São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Crítica/cinema/"Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda"

Filme cresce quando mergulha na família

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Maria Bethânia -Pedrinha de Aruanda", Andrucha Waddington combina dois aspectos relevantes de sua trajetória: o papel de constante documentarista dos Doces Bárbaros -em sua fase recente- e a sensibilidade toda especial para captar o universo feminino, tônica de seus filmes de ficção.
Nos últimos anos, Waddington já filmou o reencontro de Gil, Gal, Caetano e Bethânia em "Outros (Doces) Bárbaros" e acompanhou uma turnê de Gil em "Viva São João!". Agora, dedica-se a Maria Bethânia neste documentário realizado no ano passado, quando a cantora comemorou 60 anos de vida e 40 de trajetória profissional.
Não é coincidência, no entanto, que o filme tenha chegado aos cinemas dois dias antes do aniversário de cem anos de Dona Canô, mãe de Bethânia e de Caetano, celebrado amanhã.
No fundo, é Dona Canô a estrela de "Pedrinha de Aruanda". De alguma forma, este filme traduz, em cinema, as palavras de Milton Nascimento na canção "A Feminina Voz do Cantor" ("Minha mãe que falou / Minha voz vem da mulher / Minha voz veio de lá, de quem me gerou").
Depois de registrar Bethânia em seus rituais preparatórios para o show e acompanhar uma missa em sua homenagem, o filme ganha corpo quando abandona a face pública da cantora e mergulha na intimidade de sua família. É quando vislumbramos um pouco da origem da voz de Bethânia e de Caetano.
Uma viagem de carro até Santo Amaro da Purificação, com Caetano ao volante e Bethânia na carona, serve de transição entre esses dois momentos do filme -o primeiro de caráter mais "oficial", o segundo, totalmente intimista.

Sarau no quintal
Com a sensibilidade que lhe é habitual, Waddington filma um jantar e um pequeno sarau no quintal da casa de Dona Canô, em que Bethânia e Caetano dividem com sua mãe, parentes e amigos algumas canções do passado. Entre uma e outra revelação
(não gostavam da voz de Bethânia no colégio, porque a consideravam grossa demais) e a leitura de alguns textos de Fernando Pessoa e Mario Quintana por Bethânia, é nesse pequeno registro musical que o filme se justifica por inteiro.


MARIA BETHÂNIA - PEDRINHA DE ARUANDA
Direção:
Andrucha Waddington
Produção: Brasil, 2007
Com: Maria Bethânia, Caetano Veloso
Onde: em cartaz nos cines Reserva Cultural, Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: bom


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