São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Outra opinião/"Rebobine, por Favor"

Filme manda às favas perfeição dos efeitos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Para começo de conversa, "Rebobine, por Favor" não é uma obra-prima nem confirma para seu diretor, Michel Gondry, o lugar de gênio. Além de ser uma ficção totalmente simpática, o que a torna no mínimo interessante é sua capacidade de representar modos novos de uso e de circulação das imagens.
Como apontou com acuidade Bruno Yutaka Saito em seu comentário na Ilustrada da última sexta, o filme promove um elogio do "faça você mesmo" que a geração YouTube, com seu modo de produzir, circular e descartar, definiu como "novo paradigma". Neste sentido e também no modo positivo como valoriza uma mídia potencialmente arcaica -pode-se ler o VHS do filme como sinônimo do cinema-, "Rebobine, por Favor" é o contrário da visão passadista e ultrapassadíssima que ficções de outras épocas, como "Cinema Paradiso", promoveram.
A imagem projetada em "Rebobine, por Favor" é outra, portanto. Outra imagem de cinema e, sobretudo, outros modos de se relacionar com as imagens, de construí-las e de preenchê-las de sentidos. Não se trata mais de cultuá-las, como muitas gerações viveram o fervor religioso da cinefilia. Trata-se agora de apropriação (desrespeitosa, se a avaliação for moral, ou ilegal, se o interesse for o da indústria), de contrafação (como os milhares de "fanfictions") e de compartilhamento (a maior cinemateca do mundo ao alcance de qualquer mortal).
Além de brincar com estas significações, "Rebobine, por Favor" tem como mérito o recuo ao passado mais longínquo do cinema para tentar reaver o que se extraviou. É com o mais puro espírito Méliès, o genial artesão francês que inventou o cinema ao reconfigurar uma máquina, que Gondry inocula seu trabalho, mandando às favas a perfeição dos efeitos e da pós-produção.
No fundo, seu filme é valioso porque aponta direções sem ser utópico e mostra que o cinema continua vivo e sendo feito de muitas maneiras, não mais só naquela, restritiva, que denominamos cinema. REBOBINE, POR FAVOR
Avaliação: ótimo



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