São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2007

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"A Casa de Alice" foca trama familiar

Filme observa cotidiano de relações de uma manicure com a mãe, o marido, os filhos e os amantes das duas pontas do casal

Diretor Chico Teixeira, que lança hoje seu primeiro longa de ficção, afirma que queria tratar da "dificuldade de lidar com as pessoas"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mulher cega de tanto ver foi a primeira personagem que ocorreu ao documentarista Chico Teixeira ("Carrego Comigo") quando ele planejou seu primeiro longa de ficção -"A Casa de Alice", que estréia hoje, em São Paulo e no Rio.
"Queria falar de sentimentos, de como é difícil lidar com as pessoas. Uma cegueira emocional desenvolvida ao longo do filme me pareceu interessante", afirma Teixeira.
Esse ponto de partida é a origem da personagem Jacira (Berta Zemel) que, ancorada na companhia de um radinho de pilha, observa a trama das relações de sua filha Alice (Carla Ribas) com os filhos, o marido, a amante dele, o amante dela, na casa em que ambas vivem.
"As intrigas familiares são as intrigas humanas", afirma o diretor, explicando a escolha de um microcosmo para falar do tema geral.
A casa de Alice é tipicamente de classe média baixa, com os moradores sujeitos ao aperto físico (do espaço exíguo) e ao financeiro (do dinheiro insuficiente para os gastos do mês).

Classe média
"Meu filme falou da classe média porque há mais gente assim no Brasil. Não sou nada político, mas sempre penso: como essas pessoas vivem, comem, pagam médico, criam filhos?", diz Teixeira, 49.
O cineasta avalia, contudo, que a classe social das personagens é um elemento acessório na apreciação do filme. "O sofrimento equaliza as pessoas."
Ribas, que já recebeu cinco prêmios em festivais de cinema por seu desempenho como Alice, endossa a opinião do diretor. "As pessoas são iguais nos sentimentos. Alice poderia ser uma dondoca cansada do marido que só pensa em trabalho. Ela quer mais dinheiro para comprar uma piranha nova para o cabelo. Poderia ser um novo colar de brilhantes, se fosse uma dondoca", compara a atriz.
A atriz define sua personagem como "uma mulher forte, esmagada por circunstâncias que não a permitem decolar". Ela acha que, ao mostrar a "prisão" emocional da personagem e deixar em aberto seu desfecho, o filme incita o espectador a refletir sobre suas próprias amarras e a arte cumpre, assim, sua "função de espelho".
Interpretando Alice, Ribas, 49, viu pontos de contato da personagem com sua própria história, como o momento "da virada", aos 35 anos, quando trocou a profissão de programadora visual pelo teatro.

Cadeira de balanço
"Você começa a envelhecer e pensar como vai ser quando sentar na cadeira de balanço. Vi que estava jogando fora minha vida, tentando me encaixar num modelo que não era meu. Explodi com tudo", conta.
Na opinião de Ribas, o desfecho de Alice é menos transformador e, por isso, mais triste. Mas fazer um filme triste era mesmo o objetivo de Teixeira.
"Sou um homem muito triste, mas não melancólico. Gosto mais de um dia nublado, sem chuva, do que de um dia de sol. Não acredito quando as pessoas falam que está "tudo ótimo". Não está. A vida é muito difícil. Nunca está "tudo ótimo'", afirma o diretor.


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