São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Brasil em série

"Espaços da Arte Brasileira" lança cinco novos títulos, sob a coordenação de Rodrigo Naves

RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO

A coleção "Espaços da Arte Brasileira", da editora Cosac & Naify, é a cara de seu idealizador, o crítico Rodrigo Naves, 46. Disposta a operar uma hierarquia no terreno em que se move e a fechar lacunas na história visual brasileira, há três anos vem lançando fornadas de cinco a seis títulos anuais. "Arte é valor. Não cabe todo mundo" é o mote de Naves sobre a coleção, um sucesso de vendas.
Pois bem, e aí vai a má notícia: o crítico está deixando a direção da série, depois de lançar 16 títulos. "Não houve nenhum desentendimento. Só não aguento mais falar ao telefone com as pessoas", diz, sobre os percalços de edição.
A boa notícia é que a série está chegando mais uma vez às livrarias hoje, com os últimos cinco volumes editados por Naves. Se o caso é hierarquizar e defender valores, a nova safra atinge seus objetivos, com uma lista de grandes nomes da arte brasileira: da arquitetura moderna e fundadora de Lucio Costa e o paisagismo inovador de Burle Marx, até a trajetória lírica e solitária de Mira Schendel, passando pelo construtivismo escultórico de Franz Weissmann e pelo expressionismo pictórico de Jorge Guinle.
Como sempre, são ensaios monográficos sobre os artistas, que relacionam suas obras com o contexto mais amplo da produção artística brasileira e sua descontinuidade. Completam a edição cerca de 120 ilustrações, cronologia e bibliografia, resultado de pesquisa muitas vezes pioneira, caso do livro dedicado a Guinle.
"De todas as artes no Brasil, as artes plásticas ainda são as que têm menos visibilidade", diz Naves. "Sempre quis entender isso bem, o livro "A Forma Difícil" era um pouco para isso." A coleção lida, então, com esses vazios críticos da arte brasileira. "A confusão ainda é muito comum."
A maior aceitação da série se deu entre estudantes, atraídos pelo preço (originalmente R$ 33, agora R$ 41) e pelo didatismo. Três títulos tiveram suas tiragens comerciais de 2.400 exemplares esgotadas (Goeldi, Volpi e Dacosta) e estão na segunda edição, fato raro entre livros de arte no Brasil. Mas nem tudo é bom.
A dificuldade de obter autorização da família de alguns artistas, ao lado da escassez de textos críticos de qualidade, são algumas dificuldades. "Dentro dos limites, até que avançamos. Inclusive na formação de profissionais da área, que tiveram oportunidade de publicar um ensaio maior pela primeira vez. Mas ainda há muito a fazer", afirma.
A Cosac & Naify ainda não sabe quem substituirá Rodrigo Naves diante da série "Espaços da Arte Brasileira", mas pensa em modificações no conceito, como não mais lançar todos os títulos de uma vez. Da fase inicial da coleção, contudo, ainda restam projetos em andamento: títulos sobre Guignard, Iberê Camargo, Rino Levi e outros nomes do modernismo brasileiro. "Pegar a Tarsila, por exemplo, e ver o que sobra daquilo", diz Naves. "Mas enquanto eu tocasse, jamais faria um número sobre Portinari", dispara o crítico. "Já é muito valorizado."


ESPAÇOS DA ARTE BRASILEIRA - lançamento de novos títulos da série: "Lucio Costa", por Guilherme Wisnik, "Burle Marx", por Vera Beatriz Siqueira, "Mira Schendel", por Maria Eduarda Marques, "Franz Weissmann", por Sônia Salzstein, e "Jorge Guinle", por Christina Bach. Editora: Cosac & Naify (tel. 0/xx/ 11/3218-1444). 128 págs. R$ 41. Patrocinador: banco BBM. Lançamento hoje, às 11h30, na Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 0/xx/11/251-5271).


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