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WAGNER MOURA
Todo mundo teve vontade de dar uns tapas num deputado
Ator que interpreta o coronel Nascimento em "Tropa de Elite 2" justifica reação do público, que aplaude cena em que ele surra político safado
Joel Silva/Folhapress
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Wagner Moura e José Padilha em debate promovido pela Folha e pelo Cine Livraria
Cultura, anteontem
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
Com as 300 cadeiras ocupadas e o chão servindo de
assento, o Cine Livraria Cultura viu, na noite de anteontem, política e entretenimento transformados em catarse.
A exibição de "Tropa de
Elite 2", seguida de um debate com o diretor José Padilha
e o ator Wagner Moura, alimentou discussões sobre cinema, mas colocou em cena,
sobretudo, a política. Mediado pelo repórter da Ilustrada
Ivan Finotti, o evento foi promovido pela Folha e pelo Cine Livraria Cultura e foi
transmitido pelo UOL.
Os políticos se enxergam
no ridículo dos personagens.
O público, por sua vez, se
identifica com o sentimento
de revolta generalizada. Não
por acaso, o momento em
que um deputado corrupto,
falastrão e criminoso é agredido pelo herói, provoca catarse na plateia e resulta em
aplausos às escuras.
"É uma reação emocional.
Todo mundo se sente representado. Todo mundo já teve
vontade de dar um tapa num
deputado safado", disse
Wagner Moura, sob risadas.
O ator, depois de revoltar-se contra o "sistema" na sequência de "Tropa de Elite",
também foi promovido pelos
fãs. Nas ruas, passou da patente de capitão para coronel. "Esse personagem já está num terreno mítico. Ele entrou para a cultura brasileira." Se é violento demais?
"Tropa" é violento, mas
nossa realidade também é. E
o cinema americano também", respondeu o ator.
Padilha, mais provocador,
aproveitou a referência ao
possível lado "fascista" do
filme para acariciar a plateia.
"Achar que o filme estimula a
violência seria considerar vocês [o público] como pessoas
pouco inteligentes, que veem
o filme e saem batendo em
todo mundo na rua."
PSDB x PT
O debate também trouxe a
público a dúvida que vem
martelando na cabeça de
muita gente: o filme favorece
ou desfavorece algum candidato? "Só perguntando para
eles", retrucou Padilha. "Mas
os dois partidos governaram
o país durante oito anos."
O cineasta, que está na
crista da onda e pode atingir
3 milhões de ingressos vendidos hoje, recorda que, à época de "Ônibus 174" (2002), o
presidente FHC prometeu
apresentar um Plano Nacional de Segurança Pública.
Deixou o Alvorada sem que o
plano tivesse sido elaborado.
Lula, ao assumir, repetiu a
promessa. "O PT fez o plano,
mas não implementou. E os
números da violência são assustadores", diz. Padilha
acha que nem José Serra nem
Dilma Rousseff discutem segurança pública na campanha, simplesmente, porque
"não têm o que falar".
Questionado sobre o que
fará diante da urna, evitou
responder, devolvendo a
questão ao mediador. Quando o mediador disse que anularia o voto, aproveitou:
"Anulo também". Moura diz
ter tendência a votar em Dilma, "sem entusiasmo".
Apesar de negar que os
personagens de "Tropa de
Elite 2" digam respeito a um
ou outro político, Padilha admite que o efeito-espelho era
inevitável. "O cara olha e fala: "Sou eu". Os políticos se
identificam", diz. "Não tem
político que não tenha foto
ao lado de um miliciano."
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