São Paulo, sábado, 15 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
Compositor mineiro lança seu novo disco em apresentações, hoje e amanhã, no Centro Cultural São Paulo
Zé Geraldo volta com "um pé no mato"

SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada

A voz rouca e suja se eleva e, com um envolvimento simplório e sincero, revela os versos engajados e crus que somente ele tem, hoje em dia, na MPB, o despudor de revelar: "elite estúpida e senil que empresta amparo legal para todo o mal do Brasil". E por aí vai...
Este é Zé Geraldo, o músico mineiro que não toca nas rádios, gravou mais de dez discos sem divulgação na mídia, fez carreira cantando e viajando de violão em punho pelos interiores do Brasil.
Parece romântico? E é. Sua trajetória marginal dentro da música popular brasileira se revela na temática de seu repertório, que questiona a sociedade moderna e seus vícios, o amor enfrentando diferenças de classes e a beleza da vida bucólica contra os malefícios da urbanidade.
No seu 12º disco, que lança hoje e amanhã no Centro Cultural São Paulo, Zé Geraldo reafirma seus princípios. "Perdi a vergonha, hoje falo tudo cada vez mais claro, esse trabalho é a celebração da minha liberdade", disse o cantor, em entrevista à Folha.
Liberdade que ele expressa depois de superar o incômodo de não ser notado pela mídia. "Até pouco tempo atrás, me angustiava com o desinteresse de rádios e gravadoras pelo meu trabalho."
Hoje, ele acredita estar mais tranquilo nesse ponto. "Sei que tenho um público fiel, que vai e lota meus shows, mas tive de andar e lutar muito para conquistá-lo."
"No Meio da Área" abre com um elogio à vagabundagem. "Zé e José" conta a história de dois amigos que crescem felizes e ingênuos até terem de começar a trabalhar.
Um deles, José, ambicioso, progride e vira um político corrupto que "se perdeu na escuridão". O outro, Zé, tocador de violão, larga o emprego e sai cantando e embalando multidões. Um quê de autobiográfico. "Minha música tem um pé no mato e outro no rock das cidades", conclui.
O álbum tem também a participação de Renato Teixeira na faixa "Demasiadamente Urbano", outro ataque à rotina nas cidades: "vou pra repartição/repartir a vida/na contramão de tudo".
"Uma Balada para Gija", parente próxima de "O Dia em que a Terra Parou", de Raul Seixas ("garotos saíram às ruas/gritando as manchetes/a incerteza acabou"), foi questionada pela censura na primeira vez em que Zé Geraldo quis lançá-la, há 22 anos. "Foi um absurdo, não há nada de político nela, era uma homenagem a minha filha, que acabava de nascer."
O maniqueísmo envolvendo campo (o bem) e cidade (o mal), outro tema recorrente, aparece em "Meninos", em que Zé Geraldo fala das benesses da vida rural, no estilo minha-terra-tem-palmeiras-onde-canta-o-sabiá (vou pro campo/no campo tem flores/as flores têm mel/e mais de noitinha/estrelas no céu).


Disco: No Meio da Área
Artista: Zé Geraldo
Lançamento: Paradoxx
Preço: R$ 18 (o CD, em média)


Show: No Meio da Área
Quando: hoje, às 19h30, e amanhã, às 18h30 Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quanto: R$ 12



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.