São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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NINA HORTA

Comer com devoção

Estou devendo uma porção de respostas que podem interessar a todos os leitores. Alguém me dá o endereço de um produto para amaciar o pato caipira ou qualquer outro que seja duro e que demore horas para cozinhar. Praça da Liberdade, 83 (Meisin). Diz que não é muito fácil achar quem fale português, mas, se você estiver com uma pato duro debaixo do braço, com certeza vai se fazer entender.

 

Está chegando o Natal. Todo mundo adora castanha portuguesa cozida com casca, quentinha, descascada uma por uma, ou, suprema delícia, já descascada e congelada, semicozida no empório Santa Luzia. Não é preciso comprar todas, tem o ano inteiro.
 

Acho num caderninho de monjas uma receita de recheio de castanhas para pastéis. "...passadas na peneira pode-se juntar o que quiser: chocolate ralado, rum, açúcar, raspinhas de limão, canela, amêndoas tostadas peladas e trituradas. Misturar tudo até dar liga. Depois se faz uma massa delicadíssima de pastéis, (ou compra pronta na feira, mesmo) que se recheiam com as castanhas e são fritos. Polvilha-se muito açúcar e muita canela e se come com devoção. (Esta é a parte principal, comer com devoção não engorda nem é pecado.)
 

Só as monjas faziam doces e papeizinhos recortados como os que se usam agora, novamente. Não há festa de casamento sem doces, sem mesa de doces de pegar com a mão, com fôrmas de todos os jeitos. São lembranças das antigas mulheres de convento, que, rezando, recortavam com tesourinha os papéis e embrulhavam os doces, trabalho de chinês com dentista, de tão delicado. Ressuscitaram, andam às soltas em São Paulo, competindo feio com as monjas de antanho, mas num sistema quase industrial.
Temos duas freiras que trabalham para nós, muito malucas, deveriam ser tombadas como as últimas espécies do Brasil. É brincadeira, são doceiras, simplesmente, Mônica e Naná, moram no Rio, fazem barrigas de freira, o nome do doce vem, supostamente, de barriga de freira não tomar sol nunca. As de Copacabana, sabe-se lá. A hóstia é dobrada como um pastel e recheada com doce de ovos, de uma amarelo claro, sombreado pelo marfim da cobertura. Existe mais gente que faz o mesmo doce, portuguesas geralmente. Mas os doces de Mônica e Naná não têm nada a ver com estes que vemos por aí, ou alguma vezes comemos nos restaurantes do Rio. Duram dois dias no máximo, são absolutamente perfeitos, feitos de madrugada e, adivinhem se é possível, trazidos de táxi por uma delas até São Paulo. Não, não é de avião, pois não poderiam vir abraçadas às caixas, é de táxi, mesmo. Chegam aqui lá pelo meio-dia (só atendem a pedidos mínimos de mil doces), preparam as bandejas, asseguram-se que nada quebrou, que vai ser servido naquele dia mesmo, e lá se vão embora no táxi que espera na porta! Já imploramos para que mandassem, de táxi que seja, mas mandassem, nós arrumaríamos as bandejas. São de uma teimosia portuguesa arquetípica, ciosas da excelência. Admiro as duas e dou a São Paulo o nome e telefone, pois não merecem ficar escondidas dos paulistas, e nós ganhando os elogios com a mão do gato. (Mônica e Naná, tel. 0/xx/21/ 2557-4076 ou 0/xx/21/2556-3460). De nós cobram R$ 2,50 por doce, sem embalagem.
 

Aproveitando o Prêmio Nobel, entregue na semana passada, vejam que interessante. Todos os banquetes de todos os anos da festa. Podem aproveitar para seus menus de Natal: nobelprize.org/nobel/events/ menus/soderlind/index.html


@ - ninahort@uol.com.br

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