São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 |
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CRÍTICA INSTRUMENTAL Naná Vasconcelos batuca na água e provoca visão musical CARLOS BOZZO JUNIOR COLABORAÇÃO PARA A FOLHA "Sinfonia & Batuques" é o novo CD de 13 faixas do percussionista pernambucano Juvenal de Holanda Vasconcelos, ou Naná Vasconcelos, 66, que estava há quatro sem lançar um disco. De "Africadeus" (1971), seu primeiro álbum, até o mais recente -gravado neste ano em Recife-, o músico amealhou mais de 30 discos, participações em gravações e respeito mundial. Tornou-se um mestre em realizar música produzindo sons por meio de instrumentos convencionais ou não de percussão, como a água. Na piscina de sua casa, Naná criou sons com as mãos, gravou-os e os levou para o estúdio registrando-os em "Batuque nas Águas - Aquela do Milton", faixa 2. Além da experiência de fazer da água percussão, a música é uma homenagem a Milton Nascimento. Enquanto tocava com o mineiro, na década de 60, o percussionista aprendeu vários instrumentos indígenas, além do berimbau que abre graciosamente "Santa Maria", faixa 10. A faixa 13 (multimídia) traz a imagem do músico tocando nas águas do litoral pernambucano. FUSÃO ORQUESTRAL Aqui fica clara sua semelhança com o jogador de futebol Paulo César Caju e mostra que Naná também é mestre em "jogadas". Entre elas, a de induzir o ouvinte a imaginar cenários. Confira na faixa 5, homônima do CD, como é fácil "ver" uma orquestra ensaiando, enquanto grupos de batuques (maracatu e frevo) passam por ela e ninguém para de tocar. Na fusão, confunde-se se é a orquestra que funciona como pano de fundo para o batuque ou vice-versa. Certeza é a de que é uma música bonita de se "ver". Em "Chorrindo", faixa 8, você "verá" Naná sorrindo e chorando "percussivamente" nos remetendo aos sons dos Barbatuques, Cyro Baptista ou Meredith Monk. Todo cuidado é pouco ao se ouvir "Pra Elas", faixa 4. Música, letra e arranjo do próprio Naná, que em cima de um genuíno e elegante batuque ensina :"Aê rapaziada... não bata no instrumento, toque." Entram os cavacos de Maíra e Moema Macedo, acompanhados pelo trombone suingado de Deco, seguidos pelas costuras do violão de sete cordas de Alex Sobreira, que arma a cama para o pernambucano cantar: " Requebra, requebra, requebra que eu quero ver...". Tarde demais. Você estará deliciosamente contaminado por este "mantra-chiclete", que não sairá de sua mente por dias, além de uma tremenda vontade de requebrar. Duvida? Então deixe rolar "Pó de Chinelo", faixa 9, um xaxado do excelente flautista César Micheles que fará você definitivamente arrastar o pé. Ambas, jogadas de mestres. SINFONIAS & BATUQUES ARTISTA Naná Vasconcelos LANÇAMENTO independente QUANTO R$ 25, em média AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Música: Livro ilumina São Paulo de Adoniran Próximo Texto: Vampire Weekend foge do indie e vem para três shows no Brasil Índice | Comunicar Erros |
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