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Ernesto Neto exibe megaescultura
Obra de cinco metros de altura mistura referências e mitos de brasilidade em chapas de aço de 400 kg
DA REPORTAGEM LOCAL
Ernesto Neto faz escultura
"unplugged". Não que as chapas de aço no trabalho que expõe em São Paulo tenham sido
cortadas à mão. Foram jatos de
água que desenharam as formas orgânicas, quase folhas
metálicas, empilhadas na obra
de cinco metros de altura.
"É superfrio, mas tem esse
calor da oxidação, um grupo de
partículas em transe que se encontram para uma espécie de
dança", descreve Neto. "Tem
essa industrialidade doce."
Doce como podem ser as folhas modernas nas paisagens
urbanas de Tarsila do Amaral, a
antropofagia digerida pelos
cortes no aço de um Sergio Camargo, Amilcar de Castro.
Depois das formas em tecido,
ambientes imersivos que costuma criar para aguçar os sentidos dos espectadores, Neto
condensa mitos e referências
de brasilidade no peso sintético
de chapas de aço, contraste máximo entre densidade e leveza.
Não transparecem na forma,
mas Neto jura que na escalada
de folhas industriais da escultura estão acenos ao traçado
urbano de Belo Horizonte, à
miscigenação entre brancos,
negros e índios, à maternidade
-nem tudo nessa ordem.
"Essa escultura tem a geometria, o inesperado, a dança", diz
Neto. "Vejo essa geometria numa terra mole, mistura de Estados Unidos com belle époque, a
escala de São Paulo, o urbanismo que modela o modo de ser."
Neto gosta de dizer que não é
ocidental, que o Brasil está fora
do mundo europeu, norte-americano, das raças distintas,
separadas e catalogadas. Mas é
um artista que, como todos, vive desse modelo ocidental de
espetacularização da arte.
Mistura inglês e português,
sertão com Paris, e fala de coisas pesadas e ao mesmo tempo
leves, como parece ser essa
mesma lógica de espetáculo e
circulação. Do inglês, empresta
os polos de seu paradigma:
"Não somos "pure" [puros], somos "poor" [pobres]".
(SM)
ERNESTO NETO
Quando: ter. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 10h às 17h; até 12/2
Onde: Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, tel. 0/ xx/11/ 3392-3942)
Quanto: entrada franca
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