São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Curador reduz obras para aumentar diálogo

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O alemão Jochen Volz não se assusta com a árdua tarefa de ser co-curador da próxima edição da Bienal de Veneza, a 53ª, que começa em junho de 2009, sob o tema "Fazer Mundos".
A mais tradicional mostra de artes plásticas do mundo tem curadoria do sueco Daniel Birnbaum, parceiro de Volz entre 2001 e 2004 no centro cultural Portikus, sediado em Frankfurt. No espaço, por exemplo, Cildo Meireles criou especialmente para o local "Occasion", grande instalação hoje remontada na TrAIN, ligada à University of the Arts London, exibida paralelamente à grande exposição de Meireles na Tate Modern. Entre outros que tiveram individuais na Portikus, estão Dominique Gonzalez-Foerster e Gilbert & George.
"Não devemos nos assustar com a carga histórica da Bienal de Veneza, nem com o seu formato e escala. É preciso, antes, tirar proveito de tudo isso. Planejamos uma exposição com número reduzido de artistas, incluindo algumas referências históricas que podem ser vistas como fontes inspiradoras para as gerações mais novas. Pretendemos também a inclusão de espaços até então pouco ou nada utilizados para mostras expositivas", afirma Volz à Folha, antes ir morar em Frankfurt, onde vai dar aulas na Städelschule, a escola de arte da cidade, mais próxima de Veneza.
"Mas, ao final, são ainda as obras de arte que devem ser fortes o suficiente para suscitar questões realmente pertinentes", conta ele. "Sempre me interessou uma proximidade com os processos da produção e lugares da criação artística mais do que o museu tradicional, que prioriza a apresentação de obras acabadas."
Curador do Centro de Arte Contemporânea Inhotim e curador convidado da 27ª Bienal de São Paulo, o crítico alemão é fã de jovens artistas brasileiros.
"Por vir morar em Belo Horizonte, tive a oportunidade de acompanhar três edições do excelente programa bolsa Pampulha, no Museu de Arte da Pampulha. As exposições chamaram minha atenção para vários artistas que eu não conhecia e que pertencem a uma geração mais nova, seja Amanda Melo, Cinthia Marcelle, Débora Bolsoni, Marcellvs L., Rodrigo Matheus, Thiago Rocha Pitta e muitos outros."
Em Veneza, Birnbaum e Volz devem expor uma perspectiva menos eurocentrista da arte contemporânea, reflexo do que Volz considera uma tendência mais global da área nos últimos 20 anos. "Artistas, obras, público e informações viajaram mais e muito mais rápido pelo mundo. Isso fez com que a divisão bipolar centro e periferia se dissolvesse. Embora cidades como Nova York, Londres ou Berlim ainda sejam centros ultraconcentrados de produção artística, a história da arte eurocentrista ou norte-americana não se sustenta da mesma forma que há décadas atrás. Não é mais possível contar a história da arte de maneira simplista e linear", diz o curador, que exemplifica seu olhar pelo que exibe em Inhotim.


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