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Crítica/"Dois É Bom, Três É Demais"
Filme recorre a soluções "de machinho"
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Ficar longe de Owen Wilson parece tarefa difícil
ultimamente. Em seis
anos, ele trabalhou em 16 filmes - entre eles, "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004),
"Penetras Bom de Bico" (2005)
e, usando apenas a voz, a animação digital "Carros" (2006).
Ficar longe de Dupree, o personagem interpretado pelo
ator em "Dois É Bom, Três É
Demais", constitui também
imenso desafio para os recém-casados Carl (Matt Dillon) e
Molly (Kate Hudson).
Dupree é melhor amigo de
Carl, foi seu "padrinho número
1" de casamento e precisa de
um lugar para dormir, durante
alguns dias, até reordenar a vida. Molly, muito gentil, aceita
provisoriamente o hóspede. E o
hóspede toma conta, em definitivo, da casa.
O arsenal imaginável de piadas que decorre dessa situação
inicial se alimenta da personalidade ambígua de Dupree: é
um "mala", não há dúvida, mas,
como o filme lentamente o desenha, uma espécie adorável de
"mala".
O rapaz é ingênuo, generoso
e romântico. Seria também
inofensivo se tamanha falta de
sintonia com o mundo do trabalho e das convenções sociais
não o transformasse em perigo
para quem está à sua volta.
Na outra ponta, poço de maldade, vaidade e manipulação,
encontra-se o sogro de Carl
(Michael Douglas). Bem-sucedido como empreiteiro e competitivo ao extremo, esse reverso de Dupree acentua o contraste entre dois modos radicalmente distintos de encarar a
vida.
Desnecessário apontar, em
uma comédia juvenil como essa, para qual dos lados a balança
pesará. Não deixa de ser sintomático dos tempos atuais, no
entanto, que a defesa do modo
vencedor seja celebrada em
forma de literatura de auto-ajuda.
Assim como o mercado e o
público reconhecem facilmente um "filme de mulherzinha",
este aqui é um "filme de machinho": toda a perspectiva, dos
problemas e das soluções, é
masculina. E adolescente, uma
vez que os adultos se comportam, em maior ou menor grau,
como o Peter Pan que só Dupree tem a coragem de encarnar plenamente.
Não é ocasional que, entre todas as esposas e namoradas da
história, a única a mostrar o
rosto seja Kate Hudson. As demais são, no máximo, silhuetas
e vozes. Fantasmas, portanto. E
fantasmas são conhecidos por
assombrar.
DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Produção: EUA, 2006
Com: Owen Wilson, Kate Hudson,
Matt Dillon
Quando: em cartaz nos cines Bristol,
Frei Caneca Unibanco Arteplex, Iguatemi Cinemark e circuito
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