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CINEMA/ESTRÉIAS
"OS CINCO SENTIDOS"
Podeswa reencena a incomunicabilidade em filme
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
N ão se pode acusar o cineasta canadense Jeremy Podeswa de pesar a mão ao estruturar
seu segundo longa-metragem em
torno dos cinco sentidos. Ele o faz
à moda Greenaway, mas com
maior sutileza.
Outra dívida óbvia é para com
as narrativas em mosaico de Robert Altman, como em "Nashville" e "Short Cuts".
Nem assim "Os Cinco Sentidos"
justifica a longa lista de prêmios
que acumulou no Canadá no ano
passado, incluindo o de melhor
produção nacional no Festival de
Toronto e o de melhor diretor no
Genie, o Oscar local.
Tudo gira em torno de um edifício defronte a um parque numa
Toronto outonal. Uma série de
pequenos dramas entrelaçam-se,
com pequeno destaque para o desaparecimento misterioso de uma
menina.
Sua jovem acompanhante (Nadia Litz) distraiu-se frente a uma
cena de sexo entre arbustos. A
mãe (Gabriella Rose) da irresponsável é uma solitária massagista
(um, tato).
Seu vizinho (Philippe Volter) é
um divorciado oculista (dois, visão) que descobre estar ficando
surdo (três, audição).
Disposto a montar uma "biblioteca de sons" em sua cabeça, contrata uma compreensiva prostituta com quem divide a noite a ouvir música.
Noutro andar mora uma insegura confeiteira (Mary-Louise
Parker, de "Big") que faz bolos
lindos, mas intragáveis (quatro,
paladar).
Numa viagem, enamora-se de
um mestre-cuca italiano (Marco
Leonardi, de "Como Água para
Chocolate"), que, ao visitá-la, a
perturba com a própria felicidade.
Resta a ela o ombro de um amigo bissexual (Daniel MacIvor),
que reencontra, um a um, seus
antigos casos, visando sentir "o
cheiro do amor" (quinto, o olfato).
Alienação
Estamos diante de outra fábula
contemporânea sobre a alienação
e a incomunicabilidade.
Sim, o extraordinário elenco
aproveita seus poucos minutos
para tentar insuflar vida a tipos
por demais conhecidos.
Sim, Podeswa extrai de Toronto
uma estranheza que a torna um
cenário de rara dramaticidade.
Sim, sabe-se logo aonde tudo
vai chegar e o caminho até lá é
parco em novidades.
"Cinco Sentidos" vive, assim, de
cenas.
Volter dissimula ao telefone a
própria voz para ouvir por segundos a voz de sua filha.
MacIvor encontra num perfume a reprodução perfeita daquele
que considerava o aroma puro e
exclusivo do amor.
Parker prova um de seus bolos e
o joga fora.
Rose estica a mão para aproximar-se de sua filha enfim aliviada.
Somadas, são menos que um
bom filme. Isoladas, restam na
memória.
Os Cinco Sentidos
The Five Senses
Direção: Jeremy Podeswa
Produção: Canadá, 1999
Com: Mary-Louise Parker, Philippe
Volter, Gabrielle Rose, Nadia Litz e Molly
Parker
Quando: a partir de hoje nos cines
Lumière, Jardim Sul e Cinearte
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