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Livro visita região do Alto Rio Negro
"Cabeça do Cachorro" reúne textos de Drauzio Varella e fotos de Araquém Alcântara sobre a parte mais preservada da Amazônia
Com lançamento amanhã, título faz panorama histórico da região,
onde 23 etnias indígenas vivem há 3.000 anos
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Peque o mapa do Brasil.
Olhe para cima e para a esquerda, no extremo noroeste do Estado do Amazonas. O contorno
da fronteira com Venezuela e
Colômbia não desenha a cabeça de um cachorro?".
É dessa forma sucinta e precisa que o médico, escritor e colunista da Folha Drauzio Varella apresenta ao leitor a região
do Alto Rio Negro, na qual o
conduzirá numa expedição repleta de histórias, percalços e
paisagens delirantemente belas que ganham cores no ensaio
fotográfico de Araquém Alcântara no livro "Cabeça do Cachorro", que será lançado amanhã no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.
Umas das regiões menos habitadas do mundo, com densidade populacional de 0,25 habitante por quilômetro quadrado, a região da Cabeça do Cachorro, como é popularmente
chamada, é também conhecida
como a parte mais preservada
da floresta amazônica.
Segundo o arqueólogo
Eduardo Neves, ali vivem 23
etnias indígenas há mais de
3.000 anos, que preservam
costumes, como os idiomas falados há 500 anos.
Histórico detalhado
Apoiado em textos de expedições científicas realizadas na
região no século 16 ou à Viagem
Philosofica, organizada pelo
Marquês de Pombal, em 1785,
Varella, com a ajuda do sociólogo Jefferson Peixoto, consegue
traçar um detalhado panorama
histórico da região.
As ilustrações raras de traço
refinado, do século 16, que representam a flora e a fauna
amazônica, além das fotografias realizadas entre 1906 e
1907 pelo etnólogo alemão
Theodor Koch-Grünberg
(1872-1924), enriquecem sobremaneira a narrativa.
Um dos episódios que se destacam é quando o autor descreve a relação dos portugueses
com os índios. Empossados como "diretores de índio", comerciantes locais, em 1754, invadiam tribos e mandavam
mulheres e crianças para os
aliados. Homens e meninos viravam mão-de-obra para o comerciante. "Com conivência do
governo, as crianças que não
fugissem ou morressem, eram
levadas para trabalhar em casas
de família", diz Alfred Russel,
em texto de 1851.
Ensaio fotográfico
A segunda parte de "Cabeça
do Cachorro" é dedicada ao Alto do Rio Negro contemporâneo, em ensaio fotográfico assinado por Araquém Alcântara,
autor que detém o maior e mais
relevante acervo de fotografias
da fauna e flora brasileiras, acumulado nos seus quase 40 anos
de carreira.
O ensaio começa com retratos em belos contrastes de luz e
sombra de diversas etnias ribeirinhas, como os Baníua, os
Curipacos e os Barés, para em
seguida mostrar a relação desses com os rios Negro e Içana.
Bonitas imagens de pequenas embarcações em tons azulados e prateados fazem a transição para a seqüência de fotografias em que os índios aparecem na floresta, em meio aos
seus afazeres, rotinas.
Um registro de garimpo é a
senha para a mudança de tom
no ensaio. A partir daí vemos os
índios (mal) integrados nas regiões mais urbanizadas, participando de cultos em igrejas
evangélicas ou como mascates
no comércio.
A última história narrada por
Drauzio dá bem o tom desta
mudança de hábitos ainda conflituosa. Numa reunião em que
índios tucanos reclamavam da
falta de energia elétrica na comunidade para um coronel do
exército, um deles pegou o microfone e declarou: "Não sou
mais índio nu como meu avô
que vivia no mato. Também
preciso de civilização, de energia e de computador em casa.
Sou índio integrado, o que é
melhor tem que ser meu. Tudo
de bom que chega para o branco eu vou abraçando".
CABEÇA DO CACHORRO
Autor: Drauzio Varella e Araquém Alcântara
Editora: Terra Brasil
Quanto: R$ 145 (216 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h, no
Museu da Casa Brasileira (av. Brig.
Faria Lima, 2.705; tel.:0/xx/11/
3032-3727)
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