São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Ana Ottoni/Folha Imagem
Buraco em obras embaixo da avenida Faria Lima, no Largo da Batata, no dia 25 de agosto: um trator fazia a limpeza, retirando a terra e as pedras


Viagem ao centro da terra

Um ensaio fotográfico sobre a construção de nova linha do metrô mostra um pouco do que acontece nos subterrâneos da cidade

São 7h e 50 homens estão reunidos, de mãos dadas, no Largo da Batata, em Pinheiros, para uma oração. "Rezamos todos os dias para Santa Bárbara, que é a padroeira dos túneis", diz o soldador carioca Rui de Jesus.

 

Ele é um dos operários que se prepara para descer, por um buraco, 31 m abaixo da terra. Todos os dias, o grupo repete o ritual antes de mergulhar no trabalho, sob a avenida Faria Lima. Eles estão escavando a linha Amarela do metrô, que ligará a estação da Luz à Vila Sônia. Em toda a obra trabalham hoje 2.700 funcionários.
 

Uma escada de madeira de 120 degraus leva os operários para baixo. Um cabo de aço sobe e desce por uma segunda abertura com caçambas e máquinas, puxado por um guindaste que está lá em cima, sobre a rua. O ar entra por esses buracos. Lá embaixo não se ouve o barulho da rua -só o das máquinas trabalhando. Em cima dessa abertura existiam, antes do início das obras, dois imóveis que foram desapropriados. "Tinha um dentista, uma pastelaria e o terminal de ônibus", diz o diretor de engenharia do metrô, Sergio Salvadori.
 

Gotas de água pingam do teto o tempo todo, por causa do lençol freático. Os funcionários, com uma mangueira, molham os blocos de concreto que formam o chão da estação, para que eles não rachem.
 

Será pela abertura maior que o tatuzão -aparelho de escavação importado da Alemanha que deve cavar 14 m por dia- descerá para escavar 6,4 km até a Luz. A linha vai passar pelo Largo da Batata e seguir em direção ao rio Pinheiros -onde outros operários cavam um buraco tendo o grande rio a apenas 15m de suas cabeças.
 

O método de escavação, sob o Pinheiros, é diferente do usado no Largo da Batata: mais lento, inclui a detonação de dinamites. "Depois que a bomba explode, esperamos meia hora aqui em cima para que o ar embaixo se renove", diz o engenheiro Jelson de Siqueira. Há duas semanas, um operário morreu sob a Oscar Freire por causa de um desabamento de terra. Sob o Pinheiros, o risco de que isso aconteça é pequeno, pois o terreno é rochoso.
 

Poucos dos operários que estão construindo os dois trechos que a coluna acompanhou vão usar o metrô quando pronto. Só um deles, Francimar de Souza, é usuário. Os demais tomam trem ou ônibus para chegarem ao trabalho.


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