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Fala, Galera
Autor de "Mãos de Cavalo", paulistano lança 1º livro da série "Amores Expressos", após trocar Buenos Aires pela Terra do Fogo em busca de inspiração
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Buenos Aires deveria ser o
cenário principal do romance
escrito por Daniel Galera para o
projeto "Amores Expressos",
segundo o qual 17 escritores deveriam contar uma história de
amor inspirada em temporadas
de um mês em várias cidades
do mundo. O escritor, no entanto, só conseguiu alcançar
seu clímax lá pelo meio da viagem, quando foi à Terra do Fogo, extremo sul da Argentina.
Galera conta que já tinha um
esboço antes de viajar: queria
contar a história de uma jovem
escritora (Anita), cujo primeiro
livro, um sucesso, ela rejeitava.
A moça queria mesmo era ser
mãe, o que tenta, a todo custo,
numa viagem para promover a
edição argentina do tal livro.
A viagem de Anita incorpora
uma crítica de Galera ao que ele
chama de "visão idealista da literatura". "É algo que às vezes
me incomoda, que distorce seu
real valor, como os eventos literários, a crítica etc. A postura
de Anita não é a minha. Mas
tem uma coisa que ela diz que
poderia sair da minha boca, que
é não gostar de quem fala literatura como se tivesse letras
maiúsculas, sempre."
Moleskine na mão
Em sua primeira vez na cidade, Galera se hospedou em um
pequeno estúdio em Palermo,
sofisticado bairro portenho.
Ele diz que foi para lá sem intenção de trabalhar no livro,
mas de apenas fazer anotações,
que consumiram todo um Moleskine, caderninho preferido
de nove entre dez autores.
"Não queria ficar lá consciente da minha condição de autor
que está em Buenos Aires para
escrever um livro, mas me permitir ficar à vontade para que
conhecesse a cidade e ela me
influenciasse."
Galera, no entanto, acabou
não achando a viagem tão determinante para seu romance.
Ele achou a cidade tão semelhante a Porto Alegre -onde
passou boa parte da vida-, que
enão teve lá uma grande experiência de descoberta.
A virada se deu com a viagem
de quatro dias à Terra do Fogo,
"por conta própria". "Foi o lugar que mais afetou o desenvolvimento do livro. Foi onde tive
o afastamento radical que buscava da viagem, em termos de
cultura, de hábitos e de natureza [em especial a cordilheira
que dá nome ao romance]."
O clímax da viagem acabou se
tornando o clímax do romance.
É na Terra do Fogo que Anita
vai parar após se envolver com
"pessoas esquisitas numa espécie de intriga literária".
"Ela não encontra nas outras
pessoas nenhum tipo de aprovação ou compreensão para seu
desejo de maternidade. Então
ela toma isso como busca pessoal e espera viver isso de alguma forma durante a viagem."
Qualquer semelhança é coincidência, alerta. O escritor diz
que "Cordilheira" é menos auto-referencial que livros anteriores como "Mãos de Cavalo" e
"Até o Dia em que o Cão Morreu", levado ao cinema por Beto
Brant como "Cão sem Dono".
"Cordilheira" pode não espelhar Galera, mas ele não poupou o livro de referências. Na
obra, o argentino que, de certa
forma, abriga a obsessão de
Anita, se chama José Holden,
alusão ao personagem de "Apanhador no Campo de Centeio",
de J.D. Salinger. Um rápido
"google" em outros nomes do
livro gera mais coincidências.
"Queria que [o livro] fosse algo mais solto, com referências
ora explícitas, ora obscuras,
com pequenos instantes de satisfação pessoal que, se os leitores não captarem, em nada prejudica. Mas, se captarem, podem dar uma risadinha junto
comigo."
Leia trecho do livro em
www.folha.com.br/082881
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