São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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Crítica/"Dois É Bom, Três É Demais"

Filme recorre a soluções "de machinho"

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Ficar longe de Owen Wilson parece tarefa difícil ultimamente. Em seis anos, ele trabalhou em 16 filmes - entre eles, "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004), "Penetras Bom de Bico" (2005) e, usando apenas a voz, a animação digital "Carros" (2006).
Ficar longe de Dupree, o personagem interpretado pelo ator em "Dois É Bom, Três É Demais", constitui também imenso desafio para os recém-casados Carl (Matt Dillon) e Molly (Kate Hudson).
Dupree é melhor amigo de Carl, foi seu "padrinho número 1" de casamento e precisa de um lugar para dormir, durante alguns dias, até reordenar a vida. Molly, muito gentil, aceita provisoriamente o hóspede. E o hóspede toma conta, em definitivo, da casa.
O arsenal imaginável de piadas que decorre dessa situação inicial se alimenta da personalidade ambígua de Dupree: é um "mala", não há dúvida, mas, como o filme lentamente o desenha, uma espécie adorável de "mala".
O rapaz é ingênuo, generoso e romântico. Seria também inofensivo se tamanha falta de sintonia com o mundo do trabalho e das convenções sociais não o transformasse em perigo para quem está à sua volta.
Na outra ponta, poço de maldade, vaidade e manipulação, encontra-se o sogro de Carl (Michael Douglas). Bem-sucedido como empreiteiro e competitivo ao extremo, esse reverso de Dupree acentua o contraste entre dois modos radicalmente distintos de encarar a vida.
Desnecessário apontar, em uma comédia juvenil como essa, para qual dos lados a balança pesará. Não deixa de ser sintomático dos tempos atuais, no entanto, que a defesa do modo vencedor seja celebrada em forma de literatura de auto-ajuda. Assim como o mercado e o público reconhecem facilmente um "filme de mulherzinha", este aqui é um "filme de machinho": toda a perspectiva, dos problemas e das soluções, é masculina. E adolescente, uma vez que os adultos se comportam, em maior ou menor grau, como o Peter Pan que só Dupree tem a coragem de encarnar plenamente.
Não é ocasional que, entre todas as esposas e namoradas da história, a única a mostrar o rosto seja Kate Hudson. As demais são, no máximo, silhuetas e vozes. Fantasmas, portanto. E fantasmas são conhecidos por assombrar.


DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS   
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Produção: EUA, 2006
Com: Owen Wilson, Kate Hudson, Matt Dillon
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Iguatemi Cinemark e circuito


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