São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2001

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MERCADO EDITORIAL

Editora que publicou Guimarães Rosa e Drummond muda de dono em negócio avaliado em R$ 2 mi

Record compra a histórica José Olympio

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

As negociações duraram nove meses. Chegou o momento do parto. Uma festa esta semana na Casa de Ruy Barbosa, no Rio, selou a venda da histórica editora José Olympio para a Record.
O evento comemorava as sete décadas da editora criada por José Olympio Pereira (1902-1990), em novembro de 1931.
As letras J e O, ou jotaó, passam a ser agora propriedade do grupo carioca que já havia comprado nos últimos anos outros selos marcantes da história do livro no Brasil, como a Civilização Brasileira, de Ênio Silveira (1925-1996).
O valor da negociação não foi anunciado, mas o mercado editorial especula que a Record pagou algo em torno de R$ 2 milhões.
O valor até certo ponto modesto reflete o estado atual da José Olympio. A "Casa", como era chamada a editora, lançou mais de 6.000 livros ao longo de sua trajetória, mas atualmente tinha cerca de 300 títulos no catálogo.
"Teremos de fazer um programa editorial de emergência. A editora está parada. No ano passado, só lançou cinco livros", conta Sérgio Machado, 53, presidente da Record (que lança cerca de 200 títulos a cada ano).
O economista e editor foi quem fez, bem-humorado, o anúncio da compra da José Olympio. "Se estivesse vivo, José Lins do Rego não estaria aqui esta noite, porque o Flamengo está jogando", começou Machado, em referência ao flamenguismo doentio do escritor paraibano, autor de "Menino de Engenho", e à partida que o rubro-negro jogava aquela noite no vizinho Maracanã.
Um dos nomes mais emblemáticos lançados pela JO, Lins do Rego (1901-57) era uma das últimas grandes atrações do catálogo da editora, ao lado de obras do poeta e crítico Ferreira Gullar e de títulos infanto-juvenis de Lygia Bojunga Nunes e de Chico Buarque ("Chapeuzinho Amarelo").
Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Rachel de Queiroz e outros tantos projetados por José Olympio já estavam em mãos de outras editoras.
"Mais do que um catálogo, queríamos a inspiração do José Olympio, a de uma casa do autor brasileiro. Queremos procurar uma nova geração. Vamos pensar no futuro usando o passado como exemplo", diz Sérgio Machado, que cogita criar um concurso literário de inéditos ainda em 2002, quando devem ser lançados 25 títulos pela José Olympio.
A coleção "Documentos Brasileiros", uma das marcas da JO, que lançou ensaios como "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, não deve ser ressuscitada. Também deixa de ganhar oxigênio, por enquanto, a velha conversa que ronda o mercado sobre a venda da Record para algum grupo editorial de fora.
"A compra da JO aponta direção contrária a esses boatos. Apesar de que fortalece o Grupo Record. Nós, como uma moça de 18 anos, estamos malhando. Quem sabe um dia não aparece um cara legal", brinca Machado.


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