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Crítica/"O Castelo na Floresta"
Norman Mailer deixa ficção constrangedora sobre a vida de Hitler
Último romance do autor morto em novembro tem descrições toscas, personagem infantilizado e total falta de ritmo narrativo
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O Castelo na Floresta", o último romance da carreira
de Norman Mailer (1923-2007), é ruim de tantos jeitos
diferentes e em tantas dimensões que fica até difícil escolher
um deles para comentar.
O livro consegue o feito de
competir em igualdade de condições com "O Evangelho Segundo o Filho" (ed. Best-Seller), seu antecessor, publicado
pelo norte-americano dez anos
atrás.
Do ponto de vista literário, o
mais importante de todos, essa
biografia fictícia de Adolf Hitler
em seus primeiros anos e seus
antepassados acumula momentos de absoluto constrangimento, das descrições de cenas de sexo toscas a um narrador-demônio infantilizado que
mereceria, de fato, nunca ter
deixado as chamas do mundo
subterrâneo... Isso para não falar da completa falta de ritmo
da narrativa, esticada em mais
de 400 páginas.
Mailer afirmou em uma entrevista que foi um dos poucos
a compreender o genocida. Cada um tem direito de acreditar
no que quiser, mas as explicações histórico-psicanalítico-demonológicas apresentadas
no livro (incesto dos pais, ausência de um testículo, influência diabólica) são tão pueris que
terminam por banalizar algo
não facilmente banalizável.
Holocausto
Não sei se concordo com uma
longa lista de estudiosos do Holocausto que julgam que os
acontecimentos ligados à Segunda Guerra Mundial não deveriam ser estetizados, porque
terminam fatalmente tornando aceitável, normal, um evento no limite irrepresentável,
cuja compreensão adequada só
poderia acontecer por quem esteve lá (e quase todos que lá estiveram morreram; os sobreviventes dizem, por outro lado,
que nada do que possam testemunhar chegará perto da realidade).
Mas é problemático não concordar que um livro como este
fortalece muito a hipótese.
De qualquer modo, se a intenção é provocar debate (e
mesmo polêmica), fica aqui a
sugestão de uma obra que, se
traduzida, faria isso de um jeito
muito mais refinado e complexo, a novela "The Portage to
San Cristóbal of A.H." (O transporte para San Cristóbal de
A.H.), de George Steiner.
Ao contar como Hitler é encontrado vivo em 1977 e ao dar
a ele voz, o escritor e crítico literário cria uma história -e um
inferno- bem mais sombrio.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) da USP.
O CASTELO NA FLORESTA
Autor: Norman Mailer
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 55 (430 págs.)
Avaliação: péssimo
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