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"AS CONSOLAÇÕES DA FILOSOFIA"
Lições de Alain de Botton misturam insensatez e heresia
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Insensatez é uma palavra
apropriada para definir o projeto do escritor britânico Alain de
Botton em "As Consolações da Filosofia".
Depois de publicar romances
nos quais citações filosóficas irrompiam a qualquer momento
para ajudar a resolver questões
tão prosaicas e essenciais como
"Será que ela me ama?" ou "Devo
mudar de emprego?" ou ainda
"Será que vai chover amanhã?", o
autor lançou-se à seguinte tarefa:
usar o pensamento filosófico como isca para leitores sedentos de
respostas em um livro que pode
ser definido como uma obra de
auto-ajuda.
O humor de Botton, claro, continua intacto. Humor da melhor
cepa, britânico, que fique claro. Só
esses dois esclarecimentos já servem para explicitar que tipo de
leitor o autor pretende atingir, e
desse grupo com certeza não fazem parte nem os chamados filósofos profissionais nem os candidatos a tal.
"As Consolações da Filosofia"
divide-se em seis capítulos, cada
um dedicado a um filósofo em
particular e a um tipo específico
de problema, a saber: impopularidade (Sócrates); falta de dinheiro
(Epicuro); frustração (Sêneca);
inadequação (Montaigne); coração partido (Schopenhauer) e dificuldades (Nietzsche).
O ponto de partida para cada
um desses problemas são as biografias dos filósofos. Como se trata de um livro de auto-ajuda, a
narrativa dessas vidas funciona
aqui como um espelho, no qual
podemos identificar nossas misérias e dúvidas particulares e descobrir ali não uma solução, mas
antes uma "consolação".
O Sócrates e o Nietzsche que
emergem dessas páginas serão
considerados "heresia" aos olhos
de um especialista.
Porém, o que há de extraordinário nas vidas e nas obras desses
pensadores Alain de Botton deixa
a cargo de quem entende de fato
do ramo. O que destaca aqui é o
quanto esses personagens possuem de ordinário, isto é, de comum com a maioria de nós, meros mortais.
E, melhor, atém-se à necessidade de revelar como essas vidas ordinárias tornaram-se capazes de
enfrentar os problemas que a
existência impôs a elas, ou seja,
como tentaram compreender e
superar suas próprias dúvidas e
dificuldades.
A lógica é a mesma que Schopenhauer descobriu ao interpretar o
sucesso alcançado por "Sofrimentos do Jovem Werther", de
Goethe, como expressão de
"idéias" essenciais da psicologia
romântica. Sobre esse assunto,
Botton observa: "Não precisamos
ter vivido na Alemanha na segunda metade do século 18 para entender o que estava envolvido ali.
Existem menos romances do que
pessoas na Terra, as tramas repetem-se sem cessar".
Desse modo, o leitor que não
entende nada de filosofia descobre, por meio de uma leitura ligeira e amena, que essa categoria de
saber, conhecida como difícil e
impenetrável, tem um poder de
esclarecimento muito mais eficaz
do que supõem as vãs conclusões
do senso comum.
Na prática, em seu novo livro
Botton dá continuidade ao projeto iniciado em "Como Proust Pode Mudar Sua Vida".
Um título alternativo poderia
ser "Como a Filosofia Pode Salvar
Sua Vida". Pelo menos da mediocridade na qual chafurda a maioria dos mortais.
As Consolações da Filosofia
Consolations of Philosophy
Autor: Alain de Botton
Tradutora: Eneida Santos
Editora: Rocco
Quanto: R$ 32 (287 págs.)
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