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Do moderno ao contemporâneo
Museu de Arte Moderna de SP expõe 500 obras de seu acervo e elege como um dos eixos a pintura de Volpi, também tema de mostra no IAC aberta para o público hoje
MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez dias antes da abertura da
"Bienal do Vazio" começa a
mostra mais cheia do ano, e a
poucos metros do pavilhão que
já viveu dias de mais abundância. Ainda comemorando seus
60 anos, que completou em julho deste ano, o Museu de Arte
Moderna leva amanhã à Oca,
no Ibirapuera, mais de 500
obras de quase cem artistas.
A mostra pretende esmiuçar
a idéia de moderno e contemporâneo na arte brasileira, tarefa que faz sentido quando se
leva em conta que o MAM começou com um recorte do modernismo, teve sua coleção
doada para o Museu de Arte
Contemporânea da USP e depois construiu um novo acervo
de arte contemporânea.
Servem de baliza para essa
reflexão a obra de dois artistas:
Flavio de Carvalho (1899-1973)
e Alfredo Volpi (1896-1988). Se
o primeiro estarreceu os críticos com a primeira performance do país -em 1931 desafiou
uma procissão de Corpus
Christi e depois pintou um quadro-, o segundo serve de raiz
para o concretismo que tornou
o Brasil conhecido no mundo.
É dessa bifurcação, de um lado o experimentalismo exacerbado e de outro o geometrismo
que pende para a abstração,
que se estendem os dois eixos
da exposição na Oca.
No segundo andar está a "Série Trágica Minha Mãe Morrendo" (1947), nove desenhos
de Flavio de Carvalho, que retratou a própria mãe em seu
leito de morte. Também de
Carvalho é "Auto-Retrato"
(1965), tela emblemática do
modernismo brasileiro que estabelece uma linhagem a ser seguida por Jorge Guinle, Wesley
Duke Lee e Rubens Gerchman,
todos presentes na mostra.
Em contrapartida, estão no
mesmo piso os experimentos
figurativos de Volpi, como
"Mulata" (1927) e "Marinha
(Santos)", do mesmo ano, além
de "Casas" (1955), "Portais e
Bandeirinhas", da década de
1960, e "Mastros" (1970), obras
geométricas que travam forte
diálogo como o concretismo -a
obra do artista é também destaque de mostra em cartaz no
Instituto de Arte Contemporânea, aberta hoje ao público.
"Volpi é um representante da
pintura que se basta a si mesma, que rompe com tudo que é
externo à obra", resume Annateresa Fabris, que fez a curadoria da exposição ao lado do crítico Luiz Camillo Osorio. "Já o
Flavio de Carvalho tem essa
abertura para a vida."
No andar abaixo, Mira
Schendel (1919-1988), uma das
artistas melhor representadas
no acervo, parece herdar preocupações de Volpi e Carvalho,
idéia que fica evidente no caráter abstrato da obra e, ao mesmo tempo, na delicadeza do
traço, a relação com a linha.
"A linha vira letra, que se insinua palavra", descreve Osorio. "A relação que ela tem com
as linhas é a mesma que o Leonilson tem com o bordado."
Não à toa, o artista cearense,
que morreu de Aids em 1993,
tem 22 trabalhos em exposição
e serve de âncora para outro
núcleo da mostra, que tem Cildo Meireles e Leda Catunda.
Volpi lânguido
O IAC (Instituto de Arte
Contemporânea) também centra o foco de uma de suas novas
exposições em uma produção
menos celebrada de Volpi, com
27 telas que não costumam ser
vistas pelo público, já que pertencem a coleções particulares.
"É um reexame da produção
de Volpi. Não há bandeirinhas
festivas nem o que é normalmente celebrado como ligado à
arte concreta", afirma Sonia
Salzstein, curadora da mostra.
"É um Volpi de tons baixos, de
pinceladas lânguidas, com uma
liberdade rara de se ver, especialmente localizada no fim dos
anos 60 e começo dos 70."
"MAM 60"
Quando: abertura amanhã, às 20h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 14/12
Onde: Oca (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5083-0519; livre)
Quanto: entrada franca
"ABSORÇÃO E INTIMISMO EM VOLPI"
Quando: de ter. a sáb., das 10h às 18h; dom., das 12h às 17h; até 25/1/09
Onde: IAC (r. Maria Antonia, 242/258, tel. 3255-2009; livre)
Quanto: entrada franca
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