São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIAS
"OS CINCO SENTIDOS"
Podeswa reencena a incomunicabilidade em filme

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

N ão se pode acusar o cineasta canadense Jeremy Podeswa de pesar a mão ao estruturar seu segundo longa-metragem em torno dos cinco sentidos. Ele o faz à moda Greenaway, mas com maior sutileza.
Outra dívida óbvia é para com as narrativas em mosaico de Robert Altman, como em "Nashville" e "Short Cuts".
Nem assim "Os Cinco Sentidos" justifica a longa lista de prêmios que acumulou no Canadá no ano passado, incluindo o de melhor produção nacional no Festival de Toronto e o de melhor diretor no Genie, o Oscar local.
Tudo gira em torno de um edifício defronte a um parque numa Toronto outonal. Uma série de pequenos dramas entrelaçam-se, com pequeno destaque para o desaparecimento misterioso de uma menina.
Sua jovem acompanhante (Nadia Litz) distraiu-se frente a uma cena de sexo entre arbustos. A mãe (Gabriella Rose) da irresponsável é uma solitária massagista (um, tato).
Seu vizinho (Philippe Volter) é um divorciado oculista (dois, visão) que descobre estar ficando surdo (três, audição).
Disposto a montar uma "biblioteca de sons" em sua cabeça, contrata uma compreensiva prostituta com quem divide a noite a ouvir música.
Noutro andar mora uma insegura confeiteira (Mary-Louise Parker, de "Big") que faz bolos lindos, mas intragáveis (quatro, paladar).
Numa viagem, enamora-se de um mestre-cuca italiano (Marco Leonardi, de "Como Água para Chocolate"), que, ao visitá-la, a perturba com a própria felicidade.
Resta a ela o ombro de um amigo bissexual (Daniel MacIvor), que reencontra, um a um, seus antigos casos, visando sentir "o cheiro do amor" (quinto, o olfato).

Alienação
Estamos diante de outra fábula contemporânea sobre a alienação e a incomunicabilidade.
Sim, o extraordinário elenco aproveita seus poucos minutos para tentar insuflar vida a tipos por demais conhecidos.
Sim, Podeswa extrai de Toronto uma estranheza que a torna um cenário de rara dramaticidade.
Sim, sabe-se logo aonde tudo vai chegar e o caminho até lá é parco em novidades.
"Cinco Sentidos" vive, assim, de cenas.
Volter dissimula ao telefone a própria voz para ouvir por segundos a voz de sua filha.
MacIvor encontra num perfume a reprodução perfeita daquele que considerava o aroma puro e exclusivo do amor.
Parker prova um de seus bolos e o joga fora.
Rose estica a mão para aproximar-se de sua filha enfim aliviada.
Somadas, são menos que um bom filme. Isoladas, restam na memória.


Os Cinco Sentidos
The Five Senses
   Direção: Jeremy Podeswa Produção: Canadá, 1999 Com: Mary-Louise Parker, Philippe Volter, Gabrielle Rose, Nadia Litz e Molly Parker Quando: a partir de hoje nos cines Lumière, Jardim Sul e Cinearte




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