São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Crítica/cinema/"Fido - O Mascote"

Comédia com zumbis faz boa sátira à sociedade de consumo

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Zumbis são criaturas bastante desagradáveis. Com sua aparência de cadáveres podres e mania de atacar e devorar humanos, não há nada que os torne simpáticos. O cinema adotou essas criaturas imaginárias em representações de medos arcaicos e em símbolos de metáforas políticas. Dos mortos-vivos de George Romero, desde o fundamental "A Noite dos Mortos-Vivos", até o excelente "Candidato Maldito", de Joe Dante, os zumbis têm ocupado o papel dos excluídos que retornam para se vingar.
"Fido - O Mascote" retoma essa mesma veia metafórica, mas abandona o viés do horror em proveito de uma sátira muito bem-humorada à sociedade de consumo. O filme canadense descreve um estado pós-apocalíptico em que uma empresa, ZomCom, desenvolveu métodos para neutralizar as bestas.
Agora, basta uma coleira que emite um sinal para que os mortos-vivos se tornem dóceis e obedientes. Com isso, em vez de matar, eles foram transformados numa nova espécie de escravos, capazes de desempenhar tarefas braçais e domésticas como empregados.
Fido é um desses zumbis, que se torna companheiro de Timmy, um garoto tímido e recluso. Por trás do tratamento cômico, o que os mortos-vivos trazem mais uma vez é uma parábola social. O bem-estar e a cidade organizada e feliz vivem sob um estado de controle, com inúmeros sinais semelhantes aos das experiências totalitárias nazistas e stalinistas.
Em vez de revolta e destruição, a domesticação dos zumbis retrata de modo alegórico a conversão dos indivíduos em nada mais que trabalhadores obedientes. Com essa inversão, o filme demonstra como já deixamos de temer para agora só rir da própria tragédia.


FIDO - O MASCOTE
Direção:
Andrew Currie
Produção: Canadá, 2006
Com: Carrie-Anne Moss, Billy Connolly
Onde: no Unibanco Arteplex
Avaliação: bom


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