São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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WAGNER MOURA

Todo mundo teve vontade de dar uns tapas num deputado

Ator que interpreta o coronel Nascimento em "Tropa de Elite 2" justifica reação do público, que aplaude cena em que ele surra político safado

Joel Silva/Folhapress
Wagner Moura e José Padilha em debate promovido pela Folha e pelo Cine Livraria Cultura, anteontem

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Com as 300 cadeiras ocupadas e o chão servindo de assento, o Cine Livraria Cultura viu, na noite de anteontem, política e entretenimento transformados em catarse.
A exibição de "Tropa de Elite 2", seguida de um debate com o diretor José Padilha e o ator Wagner Moura, alimentou discussões sobre cinema, mas colocou em cena, sobretudo, a política. Mediado pelo repórter da Ilustrada Ivan Finotti, o evento foi promovido pela Folha e pelo Cine Livraria Cultura e foi transmitido pelo UOL.
Os políticos se enxergam no ridículo dos personagens. O público, por sua vez, se identifica com o sentimento de revolta generalizada. Não por acaso, o momento em que um deputado corrupto, falastrão e criminoso é agredido pelo herói, provoca catarse na plateia e resulta em aplausos às escuras.
"É uma reação emocional. Todo mundo se sente representado. Todo mundo já teve vontade de dar um tapa num deputado safado", disse Wagner Moura, sob risadas.
O ator, depois de revoltar-se contra o "sistema" na sequência de "Tropa de Elite", também foi promovido pelos fãs. Nas ruas, passou da patente de capitão para coronel. "Esse personagem já está num terreno mítico. Ele entrou para a cultura brasileira." Se é violento demais?
"Tropa" é violento, mas nossa realidade também é. E o cinema americano também", respondeu o ator.
Padilha, mais provocador, aproveitou a referência ao possível lado "fascista" do filme para acariciar a plateia. "Achar que o filme estimula a violência seria considerar vocês [o público] como pessoas pouco inteligentes, que veem o filme e saem batendo em todo mundo na rua."

PSDB x PT
O debate também trouxe a público a dúvida que vem martelando na cabeça de muita gente: o filme favorece ou desfavorece algum candidato? "Só perguntando para eles", retrucou Padilha. "Mas os dois partidos governaram o país durante oito anos."
O cineasta, que está na crista da onda e pode atingir 3 milhões de ingressos vendidos hoje, recorda que, à época de "Ônibus 174" (2002), o presidente FHC prometeu apresentar um Plano Nacional de Segurança Pública. Deixou o Alvorada sem que o plano tivesse sido elaborado.
Lula, ao assumir, repetiu a promessa. "O PT fez o plano, mas não implementou. E os números da violência são assustadores", diz. Padilha acha que nem José Serra nem Dilma Rousseff discutem segurança pública na campanha, simplesmente, porque "não têm o que falar".
Questionado sobre o que fará diante da urna, evitou responder, devolvendo a questão ao mediador. Quando o mediador disse que anularia o voto, aproveitou: "Anulo também". Moura diz ter tendência a votar em Dilma, "sem entusiasmo".
Apesar de negar que os personagens de "Tropa de Elite 2" digam respeito a um ou outro político, Padilha admite que o efeito-espelho era inevitável. "O cara olha e fala: "Sou eu". Os políticos se identificam", diz. "Não tem político que não tenha foto ao lado de um miliciano."


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