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ANÁLISE
Por que adiar a reunião da Ancinav?
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A reunião plenária do Conselho de Cinema prevista para depois de amanhã foi desmarcada. Fala-se uma nova data em janeiro, no meio das férias de verão. Por que esse adiamento?
Dificilmente os nove ministros e
18 representantes do setor e da sociedade civil cancelaram a reunião por falta de tempo para coroar um processo de negociação
espinhoso, mas aberto à manifestação dos mais diversos segmentos envolvidos. As pressões sobre
a criação da Ancinav são imensas.
Basta lembrar que a Ancine era
Ancinav até a véspera da promulgação da medida provisória que a
instituiu. A pressão das emissoras
de TV levou à redução da agência
ao âmbito do cinema.
A Agência Nacional do Audiovisual proposta no projeto gestado no Ministério da Cultura mexe
com interesses pesados: televisão,
telefonia celular, monopólio de
direitos autorais etc. Ela confronta as arquipoderosas emissoras de
TV, que superaram temporariamente suas diferenças, se aliaram
com outros segmentos empresariais, fundaram uma nova entidade, o Fórum do Audiovisual e do
Cinema (FAC), que se reúne hoje
em São Paulo para defender a "liberdade de expressão e a livre iniciativa" (sic).
Ironicamente cineastas remanescentes do cinema novo legitimam a reunião se prestando a enfeitar um bolo de gosto duvidoso.
É difícil imaginar que quase 20
anos depois da queda do Muro de
Berlim, em plena democracia brasileira, um projeto de regulamentação do setor do audiovisual
ameace a propriedade privada e a
liberdade de expressão.
Afinal, que cláusulas tão bombásticas esse projeto contém? Esperamos que os interesses contrariados expressem suas reivindicações em termos bem concretos.
Ou ficará a sensação desagradável de que corporações falam
mais alto que o interesse público
justamente em um momento em
que a tecnologia digital acena com
uma série de possibilidades libertadoras.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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