro, Zé, tocador de violão, larga
o emprego e sai cantando e embalando multidões. Um quê de autobiográfico. "Minha música tem
um pé no mato e outro no rock das
cidades", conclui.
O álbum tem também a participação de Renato Teixeira na faixa
"Demasiadamente Urbano", outro ataque à rotina nas cidades:
"vou pra repartição/repartir a vida/na contramão de tudo".
"Uma Balada para Gija", parente próxima de "O Dia em que a
Terra Parou", de Raul Seixas
("garotos saíram às ruas/gritando
as manchetes/a incerteza acabou"), foi questionada pela censura na primeira vez em que Zé
Geraldo quis lançá-la, há 22 anos.
"Foi um absurdo, não há nada de
político nela, era uma homenagem a minha filha, que acabava de
nascer."
O maniqueísmo envolvendo
campo (o bem) e cidade (o mal),
outro tema recorrente, aparece em
"Meninos", em que Zé Geraldo
fala das benesses da vida rural, no
estilo minha-terra-tem-palmeiras-onde-canta-o-sabiá (vou pro
campo/no campo tem flores/as
flores têm mel/e mais de noitinha/estrelas no céu).
Disco: No Meio da Área
Artista: Zé Geraldo
Lançamento: Paradoxx
Preço: R$ 18 (o CD, em média)
Show: No Meio da Área
Quando: hoje, às 19h30, e amanhã, às
18h30
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quanto: R$ 12
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