São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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Entrando em cena

Fenômeno cinematográfico representado por "Tropa de Elite 2" , já visto por 9 milhões, promove reinserção do espectador de baixa renda no circuito e impulsiona salas da periferia no ranking dos melhores resultados de público e renda

Luciana Whitaker/Folhapress
Público assiste a Tropa de Elite 2 em sala de cinema em Bangu, no Rio, na última quinta-feira

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Toda terça eles fazem tudo sempre igual. Acumulam-se no saguão, compram um pacote pequeno de pipoca e não deixam lugar vazio.
No Cinesystem do shopping Bangu, na zona Oeste do Rio, o cinema, às terças, custa R$ 7. Para ver "Tropa de Elite 2" numa sessão promocional, é preciso comprar ingresso com pelo menos três dias de antecedência.
O público que se senta à frente da tela em Bangu espelha o fenômeno social que o fenômeno cinematográfico do longa de José Padilha abarca: a volta das classes C e D, em massa, à sala escura.
O filme só registrou público de 9 milhões em cinco semanas porque mobilizou um contingente de espectadores que, por anos, foi excluído da conta das bilheterias.
É que, a partir dos anos 1990, com a chegada dos multiplex e o fim das salas de rua, o cinema foi se tornando programa elitista.
Basta dizer que São Paulo, sobretudo nas regiões nobres, concentra 34% das 2,1 mil salas do país. Só 4% dos municípios com menos de 50 mil habitantes têm cinema.
Pois a taxa de ocupação das salas populares em "Tropa de Elite" veio provar que uma nova faixa de consumidores está disposta a pagar para ver um filme no cinema. Mas não qualquer filme.
"É um público novo, que não tem esse hábito e, por isso, vai ver um filme específico", diz Mauricio Sabbag, da rede Cinesystem, pensada para ser popular.
De acordo com Sabbag, esses consumidores pouco se utilizam da carteirinha de estudante e, em geral, gastam de maneira moderada na bonbonnière.

NOVO ALVO
O que se vê hoje ocorrera, em menor escala, com filmes como "Carandiru"(2003) e "Dois Filhos de Francisco" (2005), indicando que títulos nacionais são uma poderosa isca para esse público.
A diferença é que, naquele momento, o bolso da classe C ainda não tinha entrado na mira dos empresários.
Empreendimentos como o Sulacap (seis salas), no Rio, erguido com o apoio do BNDES, e as oito salas abertas neste final de semana no Largo 13 de Maio, em SP, três delas com tecnologia 3D, estão ligados à aposta nos espaços desocupados e na chamada nova classe média.
O cinema do Largo 13 pertence à rede Cinépolis, a maior do México e a quinta maior do mundo.
O presidente do grupo no Brasil, Eduardo Acuña, diz que, apesar de ser "80% mais caro fazer um cinema aqui que no México", dados impostos, custos trabalhistas e regras como meia-entrada, a aposta mostrou-se válida.
"O México tem metade da população e o dobro do número de salas do Brasil", aponta Acuña. "Ao conhecer bairros como Aricanduva e Jardim Anália Franco, fiquei espantado. Não chegamos ao Brasil por causa da classe C, mas as classes C e D são a nossa grande surpresa aqui."
Para Melanie Schroot, da Rentrak, empresa que mede as bilheterias, mais salas houvesse nas regiões periféricas, mais ingressos "Tropa 2" teria vendido.
"Faltaram salas para absorver tanta demanda", diz a executiva. Prova disso foi a explosão de público em cinemas de Duque de Caxias e São João de Meriti que, pela primeira vez, tiveram rendas maiores que endereços voltados para a classe A.


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