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Música - Crítica/MPB
Em "Duetos", Roberto Carlos oscila entre o sofisticado e o cafona
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Este ano, Roberto fez diferente. Em vez do tradicional
disco de inéditas de fim de ano,
resolveu compilar alguns duetos gravados ao longo das mais
de três décadas de especiais de
Natal na Rede Globo. Tom Jobim, Caetano Veloso, Chitãozinho & Xororó, Jota Quest aparecem cantando com o Rei neste "Duetos" em variáveis níveis
de qualidade e cafonice.
Roberto Carlos não é um artista sofisticado. Com seu enorme talento pop, ele sabe, sim,
utilizar sofisticação para criar
canções, assim como também
não hesita em recorrer ao mais
deslavadamente popularesco.
Longe da riqueza musical de
um Tom Jobim ou da intelectualidade de um Caetano Veloso mas também distante da pobreza musical e conceitual de
Chitãozinho & Xororó e Jota
Quest, nestes novos CD e DVD,
Roberto encontra-se exatamente entre os dois pólos.
Persona
Por ser ele quem é, quando
qualquer pessoa canta com Roberto, ela canta com Roberto, e
não vice-versa. Sua voz, sua interpretação, seus trejeitos, sua
personalidade, sua persona já
viraram uma marca maior do
que ele mesmo, maior que a vida. Tradições viraram rotina,
rotinas viraram costumes, costumes viraram manias. Fugir
disso é risco -e riscos são riscos, afinal, mas são também
crescimento artístico.
"Duetos", com gravações feitas entre 1977 e 2005, mostra o
processo de estagnação de Roberto em seu próprio mundo
fechado. É inevitável a qualquer artista de seu porte estar
cercado de assessores, amigos,
fãs, músicos, críticos que só lhe
dizem "sim". A responsabilidade de dizer "isso não, Roberto"
só cabe a ele mesmo e à sua
consciência.
Qual seria o efeito de alguém
contar a ele que dizer que Jota
Quest é "a grande banda de
rock do Brasil" e cantar "Além
do Horizonte" com a ponte alterada da negativa para a afirmativa é algo tremendamente
constrangedor? Ou avisar a ele
que repetir demais palavras como "emoção", "alegria", "amigos" e "ternura" fazem as palavras perderem o efeito e só tornarem apenas bordões vazios?
O resultado é assim: uma gravação é excelente (com Tom
Jobim). Algumas outras acabam sendo divertidas pelo jeito
kitsch que possuem (com Caetano Veloso, Maria Bethânia,
Milton Nascimento). Outras
são simplesmente ruins (com
Gal Costa, Chitãozinho & Xororó, Jota Quest). Outras são apenas esquecíveis (com Ivete
Sangalo, Fagner, Sérgio Reis e
Almir Sater).
DUETOS
Artista: Roberto Carlos
Lançamento: SonyBMG
Quanto: CD: R$ 29, em média; DVD:
R$ 49, em média
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