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DRAUZIO VARELLA
Cirurgia da obesidade
O obeso troca uma doença grave por outra de curso mais benigno: a desnutrição crônica
CIRURGIA PARA obesidade é
medida radical indicada apenas em casos graves. Por
meio dela, procura-se reduzir o volume do estômago e, dependendo
da técnica, o comprimento do intestino para dificultar a absorção de
nutrientes.
Batizada com o nome de bariátrica, é um procedimento de alta complexidade que envolve internação
hospitalar prolongada, UTI, exige
sacrifício, disciplina na dieta, mudança comportamental, prática
regular de atividade física e acom-
panhamento médico, pelo resto
da vida.
Por meio dela, o obeso troca uma
doença grave por outra de curso
mais benigno: a desnutrição crônica.
Para indicá-la, é preciso conhecer
o índice de massa corporal (IMC),
calculado dividindo-se o peso pela
altura elevada ao quadrado (IMC =
peso / altura x altura).
Desde 1991, existe um consenso
internacional de que a cirurgia bariátrica tem as seguintes indicações
gerais:
1) IMC maior ou igual a 40.
2) IMC maior ou igual a 35, quando houver estados mórbidos associados (hipertensão e/ou diabetes
difíceis de compensar, limitações
ortopédicas, apnéia do sono etc.).
3) Falha no tratamento clínico
após 2 anos.
4) Obesidade grave instalada há
mais de 5 anos.
Segundo o Ministério da Saúde,
existem cerca de 2 milhões de pessoas com IMC 40, no Brasil. Como
esse número aumenta 3% ao ano,
surgem 5.000 casos novos por mês.
O tratamento clínico das complicações da obesidade custa para o sistema de saúde seis vezes mais do
que o cirúrgico, uma vez que a perda
de peso induzida pela cirurgia reduz
a incidência de diabetes, facilita o
controle da hipertensão, do colesterol, a correção de problemas ortopédicos e melhora a qualidade de vida.
Apesar desses benefícios, faltavam demonstrações definitivas de
que tal redução de riscos resultava
em aumento da sobrevida. Embora
soubéssemos que o excesso de peso
encurta o tempo de vida, alguns estudos epidemiológicos sugeriam
que perder peso também poderia fazê-lo. A contradição persistia, pela
dificuldade em separar o emagrecimento intencional daquele causado
por doença grave.
Finalmente, acabam de ser publicados dois trabalhos demonstrando
que a perda de peso associada à cirurgia bariátrica tem impacto no aumento de sobrevida.
O primeiro foi conduzido na Suécia. Nele, 2.010 obesos graves, com
idade entre 37 e 60 anos, foram operados segundo três técnicas diferentes. Como grupo controle, foram seguidos clinicamente 2.037 obesos de
características semelhantes.
Depois de 15 anos de acompanhamento, os pacientes operados haviam perdido 13 a 27% do peso corporal, dependendo da técnica cirúrgica empregada. No grupo controle,
os pesos oscilaram entre ganhos e
perdas da ordem de apenas 2%.
No mesmo período, a mortalidade
do grupo operado caiu 24%. A redução foi mais acentuada nos indivíduos mais velhos e naqueles com
IMC mais elevado. A cirurgia reduziu a incidência de diabetes, doenças
cardiovasculares, apnéia do sono e
dores articulares, e melhorou a qualidade de vida.
O segundo trabalho foi realizado
nos Estados Unidos, no período de
1984 a 2002. Os autores compararam a evolução de 7.925 obesos operados segundo a mesma técnica,
com um número idêntico de obesos
com características comparáveis,
tratados clinicamente.
Depois de sete anos, em média,
haviam ocorrido 231 mortes entre
os operados, contra 321 no grupo
controle. A operação diminuiu 40%
do risco de morte. A mortalidade
por diabetes caiu 92%, por ataque
cardíaco, 59%, e por câncer, 60%.
Entretanto, a mortalidade por acidentes e suicídios aumentou 58%
entre os operados. Ainda assim, o
balanço geral foi favorável à cirurgia:
para cada 1.000 operados, foram
evitadas 171 mortes por doença, enquanto ocorreram 35 por acidentes
e suicídio.
Nos últimos anos, surgiram técnicas operatórias menos agressivas,
associadas à menor mortalidade
pós-operatória, à recuperação mais
rápida e custos reduzidos. É possível
que a vida sedentária, a fartura de
alimentos, a genética desfavorável, a
falta de tratamentos clínicos eficazes e a grande dificuldade de perder
peso de que muitas pessoas se queixam venham a aumentar as indicações cirúrgicas, no futuro.
Mas a cirurgia bariátrica será sempre indicada com cautela extrema.
Não é uma mágica por meio da qual
você entra gordo e sai magrinho do
centro cirúrgico.
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