São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Do moderno ao contemporâneo

Museu de Arte Moderna de SP expõe 500 obras de seu acervo e elege como um dos eixos a pintura de Volpi, também tema de mostra no IAC aberta para o público hoje

MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez dias antes da abertura da "Bienal do Vazio" começa a mostra mais cheia do ano, e a poucos metros do pavilhão que já viveu dias de mais abundância. Ainda comemorando seus 60 anos, que completou em julho deste ano, o Museu de Arte Moderna leva amanhã à Oca, no Ibirapuera, mais de 500 obras de quase cem artistas.
A mostra pretende esmiuçar a idéia de moderno e contemporâneo na arte brasileira, tarefa que faz sentido quando se leva em conta que o MAM começou com um recorte do modernismo, teve sua coleção doada para o Museu de Arte Contemporânea da USP e depois construiu um novo acervo de arte contemporânea.
Servem de baliza para essa reflexão a obra de dois artistas: Flavio de Carvalho (1899-1973) e Alfredo Volpi (1896-1988). Se o primeiro estarreceu os críticos com a primeira performance do país -em 1931 desafiou uma procissão de Corpus Christi e depois pintou um quadro-, o segundo serve de raiz para o concretismo que tornou o Brasil conhecido no mundo.
É dessa bifurcação, de um lado o experimentalismo exacerbado e de outro o geometrismo que pende para a abstração, que se estendem os dois eixos da exposição na Oca.
No segundo andar está a "Série Trágica Minha Mãe Morrendo" (1947), nove desenhos de Flavio de Carvalho, que retratou a própria mãe em seu leito de morte. Também de Carvalho é "Auto-Retrato" (1965), tela emblemática do modernismo brasileiro que estabelece uma linhagem a ser seguida por Jorge Guinle, Wesley Duke Lee e Rubens Gerchman, todos presentes na mostra.
Em contrapartida, estão no mesmo piso os experimentos figurativos de Volpi, como "Mulata" (1927) e "Marinha (Santos)", do mesmo ano, além de "Casas" (1955), "Portais e Bandeirinhas", da década de 1960, e "Mastros" (1970), obras geométricas que travam forte diálogo como o concretismo -a obra do artista é também destaque de mostra em cartaz no Instituto de Arte Contemporânea, aberta hoje ao público.
"Volpi é um representante da pintura que se basta a si mesma, que rompe com tudo que é externo à obra", resume Annateresa Fabris, que fez a curadoria da exposição ao lado do crítico Luiz Camillo Osorio. "Já o Flavio de Carvalho tem essa abertura para a vida."
No andar abaixo, Mira Schendel (1919-1988), uma das artistas melhor representadas no acervo, parece herdar preocupações de Volpi e Carvalho, idéia que fica evidente no caráter abstrato da obra e, ao mesmo tempo, na delicadeza do traço, a relação com a linha.
"A linha vira letra, que se insinua palavra", descreve Osorio. "A relação que ela tem com as linhas é a mesma que o Leonilson tem com o bordado."
Não à toa, o artista cearense, que morreu de Aids em 1993, tem 22 trabalhos em exposição e serve de âncora para outro núcleo da mostra, que tem Cildo Meireles e Leda Catunda.

Volpi lânguido
O IAC (Instituto de Arte Contemporânea) também centra o foco de uma de suas novas exposições em uma produção menos celebrada de Volpi, com 27 telas que não costumam ser vistas pelo público, já que pertencem a coleções particulares.
"É um reexame da produção de Volpi. Não há bandeirinhas festivas nem o que é normalmente celebrado como ligado à arte concreta", afirma Sonia Salzstein, curadora da mostra. "É um Volpi de tons baixos, de pinceladas lânguidas, com uma liberdade rara de se ver, especialmente localizada no fim dos anos 60 e começo dos 70."


"MAM 60"
Quando: abertura amanhã, às 20h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 14/12
Onde: Oca (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5083-0519; livre)
Quanto: entrada franca

"ABSORÇÃO E INTIMISMO EM VOLPI"
Quando: de ter. a sáb., das 10h às 18h; dom., das 12h às 17h; até 25/1/09
Onde: IAC (r. Maria Antonia, 242/258, tel. 3255-2009; livre)
Quanto: entrada franca




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