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MERCADO EDITORIAL
Editora que publicou Guimarães Rosa e Drummond muda de dono em negócio avaliado em R$ 2 mi
Record compra a histórica José Olympio
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
As negociações duraram nove
meses. Chegou o momento do
parto. Uma festa esta semana na
Casa de Ruy Barbosa, no Rio, selou a venda da histórica editora
José Olympio para a Record.
O evento comemorava as sete
décadas da editora criada por José
Olympio Pereira (1902-1990), em
novembro de 1931.
As letras J e O, ou jotaó, passam
a ser agora propriedade do grupo
carioca que já havia comprado
nos últimos anos outros selos
marcantes da história do livro no
Brasil, como a Civilização Brasileira, de Ênio Silveira (1925-1996).
O valor da negociação não foi
anunciado, mas o mercado editorial especula que a Record pagou
algo em torno de R$ 2 milhões.
O valor até certo ponto modesto
reflete o estado atual da José
Olympio. A "Casa", como era
chamada a editora, lançou mais
de 6.000 livros ao longo de sua trajetória, mas atualmente tinha cerca de 300 títulos no catálogo.
"Teremos de fazer um programa editorial de emergência. A
editora está parada. No ano passado, só lançou cinco livros", conta Sérgio Machado, 53, presidente
da Record (que lança cerca de 200
títulos a cada ano).
O economista e editor foi quem
fez, bem-humorado, o anúncio da
compra da José Olympio. "Se estivesse vivo, José Lins do Rego não
estaria aqui esta noite, porque o
Flamengo está jogando", começou Machado, em referência ao
flamenguismo doentio do escritor paraibano, autor de "Menino
de Engenho", e à partida que o rubro-negro jogava aquela noite no
vizinho Maracanã.
Um dos nomes mais emblemáticos lançados pela JO, Lins do Rego (1901-57) era uma das últimas
grandes atrações do catálogo da
editora, ao lado de obras do poeta
e crítico Ferreira Gullar e de títulos infanto-juvenis de Lygia Bojunga Nunes e de Chico Buarque
("Chapeuzinho Amarelo").
Carlos Drummond de Andrade,
Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Rachel de
Queiroz e outros tantos projetados por José Olympio já estavam
em mãos de outras editoras.
"Mais do que um catálogo, queríamos a inspiração do José
Olympio, a de uma casa do autor
brasileiro. Queremos procurar
uma nova geração. Vamos pensar
no futuro usando o passado como
exemplo", diz Sérgio Machado,
que cogita criar um concurso literário de inéditos ainda em 2002,
quando devem ser lançados 25 títulos pela José Olympio.
A coleção "Documentos Brasileiros", uma das marcas da JO,
que lançou ensaios como "Raízes
do Brasil", de Sérgio Buarque de
Holanda, não deve ser ressuscitada. Também deixa de ganhar oxigênio, por enquanto, a velha conversa que ronda o mercado sobre
a venda da Record para algum
grupo editorial de fora.
"A compra da JO aponta direção contrária a esses boatos. Apesar de que fortalece o Grupo Record. Nós, como uma moça de 18
anos, estamos malhando. Quem
sabe um dia não aparece um cara
legal", brinca Machado.
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