São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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Música - Crítica/MPB

Em "Duetos", Roberto Carlos oscila entre o sofisticado e o cafona

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Este ano, Roberto fez diferente. Em vez do tradicional disco de inéditas de fim de ano, resolveu compilar alguns duetos gravados ao longo das mais de três décadas de especiais de Natal na Rede Globo. Tom Jobim, Caetano Veloso, Chitãozinho & Xororó, Jota Quest aparecem cantando com o Rei neste "Duetos" em variáveis níveis de qualidade e cafonice.
Roberto Carlos não é um artista sofisticado. Com seu enorme talento pop, ele sabe, sim, utilizar sofisticação para criar canções, assim como também não hesita em recorrer ao mais deslavadamente popularesco.
Longe da riqueza musical de um Tom Jobim ou da intelectualidade de um Caetano Veloso mas também distante da pobreza musical e conceitual de Chitãozinho & Xororó e Jota Quest, nestes novos CD e DVD, Roberto encontra-se exatamente entre os dois pólos.

Persona
Por ser ele quem é, quando qualquer pessoa canta com Roberto, ela canta com Roberto, e não vice-versa. Sua voz, sua interpretação, seus trejeitos, sua personalidade, sua persona já viraram uma marca maior do que ele mesmo, maior que a vida. Tradições viraram rotina, rotinas viraram costumes, costumes viraram manias. Fugir disso é risco -e riscos são riscos, afinal, mas são também crescimento artístico.
"Duetos", com gravações feitas entre 1977 e 2005, mostra o processo de estagnação de Roberto em seu próprio mundo fechado. É inevitável a qualquer artista de seu porte estar cercado de assessores, amigos, fãs, músicos, críticos que só lhe dizem "sim". A responsabilidade de dizer "isso não, Roberto" só cabe a ele mesmo e à sua consciência.
Qual seria o efeito de alguém contar a ele que dizer que Jota Quest é "a grande banda de rock do Brasil" e cantar "Além do Horizonte" com a ponte alterada da negativa para a afirmativa é algo tremendamente constrangedor? Ou avisar a ele que repetir demais palavras como "emoção", "alegria", "amigos" e "ternura" fazem as palavras perderem o efeito e só tornarem apenas bordões vazios?
O resultado é assim: uma gravação é excelente (com Tom Jobim). Algumas outras acabam sendo divertidas pelo jeito kitsch que possuem (com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Milton Nascimento). Outras são simplesmente ruins (com Gal Costa, Chitãozinho & Xororó, Jota Quest). Outras são apenas esquecíveis (com Ivete Sangalo, Fagner, Sérgio Reis e Almir Sater).


DUETOS   
Artista: Roberto Carlos
Lançamento: SonyBMG
Quanto: CD: R$ 29, em média; DVD: R$ 49, em média


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