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COMIDA
De olho no passado da culinária brasileira, chefs contam como montar ceias com ingredientes tropicais
Natal nos trópicos
RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tender, peru e chester, ameixas
argentinas, nozes chilenas, castanhas portuguesas. Estes e outros
ingredientes são tão associados à
ceia natalina que a maioria não se
recorda de um passado em que
não era fácil encontrá-los, e os
produtos tropicais eram as únicas
alternativas.
Como lembra o professor de
história da alimentação do Senac
de Campos do Jordão, João Luís
de Almeida Machado, no início
da década de 50 a população brasileira ainda estava concentrada
na zona rural (apenas 37% viviam
em cidades, segundo o IBGE), em
condições que tornava a escolha
de ingredientes e receitas para a
festa muito mais restrita.
De acordo com Machado, a
crescente urbanização nas décadas seguintes foi a responsável pela consolidação, entre as classes
média e alta, do hábito de consumir alimentos "importados" de
Portugal, como peru e bacalhau.
"Antes, eram utilizados produtos
da fazenda, como o porco assado,
peixes de rio e as recorrentes farofas. As frutas secas também não
eram fáceis de encontrar", afirma.
Nos últimos anos, depois que
grandes chefs passaram a empregar ingredientes tropicais em suas
receitas, eles voltaram a ser valorizados. Para Machado, fatores como preço, disponibilidade de
produtos frescos e adequação ao
clima também influenciaram esse
movimento.
De olho nesta tendência, a Folha conversou com alguns chefs
sobre sugestões para montar uma
ceia que fosse a cara do Brasil.
"Tradicionalmente, na Europa, se
serve javali. Podemos substituí-lo
pelo javaporco (híbrido de porco
e javali), que possui uma carne
muito macia e um pernil de sabor
acentuado", diz Fabio de Freitas,
chef do Grande Hotel Águas de
São Pedro.
As frutas vermelhas, comumente utilizadas para acompanhar
carnes, podem ser trocadas por
frutas cítricas, caldo de cana, maracujá ou até mesmo guaraná.
"Um frango recheado com farofa
de castanha brasileira e molho de
maracujá não passa vergonha
frente ao peru", diz Freitas.
Para a sobremesa, frutas tropicais como banana, abacaxi, manga e jaca compõem belos doces.
Freitas sugere uma compota de
acerola, outra fruta muito abundante nesta época, enquanto a
chef Morena Leite, do Capim Santo, de São Paulo, aposta no mil folhas de jaca. "Sempre tive uma
cisma com o Natal, por não ser
uma festa brasileira", afirma. Desde que passou a elaborar sua própria ceia, ela costuma trocar o pudim de nozes por um flan de castanha-do-pará e fazer outras
adaptações.
Já Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas (SP), que criou
a receita do lombo para a Folha,
indica uma "farofa" de frutas tropicais para acompanhar. "Gosto
de usar ingredientes brasileiros
fazendo uma leitura mais contemporânea", afirma.
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