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Queen, Nirvana, Sepultura, "Clube da Luta", "Arquivo X" e, claro, Foo Fighters; Dave Grohl (líder, guitarrista e vocal) e Taylor Hawkins (baterista) falam à Folha sobre o poderoso "There Is Nothing Left to Lose", o mais novo CD da banda, que atinge hoje as lojas brasileiras
O rock sem nada a perder
LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Miami
Na era da incerteza em que vive
o rock, uma banda como a americana Foo Fighters é sempre um
ótimo motivo para fazer as pazes
com o gênero.
Chateado com as guitarras contemporâneas? Dê a elas uma
chance adquirindo o álbum "There Is Nothing Left to Lose", o terceiro do Foo Fighters, que aterrissa hoje nas lojas brasileiras em
edição nacional.
Recém-lançado na América, o
disco da banda liderada pelo figura Dave Grohl já é uma lenda dentro do melhor que o rock produziu nos últimos anos.
A banda tem, além de Dave, o
baterista Taylor Hawkins (ex-Alanis Morissette), o baixista Nate Mendel (ex-Sunny Day Real Estate) e o meio-integrante Chris
Shiflett (ex-No Use For a Name),
guitarrista para as performances
ao vivo.
Dave Grohl é caso à parte. O rapaz integrava nos anos 80 a bacana banda Scream, de Washington
D.C., até ser convocado pelo telefone para tocar bateria no principal (consenso, consenso) grupo
de rock da década, o Nirvana, de
Kurt Cobain.
Passada a avalanche Nirvana,
Grohl montou o Foo Fighters, em
1995, empunhando agora a guitarra e assumindo a condição de
band leader (no primeiro CD do
grupo, homônimo, Grohl tocou
sozinho guitarra, bateria, baixo e
cantou).
Em 1997, a banda voltou a balançar o cenário com "The Colour
and the Shape", CD de ótimas
músicas, um punhado de descolados videoclipes e inesquecíveis
performances ao vivo.
E eis que agora chega "There Is
Nothing Left to Lose", motivo de
celebração pop.
No mínimo porque o novo disco já botou a canção "Learn to
Fly" na programação das rádios
de rock brasileiras. Para alívio dos
ouvidos, a música já rouba um
pouco o espaço destinado ultimamente a coisas como a romântica
do Jota Quest, Legião cantando
Menudo, Titãs se fazendo de Mamonas e o último hit tupiniquim,
"Anna Júlia".
A função do Foo Fighters é essa
mesma. Tentar compor a equação improvável, hoje em dia, que
é bom som mais honestidade
mais uma garra contagiante, capaz de levar muito moleque a
montar sua bandinha de garagem.
Sim, porque Foo Fighters move.
Em 95, uma horda de fãs se esmagava para ver a primeira apresentação da banda na Inglaterra, na
tenda que abriga o palco secundário do Reading Festival. O lugar
estava muito mais abarrotado que
o principal, onde cantava a islandesa Björk. A cada intervalo de
música, Dave Grohl pedia efusivamente calma a platéia, porque
senão ia ter que parar o show.
Em 97, em um show de lançamento do "The Colour and the
Shape" na megaloja Virgin, em
Nova York, a banda quase fez o
prédio gigante vir abaixo. Seguranças pararam o show e tiraram
um terço do público do lugar, para o show poder continuar. Discos e livros não paravam de cair
das prateleiras.
E há poucos dias, no final de outubro passado, em apresentação
presenciada pela Folha em Miami, uma multidão se apertou para
ouvir ao vivo as novas canções de
Dave Grohl e cia., em um festival
para uma emissora de rádio local.
Ondas humanas iam e vinham.
Espremidos, garotos e garotas
passavam mal. Fim do Foo Fighters, pouca gente ficou para o restante das atrações.
Horas antes da apresentação
em Miami, o guitarrista Dave
Grohl e o baterista Taylor Hawkins concederam entrevista exclusiva à Folha, para falar do novo
disco.
Taylor Hawkins - Antes, me fala
uma coisa: diga que você esteve
no show do Queen no Brasil, em
1981, no estádio do São Paulo.
Folha - Estive.
Taylor - Deve ter sido incrível,
não? Muita gente me fala desse
show.
Folha - Foi legal. Imagine o estádio inteiro, umas 100 mil pessoas, cantando "Love of My Life"...
Taylor - Você chorou? Eu choraria.
Dave Grohl - Ele está falando sério.
Folha - Quanto ao Foo Fighters, por que o nome do disco é
"There Is Nothing Left to Lose"
(Não Há Nada a Perder)? Há algum sentido negativo nele?
Dave - Diferentemente do que
parece, é um sentimento positivo
nosso, atual, que diz respeito até a
esse novo disco. Quando estamos
nos dedicando muito para um
causa qualquer, atrás de um objetivo, quer dizer que, enquanto
não conquistamos esse objetivo, o
pensamento é: "Vamos até o fim.
Não há nada a perder".
Folha - Sobre as gravações, é
verdade que vocês se trancaram
em um estúdio em sua casa e só
botaram a cara para fora com o
CD pronto?
Grohl - Não foi bem assim.
Construí um estúdio no porão da
minha casa, na Virgínia, nas imediações de Washington D.C. Começamos as gravações do disco
em março, abril. Ficamos trancados no sentido de nos dedicar ao
disco. Não de estarmos preso,
com pressão para acabar. Iríamos
levar o tempo que fosse, sem uma
data certa para entregar o disco.
Fomos para lá sem nada preparado: sem músicas, sem letras. E
foi legal porque, se eu quisesse ensaiar as guitarras de manhã, o
Taylor pôr a bateria de madrugada, o Nate tocar baixo no fim de
tarde, éramos livres para fazer.
Tínhamos lá tudo o que queríamos, mesa de som, os instrumentos todos. Tudo no velho estilo,
simples: nada de computadores
ou equipamento de alta tecnologia. Usamos microfones velhos,
essas coisas.
Tudo funcionava como uma fabriquinha. Tinha hora que eu gravava uma fita de algumas músicas
e ficava no meu quarto bolando as
letras. Nate gravava outra e ficava
na sala, estudando o baixo. Enquanto isso, Taylor ficava no porão (estúdio), compondo a bateria. De vez em quando, nos encontrávamos na cozinha, na hora
de comer. Depois trocávamos.
Era minha vez de ir ao estúdio. E o
Taylor, então, ia para o quarto dele. Depois nos reuníamos para tomar cerveja, tocar, botar os vocais, e aí a música estava pronta.
Foi diferente. Foi bem legal, divertido.
Taylor - Foi diferente, legal, mas
para mim, particularmente, teve
um componente de paranóia,
também. Fiquei tão ansioso para
ver o disco pronto que eu não
conseguia dormir mais.
O Dave chegou a me dizer: "Sua
parte está acabada. Você pode ir
para casa. Quando o disco estiver
pronto, mixado, nos reunimos de
novo.
Mas eu não fui. Fiquei lá com ele
até o fim. Mas aí, quando acabou,
comecei a não dormir.
Entrei em crise, sei lá. Fiquei parecido com o personagem do Edward Norton em "Clube da Luta".
Estava igualzinho ao Norton.
Procurando alguma coisa para
me livrar daquele inferno. Só que
não ia visitar deficientes e gente
que estava para morrer. Mas eu
estava enlouquecendo. Quase
enlouqueci mesmo quando eu vi
o filme. Minha namorada me levou até em terapia. Cheguei a tentar hipnose.
Dave - Hipnose? Sério? Você
nunca me contou. (Risos.)
Taylor - Não queria encher você
com essa história. O cara me deu
uma fita que eu tinha que levar
para todo lugar e escutar. Você
lembra aquela parte do "Clube da
Luta" em que um sujeito diz: "Entre em sua caverna". É esse o tipo
de merda que tinha na fita. De
qualquer modo, logo eu perdi essa fita. E só há pouco mais de um
mês comecei a dormir normalmente, depois de muito tempo
adormecer só por uma hora e
meia, duas por dia, no máximo.
Folha - No final das contas,
quanto tempo duraram as gravações do disco?
Taylor - Ao todo foram quatro
meses. Os primeiros dois meses e
meio foram uma preparação. Ficávamos trabalhando as canções,
gravando a mesma música mais
de cinco vezes diferentes, até descobrir o que realmente queríamos
desse disco.
Nenhuma música, posso garantir, ficou pronta no primeiro mês,
mês e meio. Achávamos que uma
canção tinha ficado pronta. Um
mês depois, voltávamos a tocá-la
e aí mudávamos tudo.
Dave - Foi cansativo, mas faria
tudo de novo. No final, esse disco
saiu de um jeito que até eu compraria na loja. Com o certeza é o
melhor Foo Fighters.
O jornalista Lúcio Ribeiro viajou a Miami a
convite da gravadora BMG
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