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"A Casa de Alice" foca trama familiar
Filme observa cotidiano de relações de uma manicure com a mãe, o marido, os filhos e os amantes das duas pontas do casal
Diretor Chico Teixeira, que lança hoje seu primeiro longa de ficção, afirma que queria tratar da "dificuldade de lidar com as pessoas"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma mulher cega de tanto
ver foi a primeira personagem
que ocorreu ao documentarista
Chico Teixeira ("Carrego Comigo") quando ele planejou seu
primeiro longa de ficção -"A
Casa de Alice", que estréia hoje,
em São Paulo e no Rio.
"Queria falar de sentimentos,
de como é difícil lidar com as
pessoas. Uma cegueira emocional desenvolvida ao longo do
filme me pareceu interessante", afirma Teixeira.
Esse ponto de partida é a origem da personagem Jacira
(Berta Zemel) que, ancorada na
companhia de um radinho de
pilha, observa a trama das relações de sua filha Alice (Carla
Ribas) com os filhos, o marido,
a amante dele, o amante dela,
na casa em que ambas vivem.
"As intrigas familiares são as
intrigas humanas", afirma o diretor, explicando a escolha de
um microcosmo para falar do
tema geral.
A casa de Alice é tipicamente
de classe média baixa, com os
moradores sujeitos ao aperto
físico (do espaço exíguo) e ao financeiro (do dinheiro insuficiente para os gastos do mês).
Classe média
"Meu filme falou da classe
média porque há mais gente assim no Brasil. Não sou nada político, mas sempre penso: como
essas pessoas vivem, comem,
pagam médico, criam filhos?",
diz Teixeira, 49.
O cineasta avalia, contudo,
que a classe social das personagens é um elemento acessório
na apreciação do filme. "O sofrimento equaliza as pessoas."
Ribas, que já recebeu cinco
prêmios em festivais de cinema
por seu desempenho como Alice, endossa a opinião do diretor. "As pessoas são iguais nos
sentimentos. Alice poderia ser
uma dondoca cansada do marido que só pensa em trabalho.
Ela quer mais dinheiro para
comprar uma piranha nova para o cabelo. Poderia ser um novo colar de brilhantes, se fosse
uma dondoca", compara a atriz.
A atriz define sua personagem como "uma mulher forte,
esmagada por circunstâncias
que não a permitem decolar".
Ela acha que, ao mostrar a "prisão" emocional da personagem
e deixar em aberto seu desfecho, o filme incita o espectador
a refletir sobre suas próprias
amarras e a arte cumpre, assim,
sua "função de espelho".
Interpretando Alice, Ribas,
49, viu pontos de contato da
personagem com sua própria
história, como o momento "da
virada", aos 35 anos, quando
trocou a profissão de programadora visual pelo teatro.
Cadeira de balanço
"Você começa a envelhecer e
pensar como vai ser quando
sentar na cadeira de balanço. Vi
que estava jogando fora minha
vida, tentando me encaixar
num modelo que não era meu.
Explodi com tudo", conta.
Na opinião de Ribas, o desfecho de Alice é menos transformador e, por isso, mais triste.
Mas fazer um filme triste era
mesmo o objetivo de Teixeira.
"Sou um homem muito triste, mas não melancólico. Gosto
mais de um dia nublado, sem
chuva, do que de um dia de sol.
Não acredito quando as pessoas falam que está "tudo ótimo". Não está. A vida é muito
difícil. Nunca está "tudo ótimo'", afirma o diretor.
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